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Revista Criticrtes 6 Ed

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<strong>Revista</strong> Criticartes | 1º Trimestre de 2017 / Ano II - nº. 06<br />

artigo<br />

[...] final da década de 1920 suas inclinações políticas começaram<br />

a lhe render grandes dores de cabeça, pois era<br />

sabidamente um liberal que não costumava mandar recados<br />

e que assumia publicamente suas opções ideológicas.<br />

(...) Ponta Porã era a segunda cidade mais populosa<br />

do estado (...) mas a riqueza gerada por tanta gente, fundamentalmente<br />

na atividade ervateira, não era reaplicada<br />

como deveria pelo poder situado no norte, o que colocava<br />

as duas regiões em atrito. Aral estaria entre os homens<br />

que não se conformavam (...) e lutaria como poucos<br />

para valorizar sua terra […].<br />

Magalhães (2011, p.49) relata ainda que Ponta<br />

Porã, da época de Aral, estava passando por profundas<br />

transformações econômicas e acontecimentos políticosociais<br />

de relevo, tais como: passagem da coluna Prestes,<br />

Revolução de 32, as lutas comerciais em torno da ervamate,<br />

a longa permanência e a posterior extinção da célebre<br />

Cia. Matte Laranjeira e a elevação da cidade a capital<br />

do Território Federal. Essa fronteira atraiu o olhar de<br />

Getúlio Vargas, Eurico Gaspar Dutra, o príncipe D.<br />

Pedro de Orleans e Bragança e Assis Chateaubriand.<br />

Enquanto tudo estava em efervescência, Aral<br />

Moreira ia, aos poucos, iniciando-se na política, pois se<br />

destacava como um jovem advogado com talentosa interopeus,<br />

visível também em localidades vizinhas a Ponta<br />

Porã como Concepción no Paraguai e Aquidauana,<br />

Nioaque e Porto Murtinho, no Brasil. Magalhães, às folhas<br />

87 a 97, mostra um apanhado das construções, seus<br />

moradores e documentos, em fotografias da primeira<br />

metade do século XX, a época em que Aral Moreira viveu:<br />

praça que era um palco ao ar livre onde ocorriam os<br />

eventos importantes da fronteira como desfiles cívicos e<br />

comícios políticos; igrejas; quartel do Corpo Militar de<br />

Polícia – obra da Companhia Mate Laranjeira; vala cavada<br />

em toda a extensão da linha divisória para impedir a<br />

passagem de veículos, pois cruzar a fronteira só era permitido<br />

em lugares pré-determinados em 1926; vista aérea<br />

da linha da fronteira em 1945; prédio da Pharmacia<br />

Estrella – pertencente à família de Aral Moreira inaugurada<br />

em 1926; prédio da Camisaria Royal (1927); quartel<br />

do 11º Regimento de Cavalaria (1924); Cine Brasil dividido<br />

em plateia e frisa (camarote térreo) e cadeiras superiores,<br />

tudo em madeira, inaugurado em 1935; Hotel<br />

Brasil e prédios residenciais da época.<br />

ARAL MOREIRA:<br />

UM HOMEM MÚLTIPLO DE AÇÕES<br />

Em 1918 Ponta Porã ganhou seu primeiro clube<br />

social literário e recreativo com o nome de Grêmio Luz<br />

e Recreio. Magalhães (2011, p. 98) conta-nos que no<br />

Grêmio havia uma varanda em toda a extensão da entrada;<br />

no salão, piso de madeira – com longas, planas e lisas<br />

tábuas de ipê – mais de uma geração dançou ao som<br />

de bandas que iam de Assunção-PY e Campo Grande-<br />

MS, nos bailes tradicionais ou em animados carnavais.<br />

Em dias de semana, era lá que a juventude costumava<br />

passar algumas horas da noite ouvindo música de vitrola,<br />

enquanto bebiam uma Antarctica Original no bar<br />

(MAGALHÃES, 2011, p. 98):<br />

[...] Nos fundos havia uma quadra de esportes, onde se<br />

jogava vôlei e basquete; em determinada época o tênis<br />

teve a sua vez (...) Aral fez parte das primeiras diretorias<br />

do Grêmio, sendo sócio e benemérito até o fim da vida.<br />

Em 1948 interrompeu sua participação: numa atitude<br />

irredutível, saiu em defesa de um sócio, que morava ao<br />

lado do clube (...) vem à tona algumas das evidências<br />

que reafirmam uma personalidade leal e democrática.<br />

(...) Aral Moreira saiu fortalecido do episódio (...) eram<br />

atos dessa natureza que conduziam um homem ao topo<br />

de uma carreira de sucesso [...].<br />

O filho ilustre (por adoção) de Ponta Porã, Aral<br />

Moreira, possuía as qualidades de inteligente, erudito e<br />

estudioso e esteve sempre acompanhado por grandes figuras,<br />

personagens importantes que aparecem como<br />

destaque na sociedade brasileira (MAGALHÃES, 2011,<br />

p. 33):<br />

[...] O futuro deputado ingressou na Faculdade de<br />

Direito do Rio de Janeiro em 1917. Lá conheceu Afonso<br />

Arynos de Mello Franco, um notável homem público<br />

brasileiro; quis o destino que o reencontrasse trinta<br />

anos depois, já na Câmara Federal do Palácio<br />

Tiradentes, ambos tomando parte da mesma bancada<br />

partidária [...].<br />

Magalhães (2011, p. 37) descreve a convivência<br />

de Aral Moreira com mestres e intelectuais no Rio de<br />

Janeiro, que era a capital reconhecida como berço do conhecimento<br />

nacional. Isso estimulou o gosto pela leitura,<br />

pois era um insaciável leitor de jornais, cujos textos<br />

ele recortava e arquivava para posterior discussão ou releitura.<br />

Nos recortes encontrados estavam misturados<br />

temas de filosofia grega e poesia com informações sobre<br />

agricultura, descobertas médicas e avanços tecnológicos.<br />

E prossegue informando-nos sobre seu conhecimento<br />

científico e literário, que o marcou com um perfil<br />

de advogado correto, justo e ético (MAGALHÃES,<br />

2011, p. 39):<br />

[...] Admirava Machado de Assis e Julio Verne, leituras<br />

paralelas às obras de mestres do direito como Clovis<br />

Bevilacqua e Ruy Barbosa (...) Ao completar com louvor<br />

a faculdade, Aral já levava articuladas na mente as ideias<br />

que o fariam tomar cedo nas mãos as rédeas de seu próprio<br />

destino. Abriu imediatamente seu escritório e,<br />

com a marcante característica de sempre escrever suas<br />

petições em caligrafia de chamar a atenção, tornou-se rapidamente<br />

um dos mais conceituados advogados do sul<br />

de Mato Grosso [...].<br />

Ao retornar para Ponta Porã, abriu seu escritório<br />

jurídico e envolveu-se em todas as questões sociais<br />

que considerava relevantes para a cidade. Em 1926 casou-se<br />

com Erotilde Saldanha e tiveram um único filho:<br />

Eraldo. Participou de clubes, obras assistenciais, associações<br />

comerciais e industriais; foi delegado, promotor<br />

público, prefeito substituto e representante de classe;<br />

consultor jurídico do estado, jornalista, comerciante, ervateiro<br />

e pecuarista e essa multiplicidade de ações o levou<br />

à política. Até se tornar deputado federal, Aral deixou<br />

para a cidade de Ponta Porã, um rastro de benefícios,<br />

admiradores e adversários (MAGALHÃES, 2011, p.<br />

48):<br />

- 46 -<br />

www.revistacriticartes.blogspot.com.br

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