as marcas no divã
cMkzK8
cMkzK8
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
São dez e pouco agora. Estou qu<strong>as</strong>e certo de que não vai acontecer<br />
programa nenhum. Fruto de uma e<strong>no</strong>rme curiosidade que me consome,<br />
vou até a sala e vejo o Marcelo trocando mensagens <strong>no</strong> celular.<br />
Obviamente, ele já percebeu minha aproximação e imagina o que esse<br />
insistente “inspetor de quarteirão” quer saber.<br />
– Tô vendo com a galera o que vai rolar.<br />
Eu ia dizer alguma coisa do tipo “m<strong>as</strong> já p<strong>as</strong>sa d<strong>as</strong> dez” quando o zumbido<br />
de mais um torpedo chegou ao celular dele antes que eu abrisse a<br />
boca. Daí em diante, deixo de descrever detalhes a vocês. Porém, em<br />
resumo, o que se p<strong>as</strong>sou foi o seguinte: entre ligações de celular, <strong>no</strong>vos<br />
torpedos e internet, estava montada a rede de conexões da galera e com<br />
todos devidamente preparados para ir a uma festa que se iniciaria por<br />
volta da uma da manhã! Ou seja, começaria na f<strong>as</strong>e da <strong>no</strong>ite que eu<br />
ainda teimo em chamar de madrugada.<br />
Essa história, que pode acontecer com qualquer leitor que tenha filhos<br />
em tor<strong>no</strong> dessa idade, é uma ilustração sobre a drástica mudança na<br />
forma de conviver com o tempo e sua compressão. Esse mesmo ritmo<br />
e equacionamento de tempo que a geração dos twenty-something está<br />
praticando invade a vida adulta. Essa geração levará consigo para outr<strong>as</strong><br />
idades a cultura da compressão do tempo e isso será cada vez mais<br />
exigido também d<strong>as</strong> própri<strong>as</strong> marc<strong>as</strong>. ASAP (<strong>as</strong> soon <strong>as</strong> possible, “<strong>as</strong>sim<br />
que possível”) é uma sigla presente em muitos e-mails. Aprender a lidar<br />
com outro padrão de velocidade, e para isso ter como recurso todos os<br />
sistem<strong>as</strong> de comunicação digitais e virtuais disponíveis, p<strong>as</strong>sará a ser<br />
um estado default e não mais eventual. Não dá mais para se esconder<br />
atrás do biombo do “m<strong>as</strong> eu tenho mais de 40 ou mais de 50 a<strong>no</strong>s”.<br />
Vale para todos e para <strong>as</strong> marc<strong>as</strong> também.<br />
Há cada vez mais gente fazendo mais cois<strong>as</strong> em me<strong>no</strong>s tempo. As gerações<br />
mais jovens já n<strong>as</strong>ceram com essa habilitação configurada naturalmente<br />
em seu “sistema operacional”. As gerações anteriores, por consequência,<br />
não escaparão de um necessário upgrade em seu “processador”.<br />
É possível dividir o mercado em marc<strong>as</strong> rápid<strong>as</strong> e marc<strong>as</strong> lent<strong>as</strong>. Ser<br />
lenta ou rápida não depende do tipo de indústria. Há marc<strong>as</strong> lent<strong>as</strong> em<br />
mercados de tec<strong>no</strong>logia e marc<strong>as</strong> rápid<strong>as</strong> <strong>no</strong> mercado de alimentos, por<br />
exemplo. Uma revista ou jornal que entrega <strong>no</strong> sábado uma <strong>as</strong>sinatura<br />
feita na sexta-feira é uma marca rápida; um banco que dá respost<strong>as</strong> em<br />
cinco di<strong>as</strong> é uma marca lenta. No entanto, não confunda: rapidez não<br />
é imediatismo nem atropelo! Poupatempo (Prefeitura de São Paulo),<br />
Sem Parar (em pedágios), delivery do Almanara, Google, same-day delivery<br />
da Amazon.... e milhares de outros serviços são exemplos de que a<br />
pressa nem sempre é inimiga da perfeição e de planejamento ruim.<br />
Muitos de nós n<strong>as</strong>cemos ouvindo: pia<strong>no</strong> pia<strong>no</strong> se va lonta<strong>no</strong> (“devagar<br />
se vai ao longe”). Para mim, hoje isso parece uma longínqua metáfora,<br />
nada mais.<br />
Independentemente da indústria, do tipo de produto ou de serviço,<br />
seja business-to-consumer, seja business-to-business, o driver de velocidade<br />
e de compressão do tempo é um componente darwinia<strong>no</strong> d<strong>as</strong> marc<strong>as</strong><br />
e empres<strong>as</strong> que sobreviverão. Fazer mais, melhor e em me<strong>no</strong>s tempo:<br />
é isso que Marcelo e os <strong>no</strong>vos tempos exigem de nós. Será que vamos<br />
conseguir?<br />