as marcas no divã
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Paridade, ma <strong>no</strong>n troppo<br />
Este é um dos <strong>no</strong>vos modismos do mercado: achar que todos os produtos<br />
são iguais, diferenciados apen<strong>as</strong> por su<strong>as</strong> marc<strong>as</strong>. Essa sensação de<br />
paridade foi levada às últim<strong>as</strong> consequênci<strong>as</strong>, como se todos os jornais<br />
fossem iguais, todos os automóveis fossem iguais, todos os bancos fossem<br />
iguais, tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> cervej<strong>as</strong> fossem iguais, todos os panetones fossem<br />
iguais e <strong>as</strong>sim por diante.<br />
Acabaram-se <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> e de features entre produtos e entre<br />
serviços? É como se não houvesse nada mais a diferenciá-los, além<br />
dessa sedutora e expressiva película que os recobre e os preenche de<br />
significado, que são su<strong>as</strong> marc<strong>as</strong>. A ideologia da paridade está sendo<br />
levada ao limite da insensatez. Quando um anunciante ou empresário<br />
mostra de que forma seu produto é diferente ou em que medida<br />
ele pode ser superior a um concorrente, há sempre alguém, com uma<br />
expressão bl<strong>as</strong>é, retrucando: “M<strong>as</strong> isso vai ser clonado pelo competidor<br />
em questão de meses ou seman<strong>as</strong>; o que precisamos é fortalecer o diferencial<br />
competitivo de sua marca, aquilo que, de fato, a torna distinta<br />
de seus adversários <strong>no</strong> mercado”.<br />
Não me compreendam mal. Há muitos a<strong>no</strong>s, eu sou um cruzado<br />
defendendo o papel crítico que <strong>as</strong> marc<strong>as</strong> têm na vida d<strong>as</strong> organizações,<br />
em sua potencialidade comercial e na capacidade que el<strong>as</strong><br />
possuem de gerar fluxo de caixa. No entanto, não acredito que haja<br />
marca forte que resista a produto medíocre ou que esconda <strong>as</strong> potencialidades<br />
do produto em <strong>no</strong>me de um etéreo romance com seus<br />
consumidores! Independentemente do clima crescente de paridade<br />
técnica, continuo observando o quanto <strong>as</strong> empres<strong>as</strong> investem em<br />
pesquisa e desenvolvimento (P&D). Continuo observando como<br />
engenharia e áre<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> em geral continuam investindo montanh<strong>as</strong><br />
de dinheiro na busca de diferenciais competitivos para seus<br />
produtos. Confesso a você que a ideologia da paridade, levada às<br />
últim<strong>as</strong> consequênci<strong>as</strong>, desperta meu lado adormecido de engenheiro,<br />
o CREA que está hibernando em mim.<br />
Bo<strong>as</strong> marc<strong>as</strong> não resistem a produtos medíocres. E mediocridade não<br />
é apen<strong>as</strong> resultado de uma displicência com a qualidade do que é<br />
oferecido ao mercado. Mediocridade é acreditar que possamos viver<br />
apen<strong>as</strong> de versões me-too, ainda que de qualidade aceitável. Enquanto<br />
nós, profissionais de marketing, estamos formulando <strong>no</strong>ss<strong>as</strong> equações<br />
de branding para multiplicar o potencial competitivo d<strong>as</strong> marc<strong>as</strong>, a<br />
transpiração <strong>no</strong>s espaços experimentais técnicos, n<strong>as</strong> redações, <strong>no</strong>s<br />
laboratórios de P&D também continua.<br />
Vamos parar de achar que a única forma de promover diferenciação<br />
se b<strong>as</strong>eia na intangibilidade d<strong>as</strong> marc<strong>as</strong>! Que é bobagem<br />
procurar <strong>no</strong> produto <strong>as</strong>pectos que o individualizem e que sustentem<br />
sua identidade! Que o código genético que revela o caráter do<br />
produto é estruturado somente pela estrutura ou configuração de<br />
sua marca!<br />
Essa minha inquietude com a ideologia da paridade tem du<strong>as</strong><br />
origens. A primeira é que, definitivamente, <strong>as</strong> cois<strong>as</strong> não são tão<br />