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ainda estão em minhas mãos. Talvez essa “falta de tempo” não o<br />

tenha deixado comentar trabalhos ou atitudes de outrem. E quando<br />

o fazia, era sempre de forma positiva.<br />

Seu avô trabalhou com várias mulheres argumentistas, algo muito<br />

raro nos quadrinhos. O que você sabe sobre Helena Fonseca e Maria<br />

Aparecida Godoy? E com R. F. Lucchetti e Gedeone, outros grandes<br />

parceiros, como ele se relacionava?<br />

Gostaria muito de conhecê-las pois tiveram grande relevância para<br />

os quadrinhos. Há pouco tempo soube que Helena Fonceca ainda<br />

estava na ativa e gostaria muito de questioná-la, saber dela como<br />

era o trabalho conjunto argumentista/desenhista com o Nico. Já o<br />

R.F. Lucchetti tive o prazer de conhecer e ouvi dele várias histórias<br />

sobre como conheceu meu avô e como eram esses trabalhos conjuntos,<br />

que muitas vezes desenvolveram-se de uma forma diferente do<br />

habitual tornando-se, a meu ver, uma das parcerias mais bem sucedidas<br />

à época. Sobre o Gedeone, infelizmente, não tive este prazer.<br />

Numa certa altura, Nico Rosso passou a ter assistentes. Jô Fevereiro<br />

e Kazuhiko Yoshikawa foram os principais, você pode comentar<br />

algo sobre isso?<br />

Trata-se da “equipe Nico Rosso”, e uso esse termo pois em várias<br />

histórias a palavra “equipe” aparece nos crédito. Se fez necessária<br />

pelo grande volume de trabalho. Foram seus alunos. Lecionou, como<br />

já disse anteriormente na Itália, e no Brasil na Escola Panamericana<br />

de Arte, desde seus primórdios até sofrer seu primeiro AVC<br />

em 1977. Seu lado “professor/mestre” de certo incentivou aqueles<br />

jovens a seguí-lo. Você mencinou dois. O Jô Fevereiro, cujo pai já<br />

trabalhava na área como letreirista de quadrinhos, e que conheci<br />

mais recentemente. Kazuhiko Yoshikawa foi o mais longevo e próximo<br />

colaborador do Nico. Lembro-me dele , frente à frente em mesas<br />

separadas, trabalhando no estúdio do meu avô (que era em sua<br />

residência na Rua Morgado de Mateus, Vila Mariana), e as páginas<br />

sendo passadas de um lado a outro sempre num rítmo frenético. Ele<br />

o acompanhou até a mudança para sua residência própria (a Rua<br />

Antônio Gomide, Planalto Paulista). Nesta nova casa, num dia de<br />

muita chuva que o seu estudio sofreu o outro acidente (o primeiro<br />

foi o incêndio), um misto de soterramento/enchente que causou a<br />

perda de grande parte de seus trabalhos e arquivos pessoais. Isso o<br />

deixou muito mal. Tornando-se mais tarde uma das causas de seu<br />

AVC. Para entendermos o porquê temos que pensar que naquela<br />

época seu arquivo era inestimável. Hoje com a internet e abundância<br />

de informação fica muito mais fácil fazer uma pesquisa.<br />

Você se tornou um excelente ilustrador. Seu avô chegou a ensinar<br />

técnicas de pintura e desenho a você?<br />

Agradeço seu elogio. Minha trajetória foi um pouco diferente. Infelizmente<br />

o único ensinamento que meu avô me passou foi o privilégio<br />

de ter podido vê-lo criar aquelas obras incríveis. Somente<br />

após sua morte é que decidi enveredar pelo caminho do desenho e<br />

costumo relatar que para não haver comparações, pois na época o<br />

sobrenome me pesava, decidi por algo diferente e fui trabalhar com<br />

desenho animado, pintando cenários.<br />

Existem algumas histórias assinadas por “Luiz Rosso”. Era seu pai,<br />

não? Porque ele não seguiu desenhando? Tinha um trabalho claramente<br />

influenciado pelo seu avô, mas era bastante bom, bem melhor<br />

do que muitos contemporâneos.<br />

Bem observado. Existe uma foto, editada na revista Fantasia nº 10,<br />

em que aparece um conclave dos colaboradores da Editora Continental<br />

(depois Editora Outubro), Nela está meu pai, Gianluigi Rosso<br />

(ao lado do Nico Rosso), que assina as histórias em questão, não<br />

com um pseudônimo, mas com uma tradução literal de seu nome<br />

(Gianluigi em italiano seria João Luiz). Em minhas pesquisas, até<br />

hoje, encontrei as histórias: “O Preço de um Assassinato”, “Legionários<br />

da Morte”, “A sombra do Mal”, “Visitando a Morte” assinadas<br />

como Luiz Rosso e “Feitiço contra o Feiticeiro”, “ O Monstro do<br />

Sotão” assinadas como João Rosso. Trata se da mesma pessoa. Os<br />

motivos que o levaram a assinar assim são desconhecidos, mas podemos<br />

conjecturar que as tarjas verde-amarelas das capas trazendo<br />

os dizeres “escritas e desenhadas totalmente no Brasil” tenham influenciado<br />

nesta decisão. Não sei bem o por quê da desistência desta<br />

carreira visto que, como você mesmo observou, ele apresentava<br />

a “veia artística” da família, mas preferiu a química trabalhando<br />

em empresas como W. Swift, Wilson, um laboratório farmacêutico,<br />

acho que o Lilly, Kibon, Indústrias Jesus e Maguary. É irônico mas<br />

no meu caso foi no sentido inverso ao dele. Comecei como químico<br />

e tornei-me desenhista.<br />

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