Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
36 Lusitano de Zurique Literatura<br />
Setembro <strong>2015</strong><br />
Conversa insólita<br />
Ria, porque rir faz bem. Ria, nem que seja<br />
da minha estupidez. Ria e goze a vida...<br />
Carmindo de<br />
Carvalho<br />
Um fulano que eu conheço muito bem, muito melhor<br />
que ninguém, disse-me que não está acomodado com<br />
as coisas da vida, somente resignado, hoje levantou-se<br />
bem disposto e como de costume foi logo para a casa<br />
de banho.<br />
Sentou-se na sanita e como ia empanzinado fez logo<br />
o que lhe apeteceu. Largou uma grande, sonora e<br />
estrondosa artilharia.<br />
Vindo do quarto ali mesmo a poucos passos ao lado,<br />
ouviu a voz da mulher a dizer:<br />
“Está no armário!”<br />
“O quê? Ah! sim. Recebido e entendido “, pensou.<br />
Depois de ter largado a carga e por isso mesmo já bem<br />
aliviado, regressou ao quarto e perguntou à mulher:<br />
“O que disseste?”<br />
“Que está no armário.’’<br />
“O quê?”, tornou a perguntar, mauzão a esticar o gozo<br />
daquele momento.<br />
“O papel higiénico.”<br />
“Pois sei muito bem que está no armário, mas o que tu<br />
ouviste não foi eu a perguntar pelo papel, mas sim o<br />
meu cu a largar um grande peido.”<br />
“Ah! Seu grande porcalhão.”<br />
“Porquê? Se estava no sítio certo e por enquanto<br />
ainda não paga imposto. Disso ainda a “Troika” não se<br />
lembrou de impor.”<br />
Resta dizer que ela um dia foi ao otorrino e ele disse<br />
lhe que tinha um pequeno buraco num ouvido e que<br />
tinha de ser operada. Acagaçada, nunca mais lá voltou.<br />
Palavras para quê?<br />
Com esta conversa mal cheirosa, você que é o meu<br />
leitor neste momento deve de estar a pensar:<br />
“E ele que até se estava a portar bem até aqui vem<br />
agora borrar toda a escrita.” Pois bem. Seja um pouco<br />
benevolente e pense que esta vida é curta e com um<br />
ai vimos, e com outro ai vamos. Ria, porque rir faz<br />
bem. Ria, nem que seja da minha estupidez. Ria e<br />
goze a vida.<br />
Não se feche num casulo carrancudo, medonho e<br />
atrofiante. Tomar-se-á num claustrofóbico de drogas<br />
dependente.<br />
Também lhe digo que em nenhum momento leu,<br />
porque eu não escrevi, por isso não lhe prometi, que ia<br />
encontrar uma obra certinha, ajuizada, arrumadinha.<br />
Um dia quando a selecção portuguesa de futebol ia<br />
partir de viagem para disputar um europeu, ao Sr.<br />
Herman José a quem muitos consideram um grande<br />
cómico, ouvi-lhe dizer:<br />
“Rapazes ganhem lá essa merda”.<br />
Outro dia estando eu em Portugal, ouvi em directo<br />
numa estação de rádio uma coisa que se apresentava<br />
como entrevista a uma banda de rock.<br />
Diz o entrevistador:<br />
“Aqui o é claro que disse o nome mas eu agora por<br />
conveniente necessidade lógica omito anda todo<br />
felizardo da vida, tem uma nova namorada. Para andar<br />
assim tão contente, ela deve ser muito boa na cama.”<br />
Rus, xus, raspus. E um silêncio comprometedor se<br />
seguiu.<br />
“O gajo deve ter levado um murro nos cornos.<br />
Mereceu-as. Espero que nem pitada se tenha<br />
perdido”, pensei.<br />
E pronto por agora chega, amanhã cá estarei para vos<br />
contar mais.