Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAEnviados nada especiaisRogério Christofoletti em 13/06/2006Não é exagero dizer que milhares de jornalistasse acotovelam nas ruas da Alemanha caçando notíciaspara a cobertura da Copa do Mundo. Do Brasil, centenasde profissionais afivelaram suas malas e cruzaramo Atlântico atrás da redondinha. De Santa Catarinamesmo, quase ninguém foi, mesmo o estado se gabandode ser o mais alemão do país... Pra não dizer que aimprensa catarinense deixou de cobrir a Copa, dois nomesconhecidos da imprensa local se deslocaram paraa Europa: Roberto Alves, comentarista esportivo derádio e TV e colunista do Diário Catarinense, e CacauMenezes, colunista social do mesmo jornal...Devidamente instalada em terras germânicas,a dupla passou a fazer das suas. Cacau “deu sorte” eencontrou na fila de credenciamento algumas celebridadesdo esporte bretão. O ex-técnico argentinoCesar Luiz Menotti e o craque do Barcelona SamuelEto’o. Gostou do primeiro, mas torceu o nariz para osegundo. “Eto’o é extramente mascarado. Não faloucom ninguém, não olhou pra ninguém, sequer devolveuos cumprimentos. Quando muito deixou que euo fotografasse. Parecia um rei” (DC, 5/6). Mas umapergunta me assalta: Por que Eto’o deveria demonstrartanta simpatia, se não conhece o colunista?Desde o domingo, 4, os dois abastecem os veículosdo grupo com o que se espera que seja uma coberturacom sotaque catarinense. Entretanto, a se julgar pelomaterial que vêm mandando para os telejornais locais epara suas colunas, o público vai sofrer. Provincianismo,amadorismo e deslumbramento gratuito permeiam falase textos dos enviados, nada especiais.Antes de embarcar para a Alemanha, CacauMenezes despediu-se dos colegas de trabalho com umtexto em sua coluna diária. Lembrou que na Copa anteriorse sentiu injustiçado por não ter sido convocadopara a cobertura. “Sem mover um palito, fui chamado,agora (...) Surpreso? Não. Trabalhei para isso”. Mesmonão sendo repórter da área nem especializado no tema,o colunista foi chamado e, nitidamente agradecido,prometeu empenho aos colegas que ficaram. Ainda em3 de junho, Roberto Alves não deixou por menos: “Vamosna certeza de fazer o melhor, trazendo a visão deSC na Copa”.***Roberto Alves relatou sua chegada a Frankfurt.“Já encaramos um desafi o desta monta, e estaserá mais uma cobertura diferenciada. Nos preparamospara isso”. Acho que não. Em uma de suasparticipações no Jornal do Almoço, na TV, o jornalistamostrava um show popular com dançarinasbrasileiras. Roberto Alves estendeu um microfonepara uma anônima e perguntou: “O que você estáachando?”. A entrevistada respondeu em alemão, e orepórter arregalou os dois olhos. Ele retorquiu numinglês macarrônico: “Beautifol, não?” A entrevistadafalou mais algumas frases e Roberto Alves voltou-separa a câmera e chamou o estúdio. Isso é que é preparo:vai à Alemanha sem falar alemão nem inglês.***No terceiro dia em Königstein, Roberto Alvesnão pôde mais se conter: “Estou me sentindo poderoso.Por onde passamos, com traje de cor amarela, com Brasilescrito, é uma correria. Autógrafos? Estou começandoa ficar cansado”. Subiu à cabeça, rapidinho...http://www.univali.br/monitor 60
Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAMais contido, Cacau Menezes se limitou a cobriro centro de imprensa em Munique. Conversacom jornalistas, mostra a construção de cenários deoutras emissoras, focaliza crachás e plaquinhas nasportas. Detalhes realmente imprescindíveis...***Qual a distância entre jornalismo e tietagem?Para Cacau Menezes, pouco separa as duas coisas.Na edição de 7 de junho do Diário Catarinense,voltou a falar que deu sorte ao testemunhar a chegadado presidente da Fifa, Joseph Blatter, no centrode imprensa. Não se conteve desta vez e enviou umafoto do momento. Mesmo absolutamente desfocada,o DC reproduziu. Ê, beleza!No dia 9, Cacau Menezes clicou o comentaristada Rede Globo e ex-jogador, Casagrande. Masprecisava ir até a Alemanha pra fezr isso?se pensar do que depende uma boa cobertura internacional.O que os enviados estão produzindode material especial? Qual o diferencial de seuscolegas que por aqui acompanham as agências denotícias? Cadê o sotaque catarinense nas matérias?Por que só se resumem a cobrir o centro deimprensa e a movimentação dos demais jornalistas?Por que não entrevistam os jogadores nacionaisou de outras seleções? Que tipo de acréscimoseus trabalhos trazem aos suplementos esportivosveiculados diariamente por aqui? Houve planejamento?Cobertura internacional é coisa séria. É coisacara. E custa muito mais do que passagens aérease diárias em euro. Pode custar a credibilidadede jornais e jornalistas... Mandar enviados nadaespeciais pode custar muito, muito caro mesmo...No dia 11, clicou Galvão Bueno e Falcão almoçando.O estilo da fotografia pode ser chamadode fl a grante-norturno-desfocado. O DC tambémpublicou o registro...***Os enviados especiais da RBS de Santa Catarinanão se dão por vencidos e sequer se envergonhamdas gafes que cometem por lá. Roberto Alves ouvea sirene da Polícia e saca o passaporte e ensaia um“desculpe” em alemão. Era engano. Cacau Menezesconta que cumprimentou a mãe do tenista Gugaduas vezes, jurando que era Alice Kuerten. Tambémera engano.***Uma semana apenas de leitura das colunasdesses profissionais na Europa é o bastante parahttp://www.univali.br/monitor61