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edição de 24 de outubro de 2016

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Renato_Pessanha/iStock<br />

João Daniel Tikhomiroff<br />

é diretor <strong>de</strong> cena, sócio-<br />

-fundador e diretor-geral<br />

artístico da Mixer<br />

JOÃO DANIEL TIKHOMIROFF<br />

Especial para o PROPMARK<br />

Numa tar<strong>de</strong> chuvosa, fui a uma livraria – lugar<br />

que sempre frequento quando quero “viajar”<br />

nas i<strong>de</strong>ias ou apenas para me distrair. Gosto <strong>de</strong><br />

ficar folheando alguns livros <strong>de</strong> arte, fotografia,<br />

culturas diversas. Fujo dos “best-sellers” e tento<br />

buscar títulos menos conhecidos, sem me importar<br />

se o autor é consagrado ou não. Gosto <strong>de</strong><br />

comprar livros - e fisicamente na minha mão, para<br />

que eu possa rabiscar algo ou escrever algum<br />

comentário. Adoro ir até aquelas estantes que<br />

têm uma segunda fileira <strong>de</strong> livros escondidos. E<br />

foi neste tipo <strong>de</strong> busca (aqui, confesso que estava<br />

literalmente engatinhando no chão da livraria),<br />

ao puxar um livro, um outro ‘qualquer’ saltou em<br />

meu colo. A i<strong>de</strong>ia estava ali, mas eu ainda não sabia.<br />

O título era instigante: Feijoada no Paraíso.<br />

O autor, Marco Carvalho, não o conhecia. Como<br />

sempre costumo fazer, olhei na orelha do livro e<br />

logo me interessei. Saga <strong>de</strong> um herói, magia, capoeira...<br />

Junto com este, levei mais três outros<br />

que havia selecionado. Em casa, como <strong>de</strong> costume,<br />

fui lendo simultaneamente os quatro livros.<br />

Sempre vou <strong>de</strong>ixando para trás os que não me<br />

interessam, seja no final do primeiro capítulo, no<br />

quinto, no oitavo – e me concentro naquele que<br />

esteja me encantando. Geralmente, a partir da escolha,<br />

retomo a leitura no começo e <strong>de</strong>voro o livro<br />

em um ou dois dias. Faço assim também quando<br />

assisto a uma série na Netflix ou HBO-GO, numa<br />

verda<strong>de</strong>ira maratona pelas madrugadas. Adoro<br />

fazer isso. Ao terminar aquele mencionado livro,<br />

senti uma forte palpitação no coração e pensei:<br />

talvez seja a inspiração para um filme ou uma série.<br />

E foi. Assim começava a nascer o meu longa<br />

Besouro.<br />

Vou muito ao cinema. Acho uma experiência<br />

insuperável. É bem diferente do que assistir a um<br />

filme em casa. A plateia, a respiração das pessoas<br />

que você não faz a menor i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> quem sejam, as<br />

emoções que contagiam. Assisto dois a três filmes<br />

por dia nos fins <strong>de</strong> semana em que eu não esteja<br />

trabalhando. Sempre fiz isso, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a adolescência.<br />

Essa mistura <strong>de</strong> gêneros e estilos mexe comigo<br />

e, mesmo inconscientemente, <strong>de</strong>ve ajudar na hora<br />

<strong>de</strong> criar ou <strong>de</strong>senvolver um trabalho. Mesmo que<br />

seja numa <strong>de</strong>cupagem, num storyboard <strong>de</strong> um<br />

longa ou <strong>de</strong> um comercial.<br />

Po<strong>de</strong>ria falar também que fico ouvindo músicas.<br />

Adoro as clássicas, concertos ou sinfonias.<br />

Elas são sempre muito provocadoras. Ou mesmo<br />

os passeios por galerias <strong>de</strong> arte, ficar observando<br />

cada <strong>de</strong>talhe <strong>de</strong> uma pintura ou escultura, até<br />

mesmo um pequeno rastro <strong>de</strong> uma pincelada na<br />

tela. Tudo inspira.<br />

Mas, uma das experiências mais inspiradoras<br />

que pratico hoje é a relação com a natureza. Tenho<br />

verda<strong>de</strong>iro fascínio pela sua magia, sua força,<br />

sua energia. Mesmo em São Paulo, on<strong>de</strong> fico a<br />

maior parte do tempo, posso contemplar uma lua<br />

por horas, sentir um vento que vai acariciando ou<br />

mesmo esbofeteando meu rosto. Raios e chuvas,<br />

alvorada ou crepúsculo, nunca se repetindo. Aproveito<br />

cada fresta que <strong>de</strong>scubro na cida<strong>de</strong> para observar<br />

algo que a natureza esteja proporcionando.<br />

Quando viajo para algum lugar próximo ao mar,<br />

ele me proporciona uma recarga <strong>de</strong> baterias extraordinária.<br />

E mais que inspiração, <strong>de</strong>sperta fontes<br />

<strong>de</strong> transpiração <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias que são imprescindíveis,<br />

principalmente na hora <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver ou dar forma<br />

a algum conteúdo.<br />

E, talvez por estar reciclado pela energia da natureza,<br />

numa próxima visita a uma livraria, fico<br />

na esperança <strong>de</strong> andar novamente engatinhando<br />

pelas estantes e algum livro salte na minha mão,<br />

como mágica.<br />

Fotos: Divulgação<br />

Cinema, sinfonias e galerias<br />

Detalhe do pôster do longa Besouro, dirigido por<br />

Tikhomiroff, e o quadro Noite Estrelada, <strong>de</strong> Vincent Van<br />

Gogh. “Po<strong>de</strong>ria falar também que fico ouvindo músicas.<br />

Adoro as clássicas, concertos ou sinfonias. Elas são sempre<br />

muito provocadoras. Ou mesmo os passeios por galerias<br />

<strong>de</strong> arte, ficar observando cada <strong>de</strong>talhe <strong>de</strong> uma pintura ou<br />

escultura, até mesmo um pequeno rastro <strong>de</strong> uma pincelada<br />

na tela. Tudo inspira”, escreve o diretor<br />

jornal propmark - <strong>24</strong> <strong>de</strong> <strong>outubro</strong> <strong>de</strong> <strong>2016</strong> 25

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