Revista Criticrtes 6 Ed
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artigo<br />
<strong>Revista</strong> Criticartes | 1º Trimestre de 2017 / Ano II - nº. 06<br />
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Se a virtualidade é máscara,<br />
o que mascara?<br />
Maria Teresa Marins Freire<br />
Curitiba, PR, Brasil<br />
@: freire.mteresa@gmail.com<br />
Pergunto-me se as pessoas utilizam a internet<br />
para ser o que não são. Alguém pode ser o que<br />
quiser, na virtualidade. E no anonimato, forja-se o<br />
interesse, falsifica-se as palavras, promete-se no vazio.<br />
A irrealidade é comprovada. Neste anonimato<br />
vale tudo. Vale esconder a verdadeira personalidade.<br />
Encobre-se vergonha, medo, falsidade, divertimento,<br />
desconsideração, desrespeito humano.<br />
Mas existe convivência virtual produtiva, festiva,<br />
inteligente, eficiente, consciente, resistente?<br />
Que cultua literatura, arte, intelecto, produções e<br />
ações? Que espaço é este, afinal, que nos prepara ciladas,<br />
que nos traz mensagens alvissareiras, que nos<br />
informa realisticamente, que nos dá notícias daqueles<br />
que estão ausentes, que nos faz sonhar, que nos<br />
deixa ler poesias, prosas de distantes autores, que<br />
nos permite mimar, dialogar, amar.<br />
Mais alguma coisa? Cada um pode me dizer<br />
isso.<br />
Deparo-me com várias dessas situações frequentemente.<br />
A virtualidade vira espaço de convivência<br />
diária, relatam alguns. De envio de mensagens<br />
de bom dia, boa tarde, boa noite, carinhosas,<br />
amorosas, confessam outros. Ainda envergonhados,<br />
revelam que ficam radiantes quando chegam<br />
as frases. Prontas, já criadas, repetidas, desgastadas,<br />
despropositadas, mecanizadas. Nem expressam sentimentos<br />
reais.<br />
A convivência virtual alcança um nível de intimidade<br />
que às vezes não se realiza na presencialidade.<br />
Cria a expectativa do contato. A ansiedade<br />
prazerosa do som que anuncia a mensagem chegando.<br />
A troca de opiniões, pensamentos, visões de vida<br />
e futuro. O câmbio de sentimentos, de carências,<br />
de companhia, de beijos e abraços sentidos, mas<br />
não realizados. A conversa à vontade transforma o<br />
contato em diálogo de companheiros, de amigos. À<br />
vontade? Talvez porque seja na virtualidade. Este ‘es-<br />
tar à vontade’ se repetiria na presencialidade?<br />
E as conversas se estendem. Adensam-se. Os<br />
galanteios se oficializam. As brincadeiras alegram a<br />
conversa. Os trocadilhos dão uma pitada de graça.<br />
A sensualidade permeia as palavras, os textos pequenos,<br />
as imagens. A vista alcança o outro na tela<br />
do computador, na telinha do celular. Onde quer<br />
que esteja. E olhares se cruzam, mediados pelos aparelhos.<br />
E a pergunta surge: até que ponto a virtualidade<br />
substitui o contato pessoal? Muitos diriam<br />
que isto é impossível. Outros diriam que pode ser<br />
um complemento. Eu, anteriormente diria que não<br />
é o tipo de relacionamento ideal e que o contato virtual<br />
é para conversas eventuais, para substituir o<br />
contato telefônico, mas que não é base para manter<br />
um relacionamento, porque carece do afeto real, do<br />
sentimento percebido com os cinco sentidos, da<br />
presença.<br />
Hoje, eu diria diferente. Aliás, eu digo que o<br />
interesse de uma pessoa por outra também pode se<br />
sustentar com a virtualidade. Serve para tornar presente<br />
o que é distante. Quando há interesse verdadeiro<br />
não importa a distância. Alguns casos reais<br />
que ouvimos, que ficamos sabendo comprovam<br />
que o distanciamento pode ser físico, mas não afetivo.<br />
É o suficiente? Não, não acredito. Eu creio que<br />
precisa haver o contato físico, o olho no olho, as<br />
mãos dadas, o aconchego dos braços ao redor, o rir<br />
junto, o passear, o conversar em torno de uma mesa,<br />
o trocar ideias porque observaram algo juntos.<br />
Que não precisa ser todo dia. Mas que tenha presencialidade.<br />
Quanto tempo? Importa? Um dia, dois<br />
ou três dias. Não é a quantidade que define a qualidade.<br />
É a intensidade.<br />
Na virtualidade vale tudo, dizem muitos. A<br />
palavra mansa que acaricia, que aprecia, que elogia,<br />
que encanta, que cativa. Mas, que não tem este re-<br />
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