20.11.2012 Views

Albert Eckhout e o Novo Mundo - Profª Carla Mary S. Oliveira

Albert Eckhout e o Novo Mundo - Profª Carla Mary S. Oliveira

Albert Eckhout e o Novo Mundo - Profª Carla Mary S. Oliveira

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

tempo inteiro essa é a imagem que <strong>Albert</strong> <strong>Eckhout</strong> transmite, essa é a realidade que ele<br />

constrói através de suas pinceladas, ratificando assim aquela ideia quinhentista do índio como<br />

um ser demoníaco e inferior.<br />

Fica explícita, nessas duas telas, a tentativa de <strong>Eckhout</strong> de atribuir, ou pelo menos<br />

ressaltar, a característica selvagem inerente ao índio, habitante nativo do <strong>Novo</strong> <strong>Mundo</strong>, assim<br />

como a tentativa de mascarar qualquer herança genética de característica selvagem da mais<br />

clássica mistura entre índios e brancos, a mameluca. Não é necessário ser perito em análises<br />

iconográficas e iconológicas para perceber a suavidade da tela e das características atribuídas<br />

à mameluca em contraste com o impacto causado pela representação da mulher tapuia,<br />

mostrada quase como uma cozinheira preparando um banquete onde o prato principal é a<br />

carne humana.<br />

Fato parecido ocorre quando comparamos as telas Homem Tapuia e Homem Mulato.<br />

Em Homem Tapuia, <strong>Eckhout</strong> posicionou em primeiro plano, em meio a uma vegetação<br />

exuberante, um índio tapuia de traços grosseiros. Podemos perceber que o índio tapuia<br />

aparece na tela usando alguns adornos e objetos tipicamente indígenas como, por exemplo, o<br />

cocar. A presença marcante desses adornos e objetos só confirma a imagem selvagem que<br />

coloca o índio Tapuia em posição de inferioridade com relação aos outros tipos étnicos<br />

representados. Sobre a paisagem, é possível dizer que ela completa essa imagem selvagem e<br />

incivilizada imposta ao tapuia, pois percebemos a presença de animais selvagens, como a<br />

cobra que aparece no canto direito da tela e a aranha posta no canto esquerdo. A fauna nos<br />

remete a uma mata fechada e não símbolos que apontem para uma possível relação destes<br />

personagens com o europeu.<br />

Já na tela Homem Mulato percebemos claramente a diferença nas alegorias usadas<br />

por <strong>Eckhout</strong>, agora elas nos remetem aos hábitos europeus e são bem mais familiares. Esse<br />

personagem já não tem mais o aspecto rude e selvagem que percebemos nos demais<br />

personagens representados na série de retratos etnográficos de <strong>Eckhout</strong>, pelo contrário, sua<br />

postura e vestimenta nos remetem aos hábitos e modos do homem branco. Ele está<br />

completamente vestido e traz consigo objetos e armas tipicamente europeus, a única<br />

característica que ele ainda preserva do mundo incivilizado é o fato de ter os pés descalços e é<br />

este fato que atesta a sua inferioridade em relação ao homem branco.<br />

Com estas comparações podemos perceber que apesar de representar as<br />

características físicas indígenas de forma fidedigna transformando assim, por uma via, o<br />

imaginário remanescente do século XVI que concebia o índio através de traços europeizados,<br />

<strong>Eckhout</strong> deixou transparecer em sua pintura o preconceito de uma época e sua sociedade e<br />

33

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!