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Chicos 55 - 22.12.2018

Chicos é uma e-zine que circula apenas pelos meios digitais. A linha editorial é fundamentalmente voltada para a literatura dos cataguasenses, mas aberta ao seu entorno e ao mundo. Procura manter, em cada um dos seus números, uma diversidade temática. Neste número, o poeta da primeira página é Luiz Ruffato. Dono de uma obra em prosa consagrada em vários idiomas mundo afora, é autor de uma poesia que merece ser lida pela qualidade.

Chicos é uma e-zine que circula apenas pelos meios digitais.
A linha editorial é fundamentalmente voltada para a literatura dos cataguasenses, mas aberta ao seu entorno e ao mundo. Procura manter, em cada um dos seus números, uma diversidade temática.
Neste número, o poeta da primeira página é Luiz Ruffato. Dono de uma obra em prosa consagrada em vários idiomas mundo afora, é autor de uma poesia que merece ser lida pela qualidade.

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<strong>Chicos</strong><br />

Os meninos da rua Paulo, esta epopeia<br />

juvenil é no dizer de Paulo Rónai, seu tradutor:<br />

“Um livro que nos acompanha pela vida<br />

afora, livro de guerra que nos reconcilia com<br />

a humanidade. O livro discute valores como<br />

lealdade, a traição, o heroísmo e a covardia,<br />

a inveja e a nobreza, elementos que permeiam<br />

o mundo dos pequenos valores que seriam<br />

desafiados a partir da deflagração da<br />

guerra que assolaria o continente a partir de<br />

1914. Sobre Paulo Rónai acrescente-se que<br />

é também de origem judaica e aqui ficou,<br />

fugindo da nazificação completa da Hungria.<br />

E onde tornou-se notável tradutor inclusive<br />

deste que é considerado um clássico da juventude.<br />

Li Os meninos da rua Paulo e lembrei-me<br />

da minha própria infância a beira da linha, lá<br />

no início da hoje Avenida Astolfo Dutra, antes<br />

Antonio Carlos, onde ficava nossa casa<br />

de família e ainda está, muito próxima da<br />

antiga usina de açúcar Santa Teresa e com o<br />

rio Pomba, a seus pés. Nas retas e curvas<br />

travávamos gloriosas batalhas com grupos<br />

inimigos cujas fragatas eram improvisados<br />

barcos de nossa precária carpintaria aprendida<br />

na oficina do Lacerda.<br />

Consta que se apresentou aos jornais, na<br />

Hungria recentemente, um sujeito que reivindicava<br />

a glória de ter servido de modelo à<br />

personagem de Nemecsek. E que o mesmo<br />

não teria morrido no final da história como<br />

realmente acontece na narrativa. O esperto<br />

pseudo Nemecsek teve suspensa a sua sede<br />

de glória quando foi desmascarado e acusado<br />

de tentar descontruir um mito.<br />

É interessante notar a diferença de costumes<br />

e das instituições entre a Hungria de<br />

1889 e o Brasil de hoje, a diferença é incalculável;<br />

os alunos na ocasião em que o romance<br />

foi escrito, 1889 estavam sujeitos a<br />

punições severas se tivessem alguma conduta<br />

que fosse desrespeitosa para com os professores,<br />

dos quais tinham verdadeiro temor.<br />

Estes pairavam, noutra esfera muito mais elevada<br />

como verdadeiros semideuses.<br />

Tomo de empréstimo este singelo parágrafo<br />

de uma das muitas e boas crônicas de<br />

Rubem Braga: “Emoções misturadas de infância<br />

e adolescência, perdidas e esquecidas<br />

há muito tempo”<br />

Vivíamos bem nessa irrealidade ou para<br />

dizer melhor nesse sério faz de conta, que no<br />

dizer do meu saudoso filósofo Ronaldo de<br />

Melo, a respeito das histórias em quadrinhos,<br />

eram absolutamente reais enquanto vívidas e<br />

vividas em nosso imaginário.<br />

Os Meninos da Rua Paulo foi ilustrado com<br />

o traço econômico e inconfundível de Tibor<br />

Gérgely que nos transporta ao longo da história<br />

a uma Budapeste de 1907. Um livro<br />

que nos conecta à infância, ao contato violento<br />

com os adultos e a ameaça dos conflitos<br />

urbanos.<br />

Em tempo: O autor de Os Meninos da<br />

Rua Paulo é Ferenc Molnár que por ironia do<br />

destino morreu longe de sua cidade natal.<br />

Perseguido pelo nazismo refugiou-se nos Estados<br />

Unidos, e nunca retornaria à Hungria.<br />

Os últimos dias de sua vida dedicou-se a escrever<br />

suas memórias.<br />

Escultura dos Meninos da Rua Paulo em Budapeste,<br />

de Szanyi Péter<br />

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