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Albert Eckhout e o Novo Mundo - Profª Carla Mary S. Oliveira

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documento capaz de registrar a riqueza natural e étnica do Brasil e não mais só como uma<br />

simples ilustração, mas também como um meio de propaganda. Foi dessa maneira, que seu<br />

trabalho acabou por inaugurar uma nova concepção para a representação da natureza<br />

desconhecida tendo como principal expoente a representação do índio brasileiro, que passava<br />

a ser retratado com sua estrutura e características físicas reais.<br />

4.1 - <strong>Albert</strong> <strong>Eckhout</strong>, a manipulação de significados e a iconologia de suas<br />

representações<br />

Agora, é importante que observemos as telas de <strong>Albert</strong> <strong>Eckhout</strong>, por um outro<br />

prisma, de modo a perceber que elas também carregam uma variedade de fatores externos que<br />

influenciaram diretamente o resultado final de cada tela, além dos conceitos pessoais do<br />

artista que, por ser um europeu do século XVII, não escapa às convicções e pensamentos<br />

característicos da época, deixando transparecer em suas pinturas um certo preconceito com<br />

relação à cultura do habitante do <strong>Novo</strong> <strong>Mundo</strong>, estereotipando os costumes indígenas e<br />

contribuindo, nesse sentido, para a manutenção do imaginário criado durante o século XVI,<br />

que concebia o índio como um ser selvagem e incivilizado.<br />

É fácil perceber que as telas de <strong>Eckhout</strong> retratam os índios de uma forma até então<br />

nunca vista, pois a representação física desse indígena, feita por ele, corresponde de um modo<br />

mais objetivo à realidade. Em suas telas os índios têm suas características físicas retratadas<br />

com fidelidade e isso, de fato, fez nascer uma nova maneira de se pensar e entender o “outro”,<br />

ou seja, o homem do <strong>Novo</strong> <strong>Mundo</strong>, personificado na figura do índio brasileiro. Exatamente<br />

por isso as telas de <strong>Albert</strong> <strong>Eckhout</strong>, retratando a humanidade “desconhecida”, são documentos<br />

históricos extremamente importantes.<br />

O grande problema que identificamos, durante o período em que estudamos esse tema,<br />

com relação à obra de <strong>Eckhout</strong> é no que diz respeito à representação dos hábitos daquela<br />

gente, pois ele representou em suas telas os costumes indígenas de forma exagerada, fato que<br />

nos fez perceber a visão estereotipada que prevalecia então no pensamento europeu a respeito<br />

da cultura indígena, e isso contribuiu para a manutenção do imaginário até então existente,<br />

que entendia o índio como um ser selvagem e incivilizado por natureza, contradizendo assim<br />

a ideia de que teria sido <strong>Eckhout</strong> o grande responsável pela total transformação do imaginário<br />

até então vigente. Afinal, embora o índio, através das telas de <strong>Eckhout</strong>, tenha passado a ser<br />

retratado de forma fidedigna e não mais com traços europeus, ele continuou sendo concebido<br />

como um ser selvagem, pois em suas telas é recorrente a presença de símbolos que remetem<br />

ao grotesco, como por exemplo, o pé encontrado no cesto carregado pela mulher tapuia,<br />

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