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Revista n.° 31 - APPOA - Associação Psicanalítica de Porto Alegre

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ENEAOTILconceitos do juízo <strong>de</strong> existência e do juízo <strong>de</strong> atribuição. Digo que ele os retoma,pois são concepções que já havia trabalhado, tanto no Projeto para umapsicologia científica (1950[1895]), quanto no Caso Dora (1905). A esses doisjuízos, Freud articula toda uma série <strong>de</strong> <strong>de</strong>sdobramentos que têm relação como que estamos tratando.Desse texto, o que interessaria resumidamente precisar aqui seria a idéiada formação da noção <strong>de</strong> juízo, pois é através <strong>de</strong>ssa noção que Freud (1925)estabeleceu a ocorrência da suspensão do recalcamento. E isso é importante,pois é a partir daí que temos duas situações. Primeira: o juízo <strong>de</strong>ve atribuir ounão uma proprieda<strong>de</strong> a uma coisa; segunda: ele <strong>de</strong>ve admitir ou impugnar aexistência <strong>de</strong> uma representação na realida<strong>de</strong>, ou seja, o ser e o não-ser.No entendimento freudiano, o julgar, sinal do recalcado, serve tanto paraliberar os pensamentos, ou seja, para o exercício da vida intelectual, quanto énecessário para o <strong>de</strong>senvolvimento da formação do eu e do não-eu, ou seja, doeu e da realida<strong>de</strong>, vida e morte. O que fica bastante evi<strong>de</strong>nte, nesse aspecto, éque a polarida<strong>de</strong>, como a que existe entre o sim, pela aceitação, e o não, pelanegação, vai muito além: ela está atrelada à questão da pulsão <strong>de</strong> vida e dapulsão <strong>de</strong> morte, respectivamente. E o julgamento está ligado à pulsão <strong>de</strong> morte,pois é o que separa, diferencia. Ou seja, com o conceito <strong>de</strong> pulsão <strong>de</strong> morte,Freud pô<strong>de</strong> dar melhor formulação às questões relativas à criação do símbolo.Freud ilustrou esse texto, em seu início, apresentando o caso <strong>de</strong> umpaciente que disse: “Não! A figura que aparece no sonho não é a minha mãe!”.Freud compreen<strong>de</strong>u <strong>de</strong> imediato que o não nesse caso indicava, justamente, ocontrário, a presença, a afirmação. A figura que aparecia no sonho, por mais queo paciente esperneasse, se contorcesse sobre o divã, a luta era inglória, Freudsabia que lá estava ela, a santa. Tratava-se da mãe <strong>de</strong> seu paciente! Mais do quelamentar, o paciente, em princípio, não aceitaria essa idéia, por isso ela aparecenegada. E o juízo é <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong>ssa negação; ele é um sinal do recalcado.Então, na tradição da teoria psicanalítica encontramos muitas referênciasa respeito do não. Parece-me que po<strong>de</strong>ríamos estabelecer a seguinte distinção:existe um não gramatical, simples, em que uma coisa não é outra. E o nãoda gramática do inconsciente, que opera noutra lógica, que tem relação comuma posição subjetiva. Como no caso da paciente que referi acima, o problemaem dizer a “palavrinha não”, não estava aliado ao fato <strong>de</strong> falar a palavra não, ouem enunciar o significante não, o que estava em causa era outra dimensão: adimensão <strong>de</strong> uma operação, como ela mesma disse, uma negociação interna.Mais uma negação.Mas friso, também, que a perspectiva presente no senso comum <strong>de</strong> queaquilo que aparece no discurso com um não está, muito simplesmente, revelan-125

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