Revista n.° 31 - APPOA - Associação PsicanalÃtica de Porto Alegre
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TEXTOSEm outras palavras, a tensão agressiva apenas <strong>de</strong>terminará um tipo <strong>de</strong>objeto criminógeno em caso <strong>de</strong> suspensão dos processos dialéticos. O eu per<strong>de</strong>,neste caso, seu estatuto próprio e não estamos mais no campo da linguagem.Com a prevalência da categorização em <strong>de</strong>trimento do objeto, não temoscomo situar um eu responsável pela ação que po<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vido à persistência datensão, <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> tal suspensão. Nesse caso, instaura-se o domínio da violência,pois não se trata mais <strong>de</strong> agressivida<strong>de</strong>.Os casos <strong>de</strong> agressivida<strong>de</strong> restringem-se aos domínios do eu e da ativida<strong>de</strong>pulsional, entendidos como alheios aos da violência e do crime. De fato,quem lida com esses domínios talvez nos <strong>de</strong>sse testemunho <strong>de</strong> um afazercaracterizado pela falta <strong>de</strong> um eu a quem dirigir a palavra. Uma vez que aagressivida<strong>de</strong> se restringe ao domínio do eu, a tensão agressiva tem lugar noslimites da linguagem e, portanto, dos processos dialéticos.A TENSÃO AGRESSIVA DOS PROCESSOS DIALÉTICOSNo texto Agressivida<strong>de</strong> em psicanálise, Lacan propõe-se a or<strong>de</strong>nar reflexõessobre a tensão <strong>de</strong> culpabilida<strong>de</strong>, a nocivida<strong>de</strong> oral, a fixação hipocondríacae o masoquismo primordial, “para disso tudo isolar a noção <strong>de</strong> uma agressivida<strong>de</strong>ligada à relação narcísica e às estruturas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecimento e <strong>de</strong> objetivaçãosistemáticos que caracterizam a formação do eu” (1948, p.118). Concordamoscom a relevância <strong>de</strong> pensar “a noção <strong>de</strong> uma agressivida<strong>de</strong> como tensão correlataà estrutura narcísica [...]” (1948, p.119). Embora não pretendamos abordar aquiesta estrutura, tratamos <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar a agressivida<strong>de</strong> como <strong>de</strong>corrente da i<strong>de</strong>ntificaçãoobjetivante e, nesta parte <strong>de</strong> nossa discussão, como tensão inerenteaos processos dialéticos.Continuamos com Lacan, consi<strong>de</strong>rando a agressivida<strong>de</strong> como significativa<strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento do eu (Cf. 1948, p.123). Esses <strong>de</strong>senvolvimentosocorrem mediante processos dialéticos. Dialética tem, para nós, o sentido geral<strong>de</strong> “arte do diálogo ou da discussão” 10 e, em especial, o <strong>de</strong> “<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>processos gerados por oposições que provisoriamente se resolvem em unida<strong>de</strong>s”11 . Enten<strong>de</strong>mos, nesse sentido, que uma i<strong>de</strong>ntificação po<strong>de</strong> ter caráterresolutivo, uma vez que com ela se obtenha síntese. Com isso, resolvem-seprovisoriamente, em unida<strong>de</strong>, processos gerados por oposições. Entre opostos,portanto, situamos o que Lacan chama <strong>de</strong> negativida<strong>de</strong> dialética.Ao falar sobre agressivida<strong>de</strong>, o autor diz:10Cf. Novo Aurélio, Dicionário Eletrônico, versão 3.0, Nova Fronteira, verbete “dialética”.11I<strong>de</strong>m.102