Opinião Pecados vão rolar Por definição, pecar é desrespeitar algum fundamento religioso. O teólogo Rodrigo Portella, doutor em Ciências da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), analisa o pecado sob as perspectivas do catolicismo e explica sua relação com a formação humana. Texto: Caroline Borges Arte: Francielle Ramos
<strong>Curinga</strong>: O que são os pecados capitais? Rodrigo: Pecados capitais são os pecados “cabeça” (do latim “caput”), ou seja, os que originam os demais. Portanto, são tendências humanas inatas adquiridas pela mancha do pecado original, que todos carregam. Os sete pecados capitais seriam as incubadoras dos demais desequilíbrios humanos, ou de suas consequências. Esta é a visão teológica da Igreja Católica. Isto é, são tendências que existem no ser humano e que podem ser concretizadas mais ou menos, conforme o desenvolvimento espiritual do cristão. <strong>Curinga</strong>: O que é o pecado em si? Rodrigo: O pecado é, para a teologia católica, a desarmonia e o desordenamento do ser humano em relação a Deus, à natureza, a si mesmo e aos demais seres humanos. Tal desordenamento pode assumir várias faces, das quais os pecados capitais são espécies de pais. Por exemplo: quando há algum tipo de desequilíbrio em nosso corpo (colesterol alto, hipertensão, etc), tais desequilíbrios podem resultar em doenças que afetam nosso corpo/saúde (colesterol ruim pode levar a problemas cardiovasculares, doenças do coração, etc). <strong>Curinga</strong>: Existe relação entre pecado e a consciência humana? Rodrigo: O mesmo se dá para a consciência, a alma, o psiquismo humano, enfim, a vida espiritual e moral do ser humano. Um desequilíbrio em um ponto capital (por exemplo, a ira), pode levar às brigas, preconceitos, assassinatos, entre outras desarmonias que têm como raiz a fúria. Tais desequilíbrios, vulgo pecados, têm sempre a nota pessoal. Para serem pecados, isto é, desequilíbrios que atentam contra a natureza, Deus, si mesmo e os demais, precisam ser realizados de forma consciente, consentida. <strong>Curinga</strong>: Como atua o livre arbítrio? Rodrigo: O consentimento no erro é o que o faz grave, ou seja, em linguagem cristã, pecado. Um exemplo do mundo médico: eu sei que é prejudicial à minha saúde - e à dos que estão minha volta - fumar. O médico já me explicou. Mas, mesmo sabendo das possíveis consequências ruins, eu continuo fumando. Ou seja, eu assumo o risco de forma consciente, consentida. O mesmo, por exemplo, na relação bebida e direção. Na vida psíquica, moral ou espiritual também. O pecado também tem uma dimensão coletiva, pois a sociedade e família, que vêm antes de nós e que nos forma, são responsáveis por possíveis tendências desequilibradas que possamos ter. <strong>Curinga</strong>: A Igreja Católica ensina que assim como temos sete pecados capitais, também temos as sete virtudes opostas. Quais são elas e no que se fundamentam? Rodrigo: As sete virtudes são a humildade, disciplina, caridade, castidade, paciência, generosidade e temperança. O fundamento é claro: se estou desequilibrado, a tendência contrária ao meu desequilíbrio é que me fará achar o equilíbrio. Se tenho tendência ao orgulho, soberba, pedantismo, devo exercitar mais minha humildade para a superação ou equilíbrio desta desordenação que me afeta. CURINGA | EDIÇÃO <strong>20</strong> 23