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• MÚSICA<br />
Foto: wikimedia.org<br />
M<br />
ilton do Nascimento nasceu no<br />
Rio de Janeiro em 26 de outubro<br />
de 1942. Mineiro de coração, o<br />
pequeno Bituca, apelido que recebeu por<br />
fazer bico quando estava contrariado, teve<br />
uma infância difícil. Nasceu em uma favela<br />
da Tijuca. Sua mãe, Maria do Carmo, era<br />
uma jovem empregada doméstica, abandonada<br />
grávida pelo primeiro namorado.<br />
Enfrentou a sociedade preconceituosa da<br />
época, porém jamais abandonou o filho<br />
e o registrou como mãe solteira. Maria do<br />
Carmo tentou criar Milton com a ajuda da<br />
mãe, mas, ainda muito jovem, entrou em<br />
depressão e veio a falecer de tuberculose<br />
antes do pequeno Milton completar dois<br />
anos. Milton ficou entregue aos cuidados da<br />
avó que também era empregada doméstica.<br />
Uma das duas filhas do casal para o qual a<br />
avó trabalhava, a professora de música Lília<br />
Silva Campos, era recém-casada e não estava<br />
conseguindo engravidar. Imediatamente,<br />
Lília apegou-se a Milton, e, então, propôs<br />
adotá-lo. A avó cedeu, mas desde que o<br />
trouxessem para ela vê-lo algumas vezes,<br />
e que não tirassem o nome da mãe dele<br />
do registro. O casal concordou e Milton foi<br />
então adotado por Lília e o marido, Josino<br />
Campos, dono de uma estação de rádio.<br />
A família mudou-se para Três Pontas, em<br />
Minas Gerais, onde Lília e Josino criaram<br />
Milton com muito amor e carinho. Por<br />
alguns anos ele foi filho único, pois mesmo<br />
fazendo tratamento, Lília não conseguia engravidar.<br />
O casal, então, começou a visitar<br />
orfanatos e adotou primeiro um menino e,<br />
poucos anos depois, uma menina. A filha<br />
biológica veio apenas alguns anos mais<br />
tarde. Milton, então, cresceu ao lado dos<br />
irmãos em um ambiente feliz, saudável e<br />
próspero. Desde criança sempre soube que<br />
havia sido adotado, assim como os irmãos.<br />
Milton foi escriturário em Belo Horizonte,<br />
viajou pelo Brasil de carona e, pelo<br />
caminho, se apresentava em alguns festivais.<br />
Gravou a primeira canção, Barulho<br />
de Trem, em 1962 e integrou com Wagner<br />
Tiso o grupo W’s Boys, que tocava em<br />
bailes. Mudou-se para Belo Horizonte para<br />
cursar Economia, onde, tocando em bares<br />
e clubes noturnos, começou a compor com<br />
mais frequência. Milton Nascimento hoje<br />
é reconhecido mundialmente como um<br />
dos mais influentes e talentosos cantores<br />
e compositores da MPB (Música Popular<br />
Brasileira). Em 1972, a MPB foi presenteada<br />
com um LP duplo que apresentava um grupo<br />
de jovens e chamava a atenção pelas composições<br />
engajadas, miscelânea de sons,<br />
riqueza poética e que viria a escrever um<br />
dos mais importantes capítulos da história da<br />
MPB: O Clube da Esquina. Este LP chamou<br />
a atenção dos músicos brasileiros e estrangeiros,<br />
dada a ousadia artística e criatividade<br />
inovadora. Milton também participou de<br />
trabalhos com músicos de diferentes estilos,<br />
desde Angra (heavy metal) passando por Pat<br />
Matheny (jazz) até Jon Anderson (YES). O<br />
estilo musical de Milton pode ter surgido de<br />
um desdobramento do movimento da Bossa<br />
Nova, com fortes influências desta, do jazz,<br />
do jazz-rock e de grandes expoentes do rock.<br />
Com 34 discos gravados, vencedor de cinco<br />
prêmios Grammy, Milton já se apresentou<br />
em quatro continentes onde, sem a menor<br />
dúvida, deixou um clube de fãs em cada<br />
esquina pela qual tocou.<br />
“ Quando dizem que a música brasileira vive uma<br />
entressafra, me pergunto se é só lá em casa que aparece<br />
gente nova<br />
Milton Nascimento<br />
“<br />
In<br />
Concert<br />
MPB<br />
O BITUCA<br />
Foto: Andre Wormsbecker<br />
O Colunista Fernando Macedo é<br />
produtor musical, diretor executivo<br />
da Nu Jazz Produções e músico.<br />
Contato:<br />
www.facebook.com/nujazzbrazil e<br />
fmacedo@jotacomunicacao.com.br<br />
AGOSTO 97