as marcas no divã
cMkzK8
cMkzK8
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Fale com ela<br />
4. Propaganda nunca foi, não é, nem será um retrato da consumidora!<br />
Em 45 a<strong>no</strong>s, vimos centen<strong>as</strong> de exemplos de projetos<br />
<strong>as</strong>piracionais: Alimentos para deixar minha família mais feliz.<br />
Cremes para tornar minha pele mais atraente. Roup<strong>as</strong> para definir<br />
melhor meu estilo. A consumidora não quer ver na comunicação<br />
o que ela já é hoje. Ela precisa de um trampolim para seu eu<br />
ideal, para o eu idealizado para si. Propaganda é um combustível<br />
da eco<strong>no</strong>mia. O dia em que ela se transformar em mero retrato,<br />
adeus seu poder mobilizador, porque terá perdido a capacidade<br />
de conduzir a consumidora em direção às cois<strong>as</strong> a conquistar e<br />
aos sonhos a realizar. Ela terá perdido sua virtude mais valiosa:<br />
impulsionar os negócios.<br />
A comunicação não conseguirá vencer sozinha o desafio de acompanhar<br />
a consumidora. O próprio poeta, mestre da alma feminina,<br />
admite a e<strong>no</strong>rme dimensão do desafio. A canção “Essa moça tá diferente”<br />
termina com os seguintes versos perturbadores:<br />
[...]<br />
Essa moça é a tal da janela<br />
Que eu me cansei de cantar<br />
E agora está só na dela<br />
Botando só pra quebrar<br />
(Chico Buarque de Holanda)<br />
Todo a<strong>no</strong> é igual: <strong>no</strong> Dia Internacional da Mulher, há um eufórico<br />
reconhecimento de sua importância na vida em geral e <strong>no</strong> mercado em<br />
particular. Quando vejo os anúncios veiculados nesse dia, sinto vontade<br />
de falar sobre o <strong>as</strong>sunto, m<strong>as</strong> me contenho, porque acho que vou<br />
incomodar algum<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> e ser injusto com outr<strong>as</strong> tant<strong>as</strong>. Mesmo<br />
<strong>as</strong>sim, colecio<strong>no</strong> algum<strong>as</strong> observações sobre como algum<strong>as</strong> marc<strong>as</strong> e<br />
empres<strong>as</strong> se dirigem às mulheres nesse dia.<br />
O trabalho de pesquisa leva a conviver com centen<strong>as</strong>, às vezes milhares<br />
de mulheres ao longo do a<strong>no</strong>. O que sinto e compreendo nesses contatos<br />
com <strong>as</strong> consumidor<strong>as</strong> não me transforma em expert em mulheres.<br />
Nada comparável a Chico Buarque, a Pedro Almodóvar (Fale com ela,<br />
Mulheres à beira de um ataque de nervos) ou a Domingos de Oliveira<br />
(Tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> mulheres do mundo), mestres nesse <strong>as</strong>sunto. M<strong>as</strong> é o suficiente<br />
para entender que <strong>as</strong> cois<strong>as</strong> não deveriam ser <strong>as</strong>sim. O suficiente para<br />
<strong>no</strong>tar pecados que el<strong>as</strong> não perdoam facilmente e deixam um rançoso<br />
sentimento de não estarem sendo bem compreendid<strong>as</strong> pela marca.<br />
Pior, esse amargo sentimento se prolonga para muito além do dia 8 de<br />
março. São sete pecados, sem fazer alusão aos sete pecados capitais:<br />
1. Oportunismo<br />
“Mulher, a marca X é louca e apaixonada por você”, e, logo em seguida,<br />
o anúncio oferece um maravilhoso mundo de produtos e ofert<strong>as</strong><br />
que ela deve entender como preparados especialmente para ela, nesse<br />
maravilhoso dia do a<strong>no</strong>. Durante <strong>as</strong> pesquis<strong>as</strong>, <strong>as</strong> mulheres desm<strong>as</strong>ca-<br />