editorial Armando Ferrentini aferrentini@editorareferencia.com.br Em meio a uma Copa do Mundo da Fifa, on<strong>de</strong> consagrados campeões já foram eliminados – e essa é uma das belezas do futebol, o esporte das multidões que costuma dar chance, mais que outras modalida<strong>de</strong>s esportivas, a médios e até pequenos –, surge um texto na web do consagrado economista Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-presi<strong>de</strong>nte do Palmeiras, que por repor uma vera escola <strong>de</strong> Cannes performance do Brasil na Copa do Mundo publicitária, que é realizada A anualmente em Cannes, uma vez mais manteve-se no topo. Trata-se <strong>de</strong> um excelente <strong>de</strong>safio para países que, como o nosso, não estão entre as cinco maiores economias do planeta. O Cannes Lions, através dos seus diversos júris multinacionais, produz resultados na maioria das vezes indiscutíveis aos olhos do gran<strong>de</strong> público que comparece ao festival, vindo <strong>de</strong> todas as partes do planeta. Não resta dúvida que o melhor juiz <strong>de</strong> qualquer trabalho publicitário, seja apenas uma peça, seja uma gran<strong>de</strong> campanha, é sempre o cliente e não apenas porque paga a conta, mas também por ser quem se beneficia ou sofre com os resultados da comunicação que assina. Nesse particular, Cannes é um coadjuvante, pois não analisa resultados proporcionados pela publicida<strong>de</strong> nele inscrita, para concorrer a prêmios genericamente <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong>, ou seja, i<strong>de</strong>ias inusitadas que fazem ou farão o anunciante obter expressivos resultados <strong>de</strong> vendas. Há que se levar em conta, porém, o que <strong>de</strong> há muito se consolidou como regra básica na ativida<strong>de</strong> publicitária: campanhas e anúncios criativos, inovadores e que respeitam a inteligência dos seus diversos públicos estão sempre muito próximos do sucesso. Não é por outra razão que o aval <strong>de</strong> Cannes aos seus vitoriosos representa um selo <strong>de</strong> garantia na certeza dos bons resultados que todas as marcas, sem exceção, <strong>de</strong>sejam para si. Nesse particular, o próprio festival acaba por se transformar em um alimentador <strong>de</strong> vendas para as campanhas e peças isoladas que nele concorrem e são premiadas. O Cannes Lions, porém, não é apenas isso. Se no passado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando o PROPMARK cobriu Cannes e em seguida Veneza pela primeira vez (1971 e 1972, respectivamente), o festival seguia apenas o mo<strong>de</strong>lo tradicional <strong>de</strong> premiações papai-mamãe, com o tempo evoluiu para acoplar no seu bojo seminários que cada vez mais ganharam importância. Hoje, a maioria dos <strong>de</strong>legados presentes prefere mais assistir às palestras e discussões em torno <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado tema ou campanha <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> repercussão, do que propriamente tomar conhecimento imediato dos laureados. Sempre haverá tempo para isso, dizem as pessoas que consultamos, enquanto que os ensinamentos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s mestres do negócio da comunicação – e entenda-se aqui todos os aspectos do trabalho publicitário e não apenas o produto final consubstanciado nas peças <strong>de</strong> comunicação – são e serão sempre melhor captados ao vivo, no calor e na emoção produzidos por aqueles que sempre têm algo importante a dizer. Ao leitor que nunca foi ao Cannes Lions, recomendamos um esforço, ainda que aparentemente impossível, para comparecer em 2019. Aqueles que têm ido, que assim prossigam, pois se trata não apenas <strong>de</strong> tudo o que já foi dito aqui, mas também <strong>de</strong> um importante e provavelmente único da sua espécie, recarregador <strong>de</strong> baterias para todos os tipos <strong>de</strong> gente ávida em sempre melhorar suas performances. Ninguém sai <strong>de</strong> lá como chegou. *** da<strong>de</strong> histórica merece transcrição neste espaço <strong>de</strong> opiniões, sempre <strong>de</strong>dicado à busca do melhor esclarecimento. Vamos a ele, com a permissão do autor: “Na manhã <strong>de</strong> quinta-feira, 28 <strong>de</strong> junho, curvei-me ao império do hábito. Corri para a soleira da porta em que fica <strong>de</strong>positado o (jornal) Valor. Ávido para sorver os venenos e esperanças <strong>de</strong> todos os dias, topei na primeira página com a foto dos jogadores alemães, mãos à cabeça, <strong>de</strong>sesperados com a eliminação da Copa. A foto vinha encimada por uma legenda que reproduz a i<strong>de</strong>ia fixa dos adversários do Palmeiras: ‘De ver<strong>de</strong>, sem mundial’. Torcedores da velha guarda, como eu, sabem que na alma palestrina ainda vibram os mesmos sentimentos que pulsaram no coração dos brasileiros quando o Palmeiras, ban<strong>de</strong>ira ver<strong>de</strong>-amarela acima do escudo, conquistou o primeiro campeonato mundial interclubes. Ainda magoados com a <strong>de</strong>cepção coletiva causada pela <strong>de</strong>rrota para o Uruguai em 16 <strong>de</strong> <strong>julho</strong> <strong>de</strong> 1950, os brasileiros da antiga sabem que o empate contra a Juventus, em 20 <strong>de</strong> <strong>julho</strong> <strong>de</strong> 1951, consagrou o Palmeiras como o primeiro campeão mundial. 160 mil torcedores celebraram a conquista no mesmo Maracanã da tragédia <strong>de</strong> 1950. A nossa resposta ao ‘maracanazo’ <strong>de</strong> 1950 foi conseguida com a dramaticida<strong>de</strong> que nossas conquistas exigem: o gol <strong>de</strong> Liminha foi, ao mesmo tempo, uma obra <strong>de</strong> arte e um gesto <strong>de</strong> re<strong>de</strong>nção. Na viagem <strong>de</strong> retorno a São Paulo, o trem da vitória foi recepcionado em todas as cida<strong>de</strong>s do trajeto, culminando com a chegada na Estação Roosevelt, no Brás, on<strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 1 milhão <strong>de</strong> pessoas recepcionavam os campeões. A i<strong>de</strong>ia fixa dos adversários <strong>de</strong> hoje – o Palmeiras não tem mundial – <strong>de</strong>safia os historiadores que se escandalizam com a prática reiterada do vício do anacronismo, vício que aprisiona os engraçadinhos nas masmorras do presente para avaliar o passado. Naqueles tempos <strong>de</strong> 1951, as esperanças do país no seu <strong>de</strong>stino aplastavam os ressentimentos. No Brasil <strong>de</strong> hoje, sinto-me obrigado a evocar Shakespeare, em Macbeth: ‘Um pobre ator que se pavoneia e se aflige sobre o palco. Faz isso por uma hora e, <strong>de</strong>pois, não se escuta mais sua voz. É uma história contada por um idiota, cheia <strong>de</strong> som e fúria. E vazia <strong>de</strong> significado’”. *** Na festa <strong>de</strong> lançamento do livro É o que parece!, do Grupo dos 100 Amigos (crédito da festa para José Francisco Queiroz e Wagner Yoshihara e da edição do livro para Antoninho Rossini), a promessa <strong>de</strong> um famoso publicitário e fervoroso corintiano, Otto <strong>de</strong> Barros Vidal Júnior, <strong>de</strong> que o seu livro sobre o Corinthians já está sendo enviado à gráfica para impressão e acabamento. Nas suas páginas, além da própria história do autor, <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> amigos <strong>de</strong> todas as torcidas, sobre a sadia rivalida<strong>de</strong> que sempre <strong>de</strong>ve haver no esporte inventado pelos ingleses, mas tornado um sucesso mundial pelos brasileiros. Este editorialista comparece no livro com um artigo sobre essa rivalida<strong>de</strong>, tão apaixonante que, no caso do Palmeiras, um não po<strong>de</strong> viver sem o outro. *** Frase: “Os piores bandidos são os que vestem roupa <strong>de</strong> mocinhos”. (Filosofia popular brasileira). jornal propmark - 2 <strong>de</strong> <strong>julho</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> 3