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Nico Rosso era um profissional respeitadíssimo por seus pares e<br />
tratado com certa reverência pela maioria dos desenhistas da Editora<br />
Outubro, porque era inclusive mais velho do que Jayme Cortez<br />
e Miguel Penteado, os editores. Consta que ele era amabilíssimo e<br />
muito sociável. Mas como era ele dentro de casa, despido do manto<br />
de “grande desenhista”? Que lembranças você tem dele como seu<br />
“nonno”? Qual era o prato favorito dele? Tinha um programa de TV<br />
favorito? Gostava de cinema? Que tipo de música ele ouvia? Do que<br />
ele não gostava?<br />
Como avô era uma pessoa marcante! Minhas principais lembranças<br />
são dele trabalhando. Quase sempre do outro lado da “mesa”, uma<br />
prancha de madeira que usava como suporte dois cubos, também de<br />
madeira. Me lembro de algumas vezes em que eu estava também desenhando,<br />
dele ter me dado umas broncas: “olha a mesa mexendo!”.<br />
Mas curiosamente nunca me impediu de compartilhar esse espaço,<br />
certamente sagrado para ele. Ele tinha respeito! Quando eu pedia<br />
para ele desenhar algo, sempre buscava uma referência na sua<br />
biblioteca. Ia certeiro ao livro que tinha a referência mentalmente<br />
escolhida e se propunha a me ajudar a realizar o desenho. Era um<br />
professor por natureza. Quando minha nonna chamava para o almoço<br />
era um momento interessante, ela gritava: “a tavola!”. O momento<br />
após o almoço era sagrado, ele descansava alguns minutos, às<br />
vezes cochilava, ou ficava lendo, sempre em sua poltrona, daquele<br />
tipo que tem apoio para os pés e que são excelentes para esse tipo de<br />
descanso rápido. Uma memória presente é dele trabalhar escutando<br />
programas de rádio. Para mim o mais marcante era ele escutando as<br />
narrativas policiais do Gil Gomes. Não me lembro do que “ele não<br />
gostava”, mas parece que ele não gostava de dirigir. Suas idas e vindas<br />
às editoras eram sempre de táxi. Na verdade não sei do que ele<br />
não gostava, assim como não conheço quem não gostava dele, como<br />
profissional, como parente, mas principalmente como ser humano.<br />
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