22.02.2018 Views

Gestão Hospitalar N.º8 1984

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Congresso Europeu de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

SOMOS FORÇAD0S A GERIR HOSPITAIS<br />

SEM CONHECER RECURSOS<br />

FINANCEIROS<br />

- afirmou o presidente da Associação Portuguesa,<br />

Santos Cardoso<br />

••<br />

'<br />

• •<br />

ccSubslste ainda entre nós a dúvida se todos os<br />

responsáveis políticos da jovem democracia portuguesa<br />

conquistada com o 25 de Abril de 1974 têm<br />

plena consciência da necessidade de um corpo<br />

proflsslonal de administradores hospitalares», disse<br />

o presidente da Associação Portuguesa de Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es na abertura do V Congresso<br />

Europeu da classe.<br />

O presidente da Associação<br />

Portuguesa de Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es, Santos<br />

Cardoso, acrescentou<br />

que «a recém-nascida carreira<br />

enfrenta ainda obstáculos<br />

constituídos pelo receio<br />

que outras carreiras<br />

profissionais sentem o incómodo<br />

que esta pode causar<br />

à tradicional quietude charcosa<br />

dos habituais amadorismos<br />

e improviso portugueses<br />

amadorismo ainda<br />

vantajoso para alguns».<br />

Num discurso de duas mil<br />

palavras, Santos Cardoso<br />

defendeu ainda a necessidade<br />

de os «hospitais constituírem<br />

entidades com administração<br />

autonomizada<br />

do Estado, na tendência clara<br />

de serem pessoas colectivas<br />

públicas com autonomia<br />

administrativa e financeira e<br />

dotadas de administração indirecta».<br />

Esta autonomia está consagrada<br />

na legislação em<br />

yigor, como aliás também o<br />

referiu Santos Cardoso,<br />

mas, e para citar ainda as<br />

palavras deste administrador<br />

hospitalar (Hospital Pediátrico<br />

de Coimbra). «da<br />

doutrina e das próprias leis<br />

portuguesas à prática vai<br />

uma grande distância, também<br />

infelizmente habitual<br />

entre nós».<br />

Quase no fim do discurso,<br />

Santos Cardoso interrogava­<br />

-se, sem resposta, pelo futuro<br />

da gestão dos hospitais,<br />

«quando não se conhecem à<br />

partida os recursos financeiros»,<br />

«quando a quase totalidade<br />

não dispõe de regulamentos<br />

internos»,<br />

«quando estão quase impossibilitados<br />

de rever os<br />

seus inadequados quadros».<br />

«O que se pode fazer em<br />

gestão de pessoal quando<br />

um simples contrato de aquisição<br />

eventual de serviços<br />

tem de ser validado por despacho<br />

ministerial?, interrogou<br />

Santos Cardoso que<br />

também acusou os órgãos<br />

de tutela de «não estabelecerem<br />

planos e programas<br />

de acção, não definirem as<br />

normas e critérios de actuação<br />

hospitalar e não avaliarem<br />

os resultados obtidos e<br />

a qualidade dos cuidados<br />

prestados à população».<br />

O tema deste 5. º Congresso<br />

Europeu 'de Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es, que ontem<br />

começou e hoje termina<br />

em Espinho com a participação<br />

de 450 congressistas de<br />

16 países, é pois um dos<br />

mais oportunos para a realidade<br />

portuguesa: «Planificação<br />

interna e financiamento,<br />

e direcção hospitalar por objectivos<br />

».<br />

O confronto entre a realidade<br />

do que se passa na<br />

maioria dos países europeus<br />

e do que se passa em Portugal<br />

em matéria de financiamento<br />

e planificação dos<br />

hospitais foi doloroso de ouvir<br />

durante a primeira sessão<br />

de comunicações deste<br />

Congresso, ao qual estão a<br />

assistir representantes do<br />

Presidente da República e<br />

do ministro da Saúde.<br />

Estas presenças, se não<br />

se limitarem a ser protocolares,<br />

poderão ser benéficas<br />

para que se comece a atacar<br />

e tente irradicar todas as<br />

doenças que afligem o bom<br />

funcionamento dos hospitais<br />

portugueses, alguns administrados<br />

por profissionais<br />

que são contratados a prazo,<br />

como nos disse Santos<br />

Cardoso.<br />

Mas este Congresso é<br />

particularmente importante<br />

para os próprios administradores<br />

hospitalares que lutam<br />

para que esta carreira seja<br />

reconhecida e assegurada<br />

por profissionais· com habilitação<br />

científica adequada e<br />

sob um estatuto com normas<br />

de ingresso e de acesso<br />

baseadas em critérios de<br />

mérito, como também sublinhou<br />

o presidente da Associação<br />

Portuguesa de Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es.<br />

Os actuais administradores<br />

hospitalares portugueses<br />

estão não só preocupados<br />

com os problemas<br />

inerentes à gestão dos hospitais<br />

como também com a<br />

própria dignificação e reconhecimento<br />

da carreira que<br />

em Portugal só há uma dezena<br />

de anos começou a<br />

autonomizar-se.<br />

Não vai muito longe o<br />

tempo em que todos, Misericórdias,<br />

Faculades de Medicina,<br />

fundações, câmaras,<br />

instituições de previdência,<br />

desejavam administrar hospitais<br />

e se consideravam capazes<br />

de o fazer, como referiu<br />

há tempos Coriolano<br />

Ferreira, catedrático da Escola<br />

Nacional de Saúde Pública<br />

e o grande impulsionador<br />

da carreira profissional<br />

de administrador hospitalar.<br />

Esse tempo não mudou<br />

ainda totalmente, mas a realização<br />

em Portugal deste 5.º<br />

Congresso Europeu de Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es<br />

poderá ajudar à compreensão<br />

de que o «amadorismo<br />

faz correr riscos graves qualquer<br />

que seja o seu fundamento»,<br />

para citar ainda<br />

uma frase de Coriolano Ferreira<br />

sobre a administração<br />

hospitalar.<br />

Quanto ao resto, às questões<br />

do financiamento intimamente<br />

ligadas à gestão<br />

dos hospitais, elas não se<br />

solucionarão só pelo facto<br />

de se reconhecer inequivocamente<br />

a existência de<br />

uma carreira profissional de<br />

administrador hospitalar que<br />

exija um curso superior próprio.<br />

Disto estão os administradores<br />

hospitalares portugueses<br />

certos.<br />

O<br />

• •<br />

j ~J'J_Jj d<br />

.. t WWW W"'I -<br />

.,, ...... ., ...... _. ,<br />

O critério de selecção dos temas tratados neste JORNAL consiste, essencialmente, no Interesse que possam vir a ter para<br />

desenvolvlmento e publicação na própria Revista. -<br />

São, assim, benvlndos ·pequenos relatos e notícias relativos a experiências em curso ou a quaisquer eventos de Interesse<br />

geral.<br />

Na secção ccPubllcações Recebidas» noticiaremos cr~lcamente as obras de que seja enviado gratuitamente um exemplar, e<br />

que farão parte da blblloteca da APAH que se está a constituir .<br />

2

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!