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Revista n.° 31 - APPOA - Associação Psicanalítica de Porto Alegre

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A AGRESSIVIDADE NOS LIMITES...“Essa tensão manifesta a negativida<strong>de</strong> dialética inscrita nas própriasformas em que se entranham no homem as forças da vida, epo<strong>de</strong>mos dizer que o talento <strong>de</strong> Freud <strong>de</strong>u a medida <strong>de</strong>la aoreconhecê-la como ‘pulsão do eu’ sob o nome <strong>de</strong> instinto <strong>de</strong> morte”(1950, p.143). Surge-nos, a partir <strong>de</strong>ssa citação, uma questão: apulsão teria como participar dos processos do eu senão fosse pelanegativa? Sabemos que Freud <strong>de</strong>dicou um texto importante aotema da negação, elaborado na época em que formulava teoricamentea instância psíquica chamada o eu, tendo chegado a precisõesimportantes sobre a pulsão com a noção <strong>de</strong> pulsão <strong>de</strong> morte.Enten<strong>de</strong>mos, com base no texto sobre a negação (1925, p.249-258), que as formações do eu se constituem pela referência a umanegativida<strong>de</strong> primordial. O autor dá a enten<strong>de</strong>r, a nosso ver, que apulsão participa dos processos do eu como referência primordial ecomo polarização negativa apta a gerar tensão.Eis a tensão, aliás, que encontra se<strong>de</strong> no corpo diante da perspectiva dapresença <strong>de</strong> outro corpo, e que o eu, por sua vez, se regozija em fazer retroce<strong>de</strong>r.Em todo caso, essa negativida<strong>de</strong> se encontraria na base da dita cisão doeu. O caráter difuso da prontidão corporal a que essa tensão dá lugar correspon<strong>de</strong>à in<strong>de</strong>finição característica da negativida<strong>de</strong> da qual ela se origina. De fato, qualquerexercício <strong>de</strong> linguagem nos mostra que a negativa <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia processos<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m lógica apenas <strong>de</strong> modo primário. Sua primarieda<strong>de</strong> está, por um lado,em inaugurar tais processos, mesmo por dispersão, <strong>de</strong>vido às aspirações própriasdas negativas à inconsistência. Por outro lado, sua primarieda<strong>de</strong> estácondicionada a que um exercício secundário venha permitir o <strong>de</strong>senvolvimentoem direção a uma resolução do processo lógico e dialético. Referimo-nos maisuma vez a questões em estado <strong>de</strong> elaboração, surgidas a partir da leitura, entreoutras, do texto <strong>de</strong> Lacan sobre o tempo lógico, que trata, a nosso ver, <strong>de</strong>consi<strong>de</strong>rar os limites e as possibilida<strong>de</strong>s do domínio do eu.Fica clara aqui, nos parece, a distinção entre os domínios da pulsão e doeu. Em princípio, diríamos nós, a pulsão não tem nada a ver com o eu ou comEros. A partir da irredutível falta <strong>de</strong> consistência e sentido da pulsão – suanegativida<strong>de</strong>, portanto – o eu entra em ação. A erótica própria da ação <strong>de</strong> formarunida<strong>de</strong>s mostra-se como potencial do eu alheio à pulsão. Esta última persistiráconstante, e negativamente vigente, como pulsão <strong>de</strong> morte. Entrementes, cadaformação do eu encarna, num certo sentido, essa negativida<strong>de</strong>.Seguimos Lacan na consi<strong>de</strong>ração da tensão agressiva como manifestação<strong>de</strong> uma negativida<strong>de</strong> dialética. Essa tensão promove ativida<strong>de</strong> por parte do103

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