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Renato_Pessanha/iStock<br />
João Daniel Tikhomiroff<br />
é diretor <strong>de</strong> cena, sócio-<br />
-fundador e diretor-geral<br />
artístico da Mixer<br />
JOÃO DANIEL TIKHOMIROFF<br />
Especial para o PROPMARK<br />
Numa tar<strong>de</strong> chuvosa, fui a uma livraria – lugar<br />
que sempre frequento quando quero “viajar”<br />
nas i<strong>de</strong>ias ou apenas para me distrair. Gosto <strong>de</strong><br />
ficar folheando alguns livros <strong>de</strong> arte, fotografia,<br />
culturas diversas. Fujo dos “best-sellers” e tento<br />
buscar títulos menos conhecidos, sem me importar<br />
se o autor é consagrado ou não. Gosto <strong>de</strong><br />
comprar livros - e fisicamente na minha mão, para<br />
que eu possa rabiscar algo ou escrever algum<br />
comentário. Adoro ir até aquelas estantes que<br />
têm uma segunda fileira <strong>de</strong> livros escondidos. E<br />
foi neste tipo <strong>de</strong> busca (aqui, confesso que estava<br />
literalmente engatinhando no chão da livraria),<br />
ao puxar um livro, um outro ‘qualquer’ saltou em<br />
meu colo. A i<strong>de</strong>ia estava ali, mas eu ainda não sabia.<br />
O título era instigante: Feijoada no Paraíso.<br />
O autor, Marco Carvalho, não o conhecia. Como<br />
sempre costumo fazer, olhei na orelha do livro e<br />
logo me interessei. Saga <strong>de</strong> um herói, magia, capoeira...<br />
Junto com este, levei mais três outros<br />
que havia selecionado. Em casa, como <strong>de</strong> costume,<br />
fui lendo simultaneamente os quatro livros.<br />
Sempre vou <strong>de</strong>ixando para trás os que não me<br />
interessam, seja no final do primeiro capítulo, no<br />
quinto, no oitavo – e me concentro naquele que<br />
esteja me encantando. Geralmente, a partir da escolha,<br />
retomo a leitura no começo e <strong>de</strong>voro o livro<br />
em um ou dois dias. Faço assim também quando<br />
assisto a uma série na Netflix ou HBO-GO, numa<br />
verda<strong>de</strong>ira maratona pelas madrugadas. Adoro<br />
fazer isso. Ao terminar aquele mencionado livro,<br />
senti uma forte palpitação no coração e pensei:<br />
talvez seja a inspiração para um filme ou uma série.<br />
E foi. Assim começava a nascer o meu longa<br />
Besouro.<br />
Vou muito ao cinema. Acho uma experiência<br />
insuperável. É bem diferente do que assistir a um<br />
filme em casa. A plateia, a respiração das pessoas<br />
que você não faz a menor i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> quem sejam, as<br />
emoções que contagiam. Assisto dois a três filmes<br />
por dia nos fins <strong>de</strong> semana em que eu não esteja<br />
trabalhando. Sempre fiz isso, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a adolescência.<br />
Essa mistura <strong>de</strong> gêneros e estilos mexe comigo<br />
e, mesmo inconscientemente, <strong>de</strong>ve ajudar na hora<br />
<strong>de</strong> criar ou <strong>de</strong>senvolver um trabalho. Mesmo que<br />
seja numa <strong>de</strong>cupagem, num storyboard <strong>de</strong> um<br />
longa ou <strong>de</strong> um comercial.<br />
Po<strong>de</strong>ria falar também que fico ouvindo músicas.<br />
Adoro as clássicas, concertos ou sinfonias.<br />
Elas são sempre muito provocadoras. Ou mesmo<br />
os passeios por galerias <strong>de</strong> arte, ficar observando<br />
cada <strong>de</strong>talhe <strong>de</strong> uma pintura ou escultura, até<br />
mesmo um pequeno rastro <strong>de</strong> uma pincelada na<br />
tela. Tudo inspira.<br />
Mas, uma das experiências mais inspiradoras<br />
que pratico hoje é a relação com a natureza. Tenho<br />
verda<strong>de</strong>iro fascínio pela sua magia, sua força,<br />
sua energia. Mesmo em São Paulo, on<strong>de</strong> fico a<br />
maior parte do tempo, posso contemplar uma lua<br />
por horas, sentir um vento que vai acariciando ou<br />
mesmo esbofeteando meu rosto. Raios e chuvas,<br />
alvorada ou crepúsculo, nunca se repetindo. Aproveito<br />
cada fresta que <strong>de</strong>scubro na cida<strong>de</strong> para observar<br />
algo que a natureza esteja proporcionando.<br />
Quando viajo para algum lugar próximo ao mar,<br />
ele me proporciona uma recarga <strong>de</strong> baterias extraordinária.<br />
E mais que inspiração, <strong>de</strong>sperta fontes<br />
<strong>de</strong> transpiração <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias que são imprescindíveis,<br />
principalmente na hora <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver ou dar forma<br />
a algum conteúdo.<br />
E, talvez por estar reciclado pela energia da natureza,<br />
numa próxima visita a uma livraria, fico<br />
na esperança <strong>de</strong> andar novamente engatinhando<br />
pelas estantes e algum livro salte na minha mão,<br />
como mágica.<br />
Fotos: Divulgação<br />
Cinema, sinfonias e galerias<br />
Detalhe do pôster do longa Besouro, dirigido por<br />
Tikhomiroff, e o quadro Noite Estrelada, <strong>de</strong> Vincent Van<br />
Gogh. “Po<strong>de</strong>ria falar também que fico ouvindo músicas.<br />
Adoro as clássicas, concertos ou sinfonias. Elas são sempre<br />
muito provocadoras. Ou mesmo os passeios por galerias<br />
<strong>de</strong> arte, ficar observando cada <strong>de</strong>talhe <strong>de</strong> uma pintura ou<br />
escultura, até mesmo um pequeno rastro <strong>de</strong> uma pincelada<br />
na tela. Tudo inspira”, escreve o diretor<br />
jornal propmark - <strong>24</strong> <strong>de</strong> <strong>outubro</strong> <strong>de</strong> <strong>2016</strong> 25