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Diversidade Acessibilidade e Direitos

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Às sombras do discurso: a imagem de si da acompanhante sexual |<br />

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Maingueneau (2010, p. 22) pontua que a literatura pornográfica tem<br />

sua “inserção radicalmente problemática no espaço social”: é uma produção<br />

“tolerada, clandestina, noturna”. O que é pornográfico, então? Depende do<br />

lugar, da época e, inevitavelmente, envolve questões de censura: “todos os regimes<br />

políticos traçam uma linha de separação entre o aceitável e o inaceitável<br />

em matéria de representação da sexualidade” (ibid.). Dificilmente, textos<br />

caracterizados como pornográficos seriam estudados no ensino médio, por<br />

exemplo, ainda que pudessem constituir um corpus como outro qualquer.<br />

Por esse raciocínio, Maingueneau (2010, p. 23) vê no discurso pornográfico<br />

um discurso “atópico”, fora de lugar: “não se considera que a cidade deva conceder<br />

um lugar à pornografia, a cidade nunca erigirá monumentos para seus autores”.<br />

Os discursos atópicos têm a ver com práticas que, como a pornografia, “não<br />

tem lugar para existir” (ibid.), sendo assim relegados aos interstícios do espaço<br />

social (palavrões, ritos de bruxaria etc.). Entendido dessa maneira, o discurso<br />

pornográfico se caracteriza como um discurso “sem direito à cidadania” (ibid.).<br />

a pornografia é radicalmente transgressiva; ela pretende dar<br />

visibilidade máxima a práticas às quais a sociedade busca,<br />

ao contrário, dar visibilidade mínima, quando não, para<br />

algumas delas, visibilidade nenhuma. Ao distinguir de maneira<br />

mais ou menos precisa o que pode ser mostrado em<br />

sociedade e o que não pode aparecer, os bons costumes circunscrevem,<br />

num só movimento, o espaço do pornográfico<br />

(MAINGUENEAU, 2010, p. 39).<br />

Paradoxo constitutivo: o pornográfico mostra “tudo” aquilo que não<br />

deve ser mostrado.<br />

Considerações sobre a prostituição<br />

A prostituição é popularmente caracterizada como “a profissão mais<br />

antiga do mundo” 2 e, ao mesmo tempo, uma não profissão. Além de não<br />

2 Esse mote, aliás, não repercute apenas no senso comum, conforme tratam autoras como<br />

Adriana Piscitelli e Luzia Margareth Rago.

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