Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAJoel Minusculi em 17/03/2007O caso Gabrielliem duas perspectivasDentre os tópicos de maior repercussão nosjornais, a violência está em alta. As manchetes refle tem uma realidade com requintes de crueldadee elementos só vistos em literatura de terror.Cada episódio desses desperta uma torrente desentimentos em todos os envolvidos, inclusive naimprensa.Casos como o da menina Gabrielli têm osprincipais tópicos relevantes para a imprensa:com os catarinenses, tem o caráter da proximidade;pelas descrições, possui o impacto; pelo fatode estar relacionado com segurança e pela procurado público pelo desdobramento, há o interessepúblico; e, o principal, o caráter negativo, oqual os manuais de jornalismo pregam como umdos mais relevantes neste tipo de notícia - porém,como abordado no diagnóstico da Edição 108,esta tendência não predominou nos jornais.Dois tipos de abordagemGabrielli Cristina Eicholz foi uma das vítimasrecentes da violência. A menina, com apenasum ano e oito meses, foi violentada e estranguladaem 03/03. Além da brutalidade, outro pontochamou a atenção: o corpo foi encontrado dentrode uma pia batismal, em uma igreja, na cidade deJoinville.Os jornalistas são humanos e, como tais,não são isentos de sentimentos. O problema entãosurge em como publicar o caso, entre ser totalmentefrio em um lead padrão ou pontuar odiscurso com o máximo de detalhes, para colocaro leitor na atmosfera dos envolvidos. O primeiroé o mais prático, porém o menos enriquecedor. Jáo segundo, sem cuidado, pode chegar ao extremodo sensacionalismo.Pela peculiaridade e violência do caso, todaa mídia local, nacional e, até mesmo, internacionalabordou o caso. Mas foi através da análise dosdois principais jornais da cidade onde o fato ocorreu– A Gazeta de Joinville (semanal) e A Notícia(diário) - que a diferença de tratamento foi perceptível.BarbárieA Gazeta de Joinville carrega em seu slogan“informação com isenção”. Porém, em sua ediçãosemanal de 07 a 11/3, logo na primeira página,trata o acontecido como “Barbárie” - uma claratomada de posição. Na chamada de capa, da formacomo os verbos foram conjugados, houve umanarração detalhada, ao estilo do jornalismo literário.Além disso, a matéria interna “Criança vaià igreja e é morta” é um texto sem vozes, em quenão foi citada nenhuma fonte de informações.ViolênciaO jornal A Notícia, em sua edição de 04/03,publicou o caso de “violência” numa pequena chamadade capa. Na parte interna, tratou o assuntona forma de uma matéria padrão, do “quem, oque, como, quando e onde”. Na edição do dia 05,o periódico dedicou manchete e destaque parao caso. Nesta ocasião, os textos foram baseados,http://www.univali.br/monitor 76
Ética e mercado no jornalismo catarinenseMONITOR DE MÍDIAprincipalmente, no depoimento da mãe de Gabrielli.Frases de impacto e de apelo estavam emevidência nos títulos e linhas de apoio.Durante a semana, entre 06 e 10/3, as investigaçõesacerca do crime abriram a editoria de“Segurança” no AN. Neste período, o jornal publicouno topo da página uma foto de Gabrielli,com sua data de nascimento e morte. As matériasdesse período cobriram todos os detalhes, desde aconcentração de esforços de toda a polícia do Estadoaté a mobilização nacional.Menores e a éticaEm duas situações, o jornal destacou um suspeitonos títulos: “Polícia pede exame de DNA aadolescente”, em 08/03, e “Polícia suspeita que ummenor matou Gabrielli”, em 09/03. Apesar de nãodivulgar o nome do acusado, a ação da imprensaem busca de um culpado não costuma surtir umefeito positivo – similar ao caso Juliana, objeto deanálise do diagnóstico 43. Prova disso é a matériapublicada no dia 14/03 no portal G1: “Menor contadrama de ter sido suspeito de matar menina”É delicado o fato de o jornal ter deixado explícitoem um título que um “menor” está envolvidono caso, pois a retomada da discussão sobre amaioridade penal ainda é recente no país – alémde já anunciar um provável culpado antes do fimdas investigações. O típico jornalismo que acusae condena. Em alguns casos, a resposta policial aessa atitude é o silêncio, como aconteceu no casode Gabrielli, quando as autoridades tentaram preservardados estratégicos.No domingo, dia 11/03, o assunto deixoude ser destaque no AN. O jornal relembrou outroscasos que envolveram crianças no Estado. Ocaso Gabrielli esteve presente numa pequena nota.Já na segunda-feira, dia 12/03, nada sobre o casoconstou no periódico.Com a prisão do pedreiro Oscar Rosário -réu confesso -, no dia 13/03, A Notícia dedicoumanchete e destaque em “Segurança”. O tratamentográfi c o da foto voltou, assim como um quadrocom a reconstituição do caso. De teor descritivo,o texto relatou como foi efetuada a prisão. Outramatéria abordou o sentimento de “alívio” dos paiscom a prisão do culpado.No dia seguinte, o AN detalhou a reconstituição.Em duas páginas, descreveu os trabalhos epublicou um infográfico do depoimento de Rosário.Além disso, mesmo com o caso resolvido pelaprisão do réu confesso, o jornal levantou 10 questõessem respostas do caso Gabrielli - um pontopositivo no jornalismo investigativo.Montanha russaNesta análise, foi possível perceber como umcaso “quente” repercute nos jornais e o tratamentodisposto. Quando o impacto inicial do sentimentodos envolvidos deu lugar à burocracia das investigações,foi nítido o processo de “esfriamento” danotícia, sendo substituída por outros casos “quentes”.Com a resolução do caso, o assunto voltou aser destaque e, consequentemente, ganhou evidênciano jornal – como em uma montanha-russa eseus picos de emoção.Já a discussão dos limites da linguagem literáriae do simples reportar pode ser conferido notexto Da crônica policial ao texto sensacionalista.Plim PlimEm Santa Catarina, a Rede Brasil Sul deTelevisão (RBS) é afi l iada à Rede Globo de Televisão.Nesta parceria, o caso da menina mortahttp://www.univali.br/monitor77