07.02.2017 Views

Setembro/2016 - Revista VOi 134

Grupo Jota Comunicação

Grupo Jota Comunicação

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

• HISTÓRIAS<br />

H ISTÓRIAS<br />

cURITIBANAS<br />

A verdade é que dentro<br />

de um ônibus cada<br />

viagem é uma aventura.<br />

Há, claro, diversos<br />

problemas e histórias,<br />

anseios e medos, mas<br />

quando encaramos todas<br />

as situações ali expostas<br />

com um quê de bom<br />

humor, conseguimos<br />

escapar um pouco da<br />

rotina que nos sufoca e<br />

então andar de ônibus<br />

pode ser simplesmente<br />

uma arte.<br />

Ontem, por exemplo,<br />

o relógio já marcava<br />

17h40. Final de tarde, sol<br />

se pondo, clima ameno.<br />

Entro e ele já está cheio,<br />

após passar pela roleta,<br />

me espremo nas pequenas<br />

brechas. Quando<br />

pensava em como me<br />

esgueirar entre um ou<br />

outro espaço, trombo<br />

com uma pequena, já<br />

sentada no colo da mãe.<br />

Ela me encarava, com<br />

um misto de ternura e impaciência.<br />

Sigo em frente, lutando contra a falta de espaço, e agora<br />

vejo uma moça, pouco mais de 1,60 m (metro), cabelos<br />

longos e escuros. Fones nos ouvidos, olhos fechados,<br />

apenas esperando o tempo passar.<br />

Na velocidade do ônibus, a vida prosseguia, às vezes,<br />

rápida; às vezes lenta; pouco depois, uma parada repentina.<br />

E assim íamos sendo levados. No dia seguinte não<br />

a encontrei. E fiz questão de pegar o mesmo ônibus, no<br />

Amor de ônibus<br />

mesmo horário. O que<br />

encontrei, na verdade,<br />

foram mais e mais<br />

pessoas, uma viagem<br />

longa e uma tremenda<br />

frustração. Não havia<br />

quem culpar, exceto<br />

os inúmeros filmes que<br />

contam histórias semelhantes<br />

que dão certo<br />

– culpa minha, claro, ao<br />

crer em algo tão frívolo,<br />

quase irreal.<br />

Uma semana depois,<br />

repetindo o mesmo<br />

ritual, a encontrei.<br />

Era difícil esconder a<br />

felicidade. Trajava uma<br />

camisa do Velvet Underground,<br />

quando o<br />

clichê se torna real.<br />

Cantarolei mentalmente<br />

Sunday Morning. Quis<br />

me aproximar, mas<br />

hesitei, afinal, sempre<br />

pode existir uma próxima<br />

oportunidade, não<br />

é? Ela desceu e alguém<br />

já a esperava. Enquanto<br />

olhava para o nada, ela sorria e beijava o namorado – a<br />

chuva fria invade minha espera. Um beijo, mãos dadas<br />

depois e os dois caminham, até desaparecer na escuridão.<br />

Conforme o ônibus se distancia, a chuva aumenta. Há palavras<br />

não ditas presas na garganta quando chego ao meu<br />

destino e caminho lentamente em direção a porta. Chego<br />

em casa e assumo minha derrota, mas logo reconheço que,<br />

bem, amor de ônibus é assim mesmo: quando o perdemos,<br />

só resta esperar a próxima parada.<br />

Texto: M.B. / Ilustração: Fernanda Domingues<br />

106

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!