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com este contrato de trabalho. Pelo que sei a Brasilgráfica fazia, e faz<br />
pois ainda existe, embalagens. Sim, o primeiro acidente em sua<br />
vida (sem contar o horror que foi a Segunda Guerra) foi um incêndio<br />
em seu estúdio que ficava ao lado da gráfica.<br />
Logo após sua chegada vemos Nico Rosso trabalhando bastante para<br />
as Irmãs Paulinas, ilustrando livretos de orações e, principalmente ,<br />
colaborando em O Jornalzinho. Você sabe como se deu esse contato?<br />
Sabe quem era “G. Basso” que assina como argumentista várias histórias<br />
de O Jornalzinho junto com seu avô?<br />
Vou responder segundo minhas pesquisas. Encontrei sua colaboração,<br />
no periódico infanto-juvenil “ O Jornalzinho” nº 46 datado de<br />
janeiro de 1948. Neste princípio ilustra fábulas de autores consagrados<br />
tais como Irmãos Grimm, Charles Perault, Andersen, Jonathan<br />
Swift, etc, dando continuidade ao trabalho que já vinha realizando<br />
na Itália. Acredito que o contato tenha sido feito aqui, e fatores como<br />
ser católico praticante e falar italiano numa sociedade (naquela<br />
época) em que muitos da área gráfica eram italianos, deve ter influênciado<br />
e muito essa aproximação. Não tenho nenhuma informação<br />
sobre G. Basso (que bem poderia até mesmo ser o elo que o ligaria<br />
às Irmãs Paulinas).<br />
Nico Rosso era muito produtivo e aparentemente não faltava trabalho<br />
para ele em São Paulo, mesmo assim ele arrumou tempo para trabalhar<br />
para a Ebal no Rio. Como foi esse contato, você sabe?<br />
Não. Não me lembro de vê-lo prospectando clientes. Sempre o procuravam<br />
pelo seu talento.<br />
Apesar de ser muito mais lembrado pelas histórias de terror, elas<br />
aconteceram numa fase mais tardia de sua carreira. Durante os primeiros<br />
dez ou doze anos, o que vemos como especialidade de Nico<br />
Rosso são as histórias de cunho histórico e dá pra perceber o extremo<br />
carinho com que ele finaliza os contos de fadas da La Selva. Aliás,<br />
ele começa na Continental/Outubro desenhando Faroeste, o Anjinho<br />
da Guarda e Contos de Fadas. Demora algum tempo até o primeiro<br />
Drácula. Ele gostava de histórias de terror? Ou fazia porque era o que<br />
mais vendia e era o trabalho que tinha para fazer?<br />
O título de “mestre do terror”, seu trabalho mais volumoso nos quadrinhos,<br />
a qual fez jus, para os amantes deste gênero faz todo sentido.<br />
Mas muitos com quem converso e me relaciono o veem como o<br />
mestre dos “infantis”, dos “históricos” (pelo seu alto conhecimento<br />
de trajes e costumes) e por que não, mestre das “sensualidade”, lembrando<br />
das figuras femininas sempre bem desenhadas. E o que dizer<br />
do contraste das figuras (mulheres) mais lindas com as figuras mais<br />
grotescas no terror? Seria ele então, o mestre dos “extremos”!? O fato<br />
dele começar no terror tardiamente tem sua origem pelo “Macartismo”<br />
e consequente escassez do material de terror estrangeiro que os<br />
editores precisavam editar, associado a uma mudança nos gêneros<br />
editados. Dado o nível com que executava suas histórias de terror fica<br />
claro seu comprometimento e não ter nenhum problema para desenhá-las.<br />
E nunca ouvi - morei alguns anos com ele - nada que contradissesse<br />
essa afirmação. Mas quando conversava comigo ou quando<br />
ouvia suas conversas ficava clara a paixão também pelo infantil (olha<br />
o mestre dos extremos, novamente). Esta sua pluralidade, de não ser<br />
um desenhista de um único gênero o torma especial.<br />
Ainda sobre isso, há apenas dois gêneros de quadrinhos onde não se<br />
vêem muitos trabalhos de Nico Rosso: super-heróis e guerra. No quesito<br />
super-herois há apenas o Satanik, a não ser que consideremos os<br />
heróis do oeste mascarados que ele fez, como Pistoleiro Fantasma e<br />
Vingador. Já no de guerra, tem bem pouca coisa, mais capas do que<br />
histórias. Ele tinha um problema com o tema que você saiba?<br />
Quando você questionou os “gêneros” pensei que perguntaria do<br />
gênero “humor”. Outro dia fui questionado sobre isso e o respondi<br />
com os títulos; “Terrir”, “MitoloRia”, “Era Xixo um Astronauta?”,<br />
“As Boas do Bocage” e “Chico de Ogum”, com variações dentro do<br />
próprio gênero (figuras clássicas e/ou caricatas). Sobre “Chico de<br />
Ogum”, porquê não enquadrá-lo como um super-heroi? Possui um<br />
poder e o utiliza para fazer o bem. Sim, um super-heroi brasileiro, não<br />
nos moldes dos que conhecemos tipo Marvel ou DC. O Nico atuou em<br />
todos os gêneros, alguns mais outros menos. No gênero guerra se o<br />
fez pouco não foi pelo motivo de ter vivenciado uma, acredito que foi<br />
mais por causa da demanda.<br />
Consta que Nico Rosso era uma pessoa amável e bastante sociável.<br />
Você se lembra de alguma menção dele a colegas da profissão ou<br />
editores como Jayme Cortez, Miguel Penteado, José Sidekerskis,<br />
Manoel Cesar Cassoli, Shimamoto, Colin e outros?<br />
Lembro-me do meu avô em seu estudio, muitas horas por dia, produzindo<br />
e em suas poucas horas de “lazer” aproveitava para fazer<br />
seus projetos pessoais (o famoso ócio criativo). Alguns inéditos<br />
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