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Revista Criticrtes 6 Ed

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entrevista<br />

<strong>Revista</strong> Criticartes | 1º Trimestre de 2017 / Ano II - nº. 06<br />

da mais intensa. É nesse sentido a<br />

frase do Nietzsche “o que não me<br />

mata, me fortalece”.<br />

Criticartes: Como Viviane Mosé percebe<br />

e compreende a literatura brasileira<br />

em uma época com forte apelo ao politicamente<br />

correto? As manifestações<br />

populares regionais seriam forçadas a<br />

uma reconfiguração cultural para não<br />

incorrerem em crime entendido como<br />

ataque à dignidade da pessoa humana?<br />

Por Rogério Fernandes Lemes - Jornalista<br />

vivianemosé<br />

serem grandiosas. A poesia nos tira<br />

da mediocridade.<br />

Criticartes: A senhora trata de alguns<br />

conceitos como poesia, sofrimento,<br />

violência e Nietzsche. Falaremos sobre<br />

cada um deles. Primeiramente a<br />

poesia. É possível uma definição poética<br />

sobre a poesia? Se for isso possível,<br />

poderia o ser humano tornar-se mais divinizado<br />

pela ação da poesia?<br />

Viviane Mosé: A poesia é o exercício<br />

da síntese, não uma síntese de<br />

palavras, mas uma síntese de sentido<br />

e valor, o que significa uma busca<br />

pelo que realmente importa.<br />

Dizer palavras bonitas ou dizer<br />

um texto bonito isso não é poesia.<br />

Poesia é atingir a vida pura e bruta,<br />

sem subterfúgios, e a vida nem<br />

sempre é bela. Então é um exercício<br />

de coragem. Precisamos exercer<br />

a nossa coragem de lidar com o<br />

que é grandioso, inexplicável, como<br />

é a vida. Mas preferimos não<br />

pensar, não sentir, não saber, não<br />

ver. A arte faz com que as pessoas<br />

consigam ter contato com a parte<br />

mais difícil da vida e também com<br />

as mais belas, porque a beleza e a<br />

alegria também nos assustam por<br />

Foto: Christian Gal<br />

Criticartes: Qual a relação e a importância,<br />

no seu entender, da filosofia<br />

enquanto um instrumento de elevação<br />

metafísico e suprassensível com<br />

a poesia e sua efetiva atuação na compreensão<br />

ou aceitação do sofrimento<br />

humano?<br />

Viviane Mosé: A filosofia e a poesia,<br />

assim como a arte de modo geral,<br />

são ferramentas, instrumentos,<br />

modos de lidar com o sofrimento,<br />

com a solidão, com a condição<br />

da existência, com a finitude,<br />

com a perda, não como aceitação<br />

ou conformismo, mas como<br />

uma nova ação, ou como inovação.<br />

Diante da dor podemos nos<br />

vitimizar, ou nos conformar, mas<br />

podemos ainda nos potencializar,<br />

quer dizer, podemos ficar mais fortes.<br />

A arte potencializa o humano,<br />

torna a vida ainda melhor. É como<br />

se o sofrimento que nos derruba<br />

tanto, quando enfrentado e vivido<br />

esteticamente com consciência,<br />

com filosofia, poesia, vida, esse<br />

sofrimento pudesse tornar a vi-<br />

Viviane Mosé: O politicamente<br />

correto é uma caretice, uma besteira,<br />

uma tentativa de controle, um<br />

modo de pasteurização das ações.<br />

Não é isso viver. É preciso ter bom<br />

senso e o bom senso significa avaliar<br />

as coisas de modos diferentes<br />

considerando a pluralidade.<br />

Então, o politicamente correto gera,<br />

na verdade, polícias ou pessoas<br />

que se dizem os guardiões do meio<br />

ambiente ou da moral, enfim, o<br />

politicamente correto não dá. Um<br />

exemplo disso foi o absurdo julgamento<br />

porque passou Monteiro<br />

Lobato; por falta de considerar o<br />

contexto buscaram crucificar um<br />

dos maiores responsáveis por incentivar<br />

a leitura infantil no<br />

Brasil. Não seria melhor trazer o tema<br />

para os dias atuais e ressignifica-lo?<br />

Ou seguiremos construindo<br />

borrachas mágicas, ilusórias, para<br />

apagar nossa história?<br />

Criticartes: O sofrimento é realmente<br />

bom? Ou seria apenas um subterfúgio<br />

requintado e poético pensar assim?<br />

Viviane Mosé: O sofrimento não<br />

é bom nem ruim. O sofrimento é<br />

próprio da vida. O que define o sofrimento<br />

é o fato não só de nascermos<br />

e morrermos, mas de termos<br />

consciência disso. Enquanto vivemos<br />

sabemos que a vida é provisória.<br />

Essa provisoriedade nos faz<br />

construir uma cultura que quer<br />

nos vender a sensação de perma-<br />

- 5 - www.revistacriticartes.blogspot.com.br

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