Revista Criticrtes 6 Ed
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artigo<br />
<strong>Revista</strong> Criticartes | 1º Trimestre de 2017 / Ano II - nº. 06<br />
ligência, vindo de uma família tradicional e respeitado<br />
pela constância e persistência de índole, impecável postura,<br />
exprimindo com desenvoltura sua capacidade de<br />
persuasão e com firmeza sua arte da eloquência. Todas<br />
essas qualidades levaram-no a assumir trabalhos de influência:<br />
prefeito substituto, promotor de justiça, subchefe<br />
de polícia, consultor jurídico do estado, conselheiro<br />
municipal e deputado na Assembleia Constituinte.<br />
O tempo foi passando, os ânimos ficaram mais<br />
exaltados por causa do processo revolucionário separatista<br />
do Estado de MT e Aral foi um dos primeiros a tomar<br />
a frente, com o intuito de trazer progresso à região<br />
(MAGALHÃES, 2011, p. 69):<br />
[...] Armou-se e partiu para o confronto. Durante os três<br />
meses de duração do conflito, os serviços postais, que já<br />
eram precários (...) pararam de funcionar. As notícias<br />
(...) deixavam as famílias sobressaltadas; as correspondências<br />
eram entregues em mãos, levadas por mensageiros<br />
de confiança montados em cavalos ou mulas; as poucas<br />
estradas que cortavam o sul se tornaram extremamente<br />
arriscadas [...].<br />
Magalhães reproduz, nas páginas 69 a 85, fotos<br />
de bilhetes e cartas de Aral Moreira ao comandante político<br />
separatista, informando acerca de seus movimentos<br />
no combate contra as forças legalistas.<br />
Uma das fotografias era cuidadosamente por ele<br />
guardada e estava anotado no seu verso apenas o nome<br />
de Luiz Pinto de Magalhães, gaúcho de São Luiz<br />
Gonzaga-RS, que chegou a Ponta Porã em 1900. Foi um<br />
dos mais tradicionais homens públicos de Ponta Porã –<br />
primeiro delegado (1913), juiz de direito substituto<br />
(1926), prefeito interino em três oportunidades e um<br />
grande amigo de Aral Moreira (MAGALHÃES, 2011, p.<br />
95):<br />
[...] Aral manteve excelentes relações com aquele sul-riograndense<br />
que admirava pela correção de atitudes e nobreza<br />
de caráter. O filho de Aral, Eraldo, ao relatar passagens<br />
de sua infância, relembra que costumava correr<br />
pelo quarteirão da antiga Rua Rio Grande do Sul, atual<br />
Presidente Vargas, vindo do escritório do pai para o casarão<br />
de Luiz Pinto, que se localizava onde hoje é o<br />
Centro Pastoral da Paróquia São José, na Avenida<br />
Brasil. Eraldo levava consigo documentos para o amigo<br />
do pai assinar ou analisar, pois Luiz Pinto Magalhães,<br />
pela longa experiência adquirida no trato da coisa pública<br />
em Ponta Porã, era um homem para ser ouvido<br />
[...].<br />
Aral Moreira também foi fundador e diretor<br />
por muitos anos do jornal A Folha do Povo, onde travou<br />
lutas ásperas e defendeu sempre o bom nome e os interesses<br />
de Ponta Porã. Antes de surgir com A Folha do<br />
Povo, alguns intelectuais da terra imprimiram nos primeiros<br />
anos da década de 1930, como nos conta<br />
Magalhães (2011, p. 106):<br />
[...] ‘Tagarella’ tabloide em formato ofício que teve entre<br />
seus colaboradores uma figura que marcou época na cidade,<br />
o poeta e intelectual baiano José Baraúna, casado<br />
com a ponta-poranense Loreta Badeca. (...) surgiu ‘A<br />
Mutuca’ que tinha o objetivo explícito de criar polêmica<br />
com seu rival mais velho. As disputas eram bem-<br />
humoradas (...) ambos não se prestavam às necessidades<br />
formais do município como órgãos formais para veicular<br />
publicidade de cartórios e prefeitura. Para suprir surgiram:<br />
O Sul, O Correio do Povo, A Folha do Povo e O<br />
Independente [...].<br />
Aral era um político inquieto e precisava de espaço<br />
para seus feitos e atitudes que vinham ressoando<br />
pelo Estado gerando admiração, amizades e adversários.<br />
O semanário A Folha do Povo estava com dívidas,<br />
certo desinteresse de seus proprietários, rodando precariamente<br />
e sem licença obrigatória para sua divulgação.<br />
Aral entrou com processo de registro federal distribuindo-o<br />
para todo o Estado e para a Capital Federal. Fotos<br />
de algumas notícias, editoriais e reclames ilustram as folhas<br />
111 a 117 (MAGALHÃES, 2011, p. 110):<br />
[...] O estilo sério e direto que Aral imprimia a seus editoriais<br />
– que não tratavam apenas de política apaixonada,<br />
prestava-se, sobretudo a repercutir os interesses da<br />
sociedade fronteiriça – foi o principal fator a contribuir<br />
para a relativa longevidade do semanário. Por quase quatorze<br />
anos, Aral esteve à frente da empresa jornalística.<br />
Em 1946 a venderia para sócios da Companhia Mate<br />
Laranjeira [...].<br />
No final dos anos 1930, a produção ervateira<br />
mato-grossense alcançava seu melhor momento, quando<br />
eram exportadas mais de dezesseis mil toneladas anuais<br />
de erva, fora o consumo interno. Consolidava-se como<br />
o negócio mais rentável do sul do Estado, superando<br />
a pecuária bovina. Em 1938 nasceu o Instituto<br />
Nacional do Mate, com sede do Rio de Janeiro; tinha caráter<br />
normativo e era administrado por uma Junta<br />
Deliberativa. Amadureceu-se a ideia das cooperativas;<br />
seu maior propagador foi Aral Moreira, quando já fazia<br />
publicar no jornal A Folha do Povo estudos sobre as vantagens<br />
do sistema cooperativista. Em 1940 foi fundada<br />
oficialmente a Cooperativa de Produtores de Mate de<br />
Ponta Porã. Aral fazia parte como produtor e diretor<br />
(MAGALHÃES, 2011, p. 125):<br />
[...] Em fins de 1938 nasceu um sindicato de ervateiros<br />
(...); entretanto a iniciativa não obteve o registro do governo<br />
federal. Antes, em 1936, Aral idealizou um<br />
Consórcio de Produtores onde agregou gente influente<br />
e abastada da região, para sensibilizar os produtores de<br />
erva; lançava assim a semente da futura Cooperativa de<br />
Ponta Porã (...) Em 1944 (...) organizou-se em Ponta<br />
Porã, a Federação de Produtores de Mate Amambai<br />
Ltda., que passou a exercer também o papel de exportadora,<br />
tendo sido Aral Moreira, um dos seus representantes<br />
[...].<br />
A Argentina recebia um incremento populacional<br />
impressionante: gente de várias partes do mundo lá<br />
aportava atraída pelas facilidades oferecidas para o plantio<br />
e replantio de variedades de erva-mate. O enfraquecimento<br />
das importações é assim informado<br />
(MAGALHÃES, 2011, p.126 e 127):<br />
[...] A única nuvem que escurecia aquele horizonte promissor<br />
(...) era que um dia seu principal mercado comprador,<br />
a Argentina, de alguma forma viesse a enfraquecer<br />
ou que atingisse a autossuficiência produtiva, interrompendo<br />
as importações. (...) a Argentina cessou de<br />
vez suas importações. Sobraram estoques, o preço caiu,<br />
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