20.11.2012 Views

Albert Eckhout e o Novo Mundo - Profª Carla Mary S. Oliveira

Albert Eckhout e o Novo Mundo - Profª Carla Mary S. Oliveira

Albert Eckhout e o Novo Mundo - Profª Carla Mary S. Oliveira

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

4. RETRATOS ETNOGRÁFICOS: A REPRESENTAÇÃO DOS TIPOS<br />

BRASILEIROS<br />

O imaginário europeu do século XVI a respeito do Brasil deve ser entendido por três<br />

aspectos básicos. Em primeiro lugar, trazia a ideia de uma paisagem edênica, semelhante a um<br />

paraíso terrestre sem males. Em segundo lugar, trazia o índio com feições europeias,<br />

renegando assim a sua estrutura física real. Por último, interpretava a tradição indígena, seus<br />

costumes e ritos, apresentando-os como demoníacos e incivilizados.<br />

<strong>Albert</strong> <strong>Eckhout</strong>, com sua obra, por sua vez, tanto etnográfica quanto natural, trabalhou,<br />

de acordo com o nosso pensamento, numa via de mão dupla, modificando certos aspectos<br />

desse imaginário e, ao mesmo tempo, ratificando outros. Suas telas, que traziam<br />

representações dos três tipos étnicos que, àquela época, habitavam o Brasil holandês, – índios,<br />

negros e europeus – são conhecidas hoje, em todo o mundo, pelo realismo conferido aos<br />

personagens que ocupam sempre o plano central da pintura e são representados em seu<br />

“ambiente” natural. Essas obras são consideradas, até hoje, por diversos pesquisadores, como<br />

agentes transformadores do imaginário europeu a respeito do Brasil e de seus habitantes.<br />

Em nossa concepção, porém, é bastante complexo atribuir esse título, no período<br />

anterior ao século XIX, às representações feitas por <strong>Eckhout</strong>, já que estas não se destinavam a<br />

apreciação do grande público e teriam sido feitas, originalmente, para decorar as enormes<br />

paredes do palácio de Vriburgh, pertencente ao Conde Maurício de Nassau, em Pernambuco.<br />

Segundo Rebecca Parker-Briennen (2002, p. 88), o salão desse palácio constituía um grande<br />

espaço para banquetes e recepções para embaixadores estrangeiros e as pinturas de <strong>Eckhout</strong><br />

completavam a magia do ambiente, impressionando e dando boas vindas aos visitantes e<br />

comensais da nobreza da terra que partilhavam do convívio do nobre alemão.<br />

Só a partir do século XIX, quando o Museu Nacional de Copenhague, na Dinamarca,<br />

passa a abrigar essa coleção, é que o público começa a ter acesso a essas representações. A<br />

partir de então, a Europa começa a confrontar seus pensamentos, ideias e imaginários,<br />

formados através das representações feitas pelos cronistas que estiveram no Brasil e de volta à<br />

Europa publicaram seus diários de viagem, com as representações produzidas por <strong>Albert</strong><br />

<strong>Eckhout</strong>. Dessa maneira, acreditamos que esse processo de transformação de imaginários só<br />

poderia ter ocorrido a partir do trabalho de <strong>Eckhout</strong> ao longo do século XIX.<br />

Assim, considerando que essas representações teriam transformado, a partir do século<br />

XIX, a maneira como o europeu interpretava e entendia o Brasil, podemos nos perguntar: em<br />

que sentido se observa essa transformação? <strong>Albert</strong> <strong>Eckhout</strong> é a representação típica do artista<br />

23

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!