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Da sociedade celta à mídia atual: as questões de gênero e a abordagem |<br />
do papel da mulher em diferentes épocas<br />
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um corpo femininos. Os mitos célticos fazem parte dos mais<br />
antigos cultos de vegetação e fertilidade das comunidades<br />
primitivas para quem o divino se revelava como encarnação<br />
da própria terra, capaz de manifestar de diferentes formas,<br />
mas sempre sob um semblante feminino. O Mundo natural<br />
ganhava, pois, uma dimensão divina: a terra era uma Grande<br />
Deusa, ou Deusa Mãe, ora meiga e fértil, como a Primavera;<br />
ora cruel e estéril como o Inverno (MARTINS, 2011, p. 21).<br />
A autora ainda estabelece afinidades entre Morgana e a deusa A Morrígan,<br />
que ela relaciona à deusa aquática Modron, galesa, que de certa forma<br />
estabelece uma ligação nominal com uma miragem comum no estreito de<br />
Messina, na Sicília, denominada Morgana Le Fay, a qual confundia os marinheiros<br />
e os levava à morte. Dessa forma, pode-se estabelecer um aspecto<br />
intertextual a partir do significado dos nomes dessas entidades: “mulher<br />
[ou deusa] que veio do mar”. Para Ana Rita Martins (2011), essa relação<br />
justificaria a personagem Morgana de Marion Bradley, que também viria<br />
de uma ilha, possivelmente no mar, considerando-se a posição geográfica<br />
da antiga Britânia.<br />
Fiorin (1995) esclarece haver dois tipos distintos de debreagem no enunciado:<br />
a enunciativa e a enunciva; no primeiro caso, são instalados no enunciado<br />
os actantes da enunciação (eu/tu), “o espaço da enunciação (aqui) e o<br />
tempo da enunciação (agora), ou seja, aquela em que o não eu, o não aqui e o<br />
não agora são enunciados como eu, aqui, agora” (ibid., p. 27).<br />
Morgana, na saga de Marion Zimmer Bradley (1985), é apresentada<br />
como irmã de Arthur, o lendário rei da Bretanha, sendo também sacerdotisa<br />
iniciada nos segredos da ilha de Avalon. A autora utiliza a debreagem<br />
enunciativa, em 1ª pessoa (intercalada à narração em 3ª pessoa, ou debreagem<br />
enunciva), como recurso estilístico empregado pelo enunciador para<br />
conferir ao texto o efeito de sentido verdade. Dessa forma, Bradley emprega<br />
o mote “Morgana fala...” nos capítulos em que o discurso passa à debreagem<br />
enunciativa em diversas ocasiões para que ela transmita ao leitor a ideia<br />
de que, oferecendo a versão da personagem, a história se tornará mais real.<br />
Para Fiorin (2005), o autor usa das debreagens enunciativas [eu-aqui-agora]<br />
e enuncivas [ele-lá-então], a fim de criar “a ilusão de que as pessoas, os