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Revista n.° 31 - APPOA - Associação Psicanalítica de Porto Alegre

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ENEAOTILNesse aspecto, pontua como sendo um momento mítico a criação dosímbolo da negação, pois ele seria resultado da dissimetria existente entre duaspalavras encontradas no texto <strong>de</strong> Freud (1925): a aceitação e a expulsão. A<strong>de</strong>negação estaria associada, então, à gênese da inteligência e do posicionamentodo pensamento, ou seja, do julgar. Mas, o que estaria anterior ainda aessa divisão, seria a existência do <strong>de</strong>ntro e do fora, que po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r peloeu e não-eu, que será fundamental para o prosseguimento da discussão, porcolocar em jogo uma operação aparentemente banal: o que está no eu, o que foiaceito pelo eu, está <strong>de</strong>ntro; o que não está no eu está fora, foi expulso. Essassão duas palavras-chave do texto <strong>de</strong> Freud e <strong>de</strong> Hyppolite, aceitar (Bejahung) ouexpulsar (Ausstossung).Então, no texto freudiano está em pauta toda uma gama <strong>de</strong> pares <strong>de</strong>opostos, pares complementares como <strong>de</strong>ntro-fora, eu e não-eu, introjeção-expulsão,vida-morte, aceitação-negação, que são <strong>de</strong>stacados por Hyppolite. Trata-se<strong>de</strong> opostos facilmente reconhecíveis, e que serviriam à operação da<strong>de</strong>negação, na medida em que o produto <strong>de</strong>ssa polarida<strong>de</strong> é dissimétrico, ouseja, do produto <strong>de</strong>sses pólos <strong>de</strong> opostos há um resto, o símbolo da negação.E isso ocorre, pois é a <strong>de</strong>negação, do tipo “não é a minha mãe”, que está ligadaao exercício <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência do pensamento frente ao recalque.Essa in<strong>de</strong>pendência frente ao recalque, manifestada pela <strong>de</strong>negação, é oque me parece explicar as frases finais <strong>de</strong> Freud, encontradas no texto daDenegação, em que ele fala da inexistência do não no inconsciente, ao mesmotempo em que o reconhecimento do inconsciente por parte do eu se exprime nafórmula negativa. Lembro que estamos na segunda tópica.Lacan (1998b [1954]) elabora sua resposta ao comentário <strong>de</strong> Hyppolitepontuando, inicialmente, que uma simbolização primordial (afetivo) está relacionadacom a estruturação discursiva (intelectual) havendo, portanto, nesse cruzamento,uma ligação com a morte. É o encontro do Simbólico com o Real.Ele articula, nesse texto, os registros do Real, do Simbólico e do Imaginário,para propor, a partir <strong>de</strong> dois exemplos clínicos, o que seria relativo à<strong>de</strong>negação. Contrariamente à idéia, que se po<strong>de</strong>ria ter, <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>negaçãotivesse apenas relação direta com a palavra não, ele trabalha a <strong>de</strong>negação dandoa ela outras figurações.O primeiro exemplo é bem conhecido, é o caso do Homem dos Lobos,em que Lacan trabalha o episódio da alucinação do corte do <strong>de</strong>do mínimo. Ooutro caso trabalhado é o relato feito por Ernst Kris, psicanalista austríaco,estabelecido nos Estados Unidos, ligado à psicologia do eu. Ernst Kris publicouum artigo em que trabalhava o caso <strong>de</strong> um paciente que sofria <strong>de</strong> compulsão aoplágio, e que conta ao analista que, ao sair das sessões, após o meio-dia, ele127

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