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José Mojica Marins era, para usar um termo<br />

da época, uma “coqueluche” nos anos 60.<br />

A partir de seu primeiro filme como Zé do<br />

Caixão, de 1963, virou um favorito da<br />

crítica e do público e lotava todas as seções<br />

das salas de cinema que exibiam seus filmes.<br />

Em 1967, ganhou um programa na recém-inaugurada<br />

TV Bandeirantes, “Além, muito além do<br />

além”, que fez enorme sucesso mesmo passando<br />

bem tarde da noite.<br />

Um dos roteiristas que trabalhavam para<br />

Mojica na época era R. F. Lucchetti, que já<br />

tinha feito “A Cripta” na Taíka com Rosso.<br />

Vendo o sucesso de Zé do Caixão, resolveu<br />

propor a Mojica uma revista de<br />

histórias em quadrinhos com o<br />

personagem. Mojica era um<br />

grande fã de quadrinhos,<br />

que colecionava desde<br />

seus tempos de garoto,<br />

e ficou muitíssimo entusiasmado<br />

com a ideia.<br />

Lucchetti acertou a publicação da revista com a Editora Prelúdio, que não<br />

publicava tradicionalmente quadrinhos. Sua principal revista era Melodias,<br />

que tratava do mundo da música, tv e rádio. Mas eles tinham começado há<br />

pouco uma pequena linha de publicações na área com o macaco Simãozinho<br />

e o faroeste caboclo, oriundo do rádio, Juvêncio, o justiceiro.<br />

Tudo acertado, Lucchetti resolveu convidar seu parceiro favorito, Nico Rosso,<br />

a quem admirava, para desenhar a revista. Foram feitas histórias onde o<br />

Zé do Caixão era apenas o narrador e, de uma forma inovadora para a época,<br />

não aparecia desenhado nas histórias e sim em fotografias. Foi produzida<br />

também uma história em fotonovela, um formato bastante em voga na época, de gosto duvidoso, com<br />

atores e atrizes dos filmes de Mojica. Nico Rosso preparou uma bela capa usando uma colagem fotográfica<br />

complementada por uma ilustração a guache e assim, em janeiro de 1969, o primeiro número da<br />

revista O Estranho Mundo de Zé do Caixão chegou às bancas. Era impressa num papel de boa gramatura<br />

em tamanho grande. O preço aliás, também era grande, em média três vezes o preço de uma revista<br />

comum. Detalhe: a publicação chegava<br />

lacrada em sacos plásticos às bancas<br />

e era proibida para menores de 21<br />

anos, provavelmente um caso único na<br />

história da censura brasileira.<br />

O próprio Mojica se encarregou de<br />

promover a revista na televisão e em<br />

apenas duas semanas os quinze mil<br />

exemplares haviam se esgotado.<br />

O número dois vendeu o dobro, o três<br />

vendeu trinta e dois mil exemplares e<br />

o quarto trinta e cinco mil. A revista<br />

estava abafando, como diria Erasmo<br />

Carlos. Mas graças à famosa inconsequência<br />

de Mojica, tudo acabou nos<br />

meses seguintes.<br />

Em seu ótimo livro sobre Zé do Caixão<br />

(Maldito), André Barcinski e Ivan<br />

Finotti dão a entender que Mojica<br />

havia sido procurado por editores<br />

inescrupulosos que lhe fizeram uma<br />

proposta para que saísse da Prelúdio,<br />

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