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Quando e em que circunstâncias<br />

você conheceu Nico Rosso?<br />

Conheci Nico Rosso em 1964, ao ingressar na Escola<br />

Panamericana de Arte. Eu tinha 14 anos na época, e ele foi o<br />

primeiro mestre que tive no curso. Eram os seis meses iniciais, em que se<br />

estudava desenho básico. No segundo semestre mudava o professor, e as aulas<br />

eram de técnicas de nanquim com pena, pincel e aguada.<br />

Como veio a ser assistente dele? Quanto tempo você passou na função?<br />

As aulas do Nico sempre começavam com uma preleção sobre o tema do dia. Iluminação, proporções,<br />

perspectiva, etc. Cada aula tinha um tema específico e o modelo colocado na nossa frente era relativo ao<br />

tema. Enquanto copiávamos o modelo (fotos, esculturas ou objetos), tentando resolver os problemas<br />

propostos, o professor ia sentar-se no fundo da sala para desenhar páginas e páginas das suas histórias.<br />

Eu, que era fascinado pela rapidez e maestria com que esboçava os quadrinhos, procurava me safar o<br />

mais rapidamente possível da tarefa curricular, para ir sentar ao seu lado e absorver ao máximo a<br />

verdadeira aula que era vê-lo trabalhar. Certo dia, ele virou-se bruscamente para mim e perguntou:<br />

“Você não quer me ajudar na arte final pintando as áreas chapadas?”. Era tudo o que eu queria, mas<br />

nem ousava admitir. Fiquei meio sem saber o que dizer, gaguejei alguma coisa, ele riu e tirou da<br />

sua pasta umas dez páginas de terror, se não me engano para a revista “Estórias Negras”, que<br />

estavam semi-finalizadas à nanquim e com as áreas que seriam chapadas, marcadas com um “X”.<br />

Deu-me as páginas e pediu que as touxesse prontas na próxima aula. Virei seu fazedor de<br />

chapados pelo resto do ano, mesmo quando mudei de professor. No final do ano letivo o Nico<br />

me convidou para trabalhar como seu assistente na Equipe Nico Rosso que era, naquele<br />

momento, informalmente fundada. Trabalhei com ele até o final de 1967, quando fui<br />

admitido na primeira agência<br />

de publicidade como assistente<br />

de direção de arte.<br />

Além de você, outro famoso<br />

assistente do Nico foi o<br />

Kazuhiko Yoshikawa,<br />

você o conheceu?<br />

O Kazuhiko entrou para a<br />

Equipe algum tempo depois<br />

que eu saí. Não cheguei a<br />

conhecê-lo pessoalmente na<br />

época, pois as visitas que eu<br />

fazia ao Nico eram<br />

sempre depois do expediente na agência.<br />

Ele colaborou com o Nico por muito mais tempo<br />

do que eu. Depois mudou-se para o Japão,<br />

onde morou por vários anos.<br />

Agora vive em São Bernardo do Campo,<br />

onde tive a oportunidade e o prazer de<br />

visitá-lo uma vez, juntamente com<br />

Luiz Rosso e Claudio Rosso, netos<br />

do Nico. Ele faz ilustrações de livros<br />

didáticos para várias editoras e<br />

pesca nas horas vagas.<br />

Exatamente qual era o processo de<br />

trabalho de que você participava?<br />

Era um sistema de estúdio, onde<br />

cada um tinha uma tarefa específica,<br />

ou era variado?<br />

Nos primeiros meses dessa fase de<br />

assistente, só eu trabalhava com ele e ia ao seu<br />

estúdio duas vezes por semana para entregar e receber novas páginas, instruções e, quando<br />

tinha tempo disponível, vê-lo trabalhar ou sentar-me num canto e folhear as centenas de revistas de<br />

quadrinhos, nacionais e estrangeiras, que ele<br />

tinha na estante. No quase um ano em que fiz os<br />

chapados, consegui uma razoável cumplicidade com o<br />

pincel e o Nico passou a deixar boa parte dos cenários para que eu finalizasse.<br />

E esse processo de concessão continuou até o final da minha participação na Equipe,<br />

quando eu já fazia alguns roteiros, desenhava a lápis, ele corrigia os<br />

deslizes, eu finalizava tudo e o meu pai fazia os balões e letras.<br />

Eu era remunerado por produção. Todos os colegas que<br />

passaram pela Equipe trabalharam mais ou menos<br />

no mesmo esquema, sendo que alguns<br />

cumpriram expediente no estúdio<br />

Ilustrações de<br />

Jô Fevereiro<br />

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