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Revista n.° 36 - APPOA - Associação Psicanalítica de Porto Alegre

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Jaime Bettsmensagens que liquidam e <strong>de</strong>gradam as experiências do sujeito. Para ele, segundoGagnebin, “o historiador materialista conta a história i<strong>de</strong>ntificando no passadoos germes <strong>de</strong> uma outra história, capaz <strong>de</strong> levar em consi<strong>de</strong>ração ossofrimentos acumulados e <strong>de</strong> dar uma nova face às esperanças frustradas” (Benjamin,1994, p. 8). Por outro lado, para Benjamin, as vivências precisam sernarradas e enraizadas no ouvinte, para que possam se transformar em experiênciaspropriamente ditas, articulando “passado e presente, indivíduo e tradição,passado individual e coletivo” (Kramer, 2008, p.17).Sendo a “faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> intercambiar experiências”, a “arte <strong>de</strong> narrar estáem <strong>de</strong>clínio”, afirma Benjamin. Comenta, nesse sentido, que os veteranos daPrimeira Guerra voltavam dos campos <strong>de</strong> batalha “mais pobres em experiênciascomunicáveis” (Benjamin, 1994, p. 197-198). A vivência do horror da barbárieten<strong>de</strong> a ser inenarrável, impossível <strong>de</strong> ser falada para um ouvinte e humanizadanessa troca simbólica com o outro.Como a arte procura expressar, mesmo diante do impossível, as experiênciasinenarráveis do horror?Em seu artigo A obra <strong>de</strong> arte na era da reprodutibilida<strong>de</strong> técnica, Benjamin(1994) examina algumas teses sobre como o “progresso” da técnica dascondições produtivas influencia as tendências evolutivas da arte, levando emconta que as mudanças nas condições da produção consomem mais tempopara se refletirem nos diversos setores da cultura.Benjamin argumenta que, embora a obra <strong>de</strong> arte sempre fosse reprodutível, aera da reprodutibilida<strong>de</strong> técnica representa um processo novo, no qual “mesmo nareprodução mais perfeita, um elemento está ausente: o aqui e agora da obra <strong>de</strong> arte,sua existência única, no lugar em que ela se encontra. É nessa existência única, esomente nela, que se <strong>de</strong>sdobra a história da obra” (Ibid., p. 167). Para o autor, “oaqui e agora do original constitui sua autenticida<strong>de</strong>” e que “a esfera da autenticida<strong>de</strong>,como um todo, escapa à reprodutibilida<strong>de</strong> técnica” (Ibid., 1994, p. 166).A autenticida<strong>de</strong> do original é da or<strong>de</strong>m do ato <strong>de</strong> criação. Um ato é simbólico,é sempre único; sua enunciação é singular, mesmo que repercuta eproduza efeitos, um a um, numa coletivida<strong>de</strong>.No ato analítico, a interpretação é o retorno autêntico no aqui e agora datransferência, na boca do analista, dos significantes recalcados na fala doanalisante. Nos termos <strong>de</strong> Benjamin, po<strong>de</strong>mos dizer <strong>de</strong> que não há análise semaura, e que a aura encontra seu ponto <strong>de</strong> ancoragem na interpretação, na transferênciada instância da letra, que articula o singular ao universal. A aura, paraBenjamin, “é uma figura singular”, “a aparição única <strong>de</strong> uma coisa distante, pormais perto que ela esteja” (Ibid., p. 168).44

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