12.07.2015 Views

Revista n.° 36 - APPOA - Associação Psicanalítica de Porto Alegre

Revista n.° 36 - APPOA - Associação Psicanalítica de Porto Alegre

Revista n.° 36 - APPOA - Associação Psicanalítica de Porto Alegre

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Jaime Bettsem que a articulação entre o pênis real que fecunda e a paternida<strong>de</strong> simbólicase <strong>de</strong>sfaz:De quem é o espermatozoi<strong>de</strong>, <strong>de</strong> quem é o DNA?O pênis e sua ereção fálica não são mais necessários para a fecundação,que po<strong>de</strong> ser feita higienicamente in vitro. O pai é dispensável nas produçõesin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, <strong>de</strong>sconhecido nas inseminações feitas comespermatozoi<strong>de</strong>s retirados <strong>de</strong> bancos <strong>de</strong> sêmen, assim como é um ilustre <strong>de</strong>sconhecidoem gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> famílias, Brasil afora.O discurso da ciência forclui o sujeito do suposto saber e em seu lugarcoloca o objeto do suposto saber. Somos todos reduzidos à condição <strong>de</strong> cobaiase <strong>de</strong> nossa fala somente interessa a informação buscada no protocolo emquestão. Escutar a narrativa das experiências do sujeito é, no fim das contas,uma perda <strong>de</strong> tempo, pois a prescrição do psicofármaco sedará o sofrimento.Quais são os efeitos <strong>de</strong>ssa exclusão (forclusão) do sujeito nas relaçõesque estabelecemos com os outros? – pergunta-se Hassoun (1997). O autorafirma que, na paixão, o sujeito é capturado pelo outro a ponto <strong>de</strong> se <strong>de</strong>ixar<strong>de</strong>spossuir <strong>de</strong> sua subjetivida<strong>de</strong> pela imagem apaixonante na qual ele é a presa.Na melancolia, o sujeito é tragado pelo terror e espanto diante <strong>de</strong> sua própriaindignida<strong>de</strong>, mergulhando num abismo <strong>de</strong> perplexida<strong>de</strong>, apatia e cruelda<strong>de</strong> queo <strong>de</strong>spossui <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>sejo, <strong>de</strong> sua fala e <strong>de</strong> sua voz, dando voltas infinitamenteem seu enigmático <strong>de</strong>sastre interior.No caso do ódio, o sujeito que é sua presa acaba <strong>de</strong>vorado pelo horrorque o outro lhe suscita e passa obstinadamente a tentar <strong>de</strong>struir essa supostacausa <strong>de</strong> sua indignida<strong>de</strong>. Obsedado por essa i<strong>de</strong>ia, o sujeito persegue portodos os lados o obscuro e estranho objeto <strong>de</strong> seu ódio, para melhor <strong>de</strong>struir ooutro. Primeiro, o outro estrangeiro, portador do significante da diferença, e,portanto, invasor em seu território narcísico. Progressivamente, o círculo <strong>de</strong> ódiovai se estreitando aos mais próximos, atingindo familiares, bem como a si mesmo(Hassoun, 1997, p. 13-14). Tal como no conto <strong>de</strong> Poe mencionado acima.No ódio ao estranho-estrangeiro, seja pela exacerbação do imaginárioespecular nas relações sociais, seja pelo surto alucinatório <strong>de</strong> retorno ao real daalterida<strong>de</strong> simbólica forcluída, as consequências são mortíferas.Consequências subjetivas e sociais do discurso da ciência e tecnologiatransmitidas pelo artistaTalvez tenha sido um artista quem melhor captou a <strong>de</strong>stituição do sujeitodo suposto saber e a promoção do objeto ao estatuto <strong>de</strong> suposto saber em seulugar, assim como a exclusão do sujeito das relações sociais e sua coisificação,juntamente com a promoção do objeto-mercadoria-fetiche ao lugar <strong>de</strong> primazia52

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!