Diplopia após injeção <strong>de</strong> toxina botulínica tipo A para rejuvenescimento facial185INTRODUÇÃOAtoxina botulínica tipo A (TxBA) tem sido amplamenteusada para melhora das linhas faciais<strong>de</strong> expressão hipercinéticas nos últimos anos.Acompanhando o aumento exponencial do usoda TxBA para fins estéticos, houve também o aumento<strong>de</strong> complicações do uso <strong>de</strong>sta (1) . Dor no local <strong>de</strong> injeção,e<strong>de</strong>ma e equimose po<strong>de</strong>m ocorrer, e geralmente são<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da técnica utilizada e não <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>radascomo complicações (2) . Encontramos na literaturaapenas um relato <strong>de</strong> 3 casos <strong>de</strong> diplopia associada aouso cosmético da TxBA para rejuvenescimento facialna Inglaterra em 2006 (3) .Em nosso relato, <strong>de</strong>screvemos quatro pacientesque apresentaram queixa <strong>de</strong> diplopia após a aplicação<strong>de</strong> TxBA para rejuvenescimento facial entre os anos <strong>de</strong>2007 e 2010.Relato <strong>de</strong> casosEntre os anos <strong>de</strong> 2007 e 2010 foi encaminhado aoDepartamento <strong>de</strong> Ortóptica do Hospital Ver para realização<strong>de</strong> teste ortóptico, quatro pacientes que apresentaramqueixa <strong>de</strong> diplopia alguns dias após a injeção <strong>de</strong>TxBA na face para fins <strong>de</strong> rejuvenescimento.As pacientes apresentavam, no momento do exame,a queixa <strong>de</strong> diplopia sem estrabismo aparente e,somente após a realização do teste <strong>de</strong> cobertura alternadonas diversas posições diagnósticas do olhar foi constatadoestrabismo <strong>de</strong> pequeno ângulo com incomitância.As duas primeiras pacientes não foram entrevistadas,pois não foram localizadas.As duas últimas pacientes, que fizeram o exameno mês <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2010, foram contatadas três semanasapós o teste ortóptico e participaram <strong>de</strong> uma entrevistasemidirigida. As perguntas realizadas, assim como asrespostas estão na Tabela 1.Caso 1Ida<strong>de</strong>: 42 anos;Sexo: feminino;Data do exame ortóptico: janeiro <strong>de</strong> 2007;Queixa principal: “visão dupla” há 25 dias;História da doença atual: Chegou a consulta relacionandoa injeção com a diplopia, iniciada 5 dias após ainjeção da toxina botulínica;História patológica pregressa: Nega diabetesmellitus, hipertensão arterial sistêmica, trauma cranianoe outros sintomas associados.Exame clínicoAcuida<strong>de</strong> visual: 1,0 em cada olho;Posição anômala <strong>de</strong> cabeça: mantinha o queixoelevado;Teste <strong>de</strong> cobertura simples e alternado com prismaem 9 posições diagnósticas à distância <strong>de</strong> 4 m:ET4 D ET8 D HTE6 Dorto ET6 D , HTE 2 D HTE4 Dorto E2 D ortoET= esotropia, E= esoforia, HTE= hipertropia esquerda,O= ortotropiaTeste <strong>de</strong> cobertura simples e alternado com prismaem posição primária para perto: ortofórica;Hipótese diagnóstica: paresia <strong>de</strong> músculo oblíquoinferior direito.Caso 2Ida<strong>de</strong>: 35 anos;Sexo: feminino;Data do exame ortóptico: abril <strong>de</strong> 2008;Queixa principal: visão distorcida há 15 dias;História da doença atual: cinco dias após a injeçãoda TxBA;História patológica pregressa: Nega diabetesmellitus, hipertensão arterial sistêmica, trauma cranianoe outros sintomas associados;Exame clínicoAcuida<strong>de</strong> visual: 1,0 em cada olho;Posição anômala <strong>de</strong> cabeça: não utilizava;Teste <strong>de</strong> cobertura simples e alternado com prismaem 9 posições diagnósticas à distância <strong>de</strong> 4m;HTD6 D ORTO ORTOHTD4 D ORTO ORTOHTD2 D ORTO ORTOHTD= hipertropia direita, O= ortotropiaHipótese diagnóstica: paresia <strong>de</strong> músculo oblíquoinferior esquerdo.Caso 3Ida<strong>de</strong>: 60 anos;Sexo: feminino;Data do exame ortóptico: abril <strong>de</strong> 2010;Queixa principal: “visão dupla” há uma semana.História da doença atual: chegou ao exame relacionandoa injeção com a diplopia, cinco dias após aRev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 184-7
186Rassi MMO, Santos LHBTABELA 1Perguntas realizadas às pacientes casos III e IV (as do caso I e II não foram localizadas na época <strong>de</strong>ste trabalho).Perguntas:1) Quantos dias após a aplicação da TxBA você começou a ter visão dupla?2) Voce massageou o local <strong>de</strong> aplicação após a injeção?3) Foi realizado o mesmo procedimento estético na face no mesmo dia?4) Foi a primeira vez que você recebeu injeção <strong>de</strong> TxBA?5)Voce fez uso dos óculos com prismas que foram recomendados?6) Quantos dias após o inicio da visão dupla, você passou a enxergar único?Pergunta 1 Pergunta 2 Pergunta 3 Pergunta 4 Pergunta 5 Pergunta 6Caso III Cinco dias Não Não Sim Sim 29 diasCaso IV Cinco dias Não Preenchimento labial Não Sim 25 diasinjeção <strong>de</strong> toxina botulínica;História patológica pregressa: Nega diabetesmellitus, hipertensão arterial sistêmica, trauma cranianoe outros sintomas associados.Exame clínicoAcuida<strong>de</strong> visual: 1,0 em cada olho;Posição anômala <strong>de</strong> cabeça: não utilizava;Teste <strong>de</strong> cobertura simples e alternado com prismaem 9 posições diagnósticas à distância <strong>de</strong> 4m;ET6 D E(T)6 D ET 6 DET12 D E(T)12 D ET12 DET 12 D E(T)12 D ET 12 DET= esotropiaTeste <strong>de</strong> cobertura simples e alternado com prismaem posição primária para perto: E’6 D (E= esoforia);Hipótese diagnóstica: paresia <strong>de</strong> músculos retolaterais.Caso 4Ida<strong>de</strong>: 46 anos;Sexo: feminino;Data do exame ortóptico: abril <strong>de</strong> 2010;Queixa principal: “visão dupla” há três dias;História da doença atual: aplicação <strong>de</strong> toxinabotulínica na face há oito dias e após três dias iniciou adiplopia.História patológica pregressa: usa ansiolítico (nãose lembra qual);Exame clínicoAcuida<strong>de</strong> visual: 1,0 em cada olho;Posição anômala <strong>de</strong> cabeça: não utilizava;Teste <strong>de</strong> cobertura simples e alternado com prismaem 9 posições diagnósticas à distância <strong>de</strong> 4m;ET6 D E(T)6 D ET6 DET6 D E(T)6 D ET 6 DET 6 D E(T)6 D ET 6 DET= esotropia, E (T)= esotropia intermitenteTeste <strong>de</strong> cobertura alternado com prisma em posiçãoprimária para perto: ortofórico;Hipótese diagnóstica: paresia <strong>de</strong> músculos retoslaterais;DISCUSSÃOA literatura relata casos <strong>de</strong> diplopia em pacientesque receberam aplicação <strong>de</strong> TxBA para distoniamuscular (4) e para tratamento do estrabismo. Entretanto,encontramos um único relato <strong>de</strong> diplopia após injeçãoda TxBA para fins <strong>de</strong> rejuvenescimento facial (3) . Estesautores relatam 3 casos <strong>de</strong> diplopia nos quais um foi<strong>de</strong>vido à paresia <strong>de</strong> oblíquo inferior <strong>de</strong> um olho e outrosdois <strong>de</strong> paresia bilateral <strong>de</strong> oblíquo inferior. Estes autoressugerem que no termo <strong>de</strong> consentimento assinadopelo paciente seja incluída a diplopia como um efeitocolateral.As participantes do nosso relato encontram-se nafaixa etária entre 35 e 60 anos. Três apresentaram a queixa<strong>de</strong> diplopia, sem estrabismo aparente, cerca <strong>de</strong> cincodias após o uso <strong>de</strong> TxBA com fins estéticos. Uma apresentouqueixa <strong>de</strong> visão distorcida. Nas medidas <strong>de</strong> ângulodo estrabismo em posições diagnósticas todas apresentarammicro estrabismo paralítico, sendo duas pordéficit da função do músculo oblíquo inferior e duas pordéficit <strong>de</strong> função <strong>de</strong> músculo reto lateral. A provávelRev Bras Oftalmol. 2012; 71 (3): 184-7
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