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Setembro <strong>2015</strong><br />
História<br />
Lusitano de Zurique<br />
25<br />
tra a massa uniforme e<br />
Foi em ambiente<br />
consideráveis alterações,<br />
que seria o Conselho a<br />
inerte dos cidadãos. É<br />
crispado que decorreu<br />
com a redução do nú-<br />
decidir, não podia ter sido<br />
necessário repelir ener-<br />
esta Assembleia. «Houve<br />
mero dos conselheiros,<br />
mais clara. Era o mesmo<br />
gicamente o anarquismo<br />
excessos de linguagem<br />
alegadamente para mel-<br />
que dizer que entravam<br />
e o populismo, que con-<br />
de parte a parte» 5 , saídas<br />
horar a sua operaciona-<br />
os dois primeiros e saía o<br />
duzem<br />
inevitavelmente<br />
da sala intempestivas, o<br />
lidade, verificando-se, no<br />
terceiro (…). A mesa indi-<br />
à catastrófica dissolução<br />
não reconhecimento das<br />
cômputo final, uma fran-<br />
ca o comandante Martins<br />
do Estado, numa fase<br />
conclusões,<br />
demissões<br />
ca desvantagem para os<br />
Guerreiro para ler e pôr<br />
de desenvolvimento da<br />
e renúncias a cargos. Há<br />
gonçalvistas. Um dos mili-<br />
à votação o comunicado<br />
sociedade em que, sem<br />
referências a acusações<br />
tares da Marinha, Martins<br />
final, mas ele não aceita,<br />
Estado, nenhum projecto<br />
pessoais que no calor da<br />
Guerreiro, dando mostras<br />
nem concorda que se cha-<br />
político é viável» 3 .<br />
discussão não terão sido<br />
de que, com aquela As-<br />
me Assembleia do MFA ao<br />
Costa Gomes,<br />
porém, não apreciou a publicidade<br />
que os promotores<br />
quiseram dar ao Documento.<br />
Reconheceu, mais<br />
tarde, que concordava<br />
com o seu teor, mas não<br />
com a forma arquitectada<br />
para o divulgar. Por<br />
isso, na reunião de 10<br />
de Agosto do Directório 4 ,<br />
com Vasco Gonçalves, votou<br />
a favor da suspensão<br />
dos conselheiros da Revolução<br />
que o assinaram.<br />
Foi, porém sol de pouca<br />
dura já que foram reintegrados<br />
na sequência da<br />
Assembleia do MFA de<br />
Tancos, a 5 de Setembro,<br />
e que veio revelar-se decisiva<br />
para o virar de página<br />
no que ao chamado<br />
gonçalvismo respeita.<br />
3 Adelino Gomes<br />
e José Pedro Castanheira,<br />
Os dias Loucos do<br />
PREC…, p. 243.<br />
4 Organismo de<br />
cúpula eleito pelo CR,<br />
que integrava o PR, o<br />
PM e comandante do<br />
COPCON.<br />
evitadas. Da acta desta<br />
Assembleia, existente na<br />
Torre do Tombo, não se<br />
consegue extrair o espírito<br />
de disputa e de crispação<br />
a que alguns dos que estiveram<br />
presentes se referem.<br />
O general Costa<br />
Gomes, procurando talvez<br />
induzir na assistência<br />
a mudança que pressentia<br />
e que se viria efectivamente<br />
a dar, anunciou: «O<br />
Povo já não aceita a condução<br />
do MFA» 6 , indo, no<br />
fundo, ao encontro da frase<br />
de ordem lançada mês<br />
e meio antes pelo PS, na<br />
grande manifestação da<br />
Alameda D. Afonso Henriques:<br />
«O povo não está<br />
com o MFA».<br />
Foi também nesta<br />
Assembleia, que o Conselho<br />
da Revolução sofreu<br />
5 António Ramalho<br />
Eanes em entrevista<br />
ao autor…<br />
6 Costa Gomes in<br />
Sousa e Castro, Capitão<br />
de Abril, Capitão de<br />
Novembro… p. 211.<br />
sembleia, algo de profundo<br />
mudara, afirmou: «O<br />
MFA morreu. Vamos ver<br />
o que nasceu» 7 . Também<br />
alguns moderados saíram<br />
do CR, designadamente<br />
Vítor Alves, Melo Antunes<br />
e Vítor Crespo, ainda que<br />
os dois primeiros reentrassem<br />
na reunião do<br />
Conselho que decorreu<br />
no dia 8 8 . Concretamente<br />
sobre estas exclusões,<br />
será interessante transcrever<br />
uma passagem do<br />
livro, Quinhentos e setenta<br />
e nove dias de Revolução,<br />
cujo autor, Vaza<br />
Pinheiro, este presente:<br />
«Alguém perguntou se<br />
Melo Antunes, Vítor Alves<br />
e Costa Martins farão<br />
parte do novo CR. A resposta<br />
do próprio presidente<br />
[Costa Gomes] de<br />
7 Acta da AMFA<br />
de 5 de Setembro em<br />
Tancos. (Arquivo do CR<br />
- ANTT)<br />
8 Acta da reunião<br />
do CR de 8 de Setembro<br />
de 1975. (Arquivo do CR<br />
- ANTT)<br />
que ali se passou. A barafunda<br />
é total. Sucedem-se<br />
intervenções sem nexo,<br />
nem controlo, reflectindo<br />
cada uma o que se passava<br />
na alma de cada um.<br />
Golpada, golpada, era a<br />
palavra mais ouvida (…).<br />
Como nota final, apenas<br />
isto: nenhum comunicado<br />
foi lido e posto à votação,<br />
portanto não houve Assembleia<br />
de Tancos, mas<br />
de tamancos» 9 .<br />
O cerco às forças<br />
políticas e militares mais<br />
radicais ia-se fechando,<br />
contribuindo para a criação<br />
das condições que<br />
potenciaram o 25 de Novembro<br />
de 1975 - que colocaria<br />
um ponto final na<br />
revolução iniciada a 25 de<br />
Abril de 1974.<br />
9 Vaza Pinheiro,<br />
Quinhentos e setenta e<br />
nove dias de Revolução<br />
– retrato de uma época.<br />
Porto: Campo das Letras,<br />
1999, p. 259.