Albert Eckhout e o Novo Mundo - Profª Carla Mary S. Oliveira
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acaso, o fato é que haveria um motivo para que isso tenha acontecido. Qual seria, portanto, a<br />
intenção de <strong>Albert</strong> <strong>Eckhout</strong>?<br />
Em primeiro lugar, é importante que lembremos que além de pintor, <strong>Eckhout</strong> também<br />
era botânico, e nutria grande interesse pela natureza, suas plantas e frutos. Esse interesse,<br />
entre outras coisas, sem dúvida, teria motivado sua escolha por representar plantas cultivadas,<br />
mostrando não só frutos inteiros, como, também, muitas vezes, representando pedaços de<br />
exemplares maduros, incluindo suas sementes, galhos, folhas e floração, aspectos que não<br />
tinham grande valor comercial, mas se constituíam em preciosos relatos botânicos.<br />
Por outro lado, essa escolha está diretamente ligada à figura do Conde Maurício de<br />
Nassau. O jovem governador do Brasil holandês era originário de uma nobre família alemã e,<br />
de acordo com a tradição da época, estava obrigado a representar sua classe. Na Europa<br />
seiscentista, um homem com sua posição social deveria não só viver luxuosamente como<br />
também demonstrar erudição e apego pelas artes e ciências. Esse, sem dúvida, foi um dos<br />
principais motivos pelos quais Nassau patrocinou o trabalho de artistas como <strong>Albert</strong> <strong>Eckhout</strong>.<br />
O conde pretendia não apenas patrocinar a arte, mas também deixar para o mundo um<br />
relevante legado de conhecimentos científicos e botânicos. Nesse sentido, as naturezas mortas<br />
de <strong>Eckhout</strong> eram “parte de uma tradição apesar de sua escolha pelas plantas cultivadas não<br />
constituir uma norma” (WAGNER, 2002, p. 198).<br />
Para Maurício de Nassau, ainda havia um outro interesse na representação dessa<br />
natureza brasileira. O conde também era, além de nobre, um oficial do governo holandês,<br />
preposto a serviço da Companhia das Índias Ocidentais e, por isso, tinha a obrigação de<br />
fornecer lucros aos acionistas e diretores daquele empreendimento. Dessa maneira, essas<br />
representações tinham um valor que ia além das razões tradicionais e chegava ao aspecto<br />
econômico, pois serviam como uma espécie de campanha publicitária dos domínios da WIC<br />
na América portuguesa.<br />
<strong>Eckhout</strong> mesclou em suas naturezas mortas, frutos, frutas, plantas e até insetos. Em<br />
algumas telas, representou apenas plantas domesticadas, como repolho, melões e pepinos,<br />
enquanto em outras ele mostrou uma maior variedade de frutas e legumes, chegando a<br />
adicionar, em meio a todos esses elementos, a inflorescência de uma palmeira e até um<br />
gafanhoto, como se pode perceber nas telas intituladas Abóboras, abacates, buchas e<br />
gafanhoto e Cabaça, limões, maracujás, cacto e melões.<br />
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