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edição de 14 de janeiro de 2019

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eyond the line<br />

Cristofotolux/iStock<br />

Velho mundo X<br />

novo mundo<br />

O país, principalmente Lisboa, vive um boom<br />

econômico, <strong>de</strong>corrente das atrações turísticas<br />

Alexis Thuller Pagliarini<br />

Escrevo este texto durante minhas férias,<br />

que passo em Portugal. Além das maravilhas<br />

gastronômicas e dos belos passeios<br />

pelo <strong>de</strong>stino da moda, durante um inverno<br />

<strong>de</strong>liciosamente light, impossível <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

analisar o marketing <strong>de</strong>sse belo país e compará-lo<br />

ao praticado no Brasil. Amigos publicitários<br />

recém-chegados à Terrinha <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

pronto previnem: o mercado português é<br />

muito pequeno. Além das pequenas dimensões<br />

do país e sua população 20 vezes menor<br />

que a nossa, a cultura da “Terrinha” faz tudo<br />

parecer um tanto naive e low profile, em<br />

termos <strong>de</strong> marketing. Segundo o amigo Gui<br />

Pacheco, um <strong>de</strong>sses publicitários brasileiros<br />

neoportugueses, há ainda certa resistência<br />

dos portugueses a agências <strong>de</strong> fora. As empresas<br />

anunciantes aparentemente “protegem”<br />

os seus compatriotas, dificultando a<br />

vida <strong>de</strong> agências “<strong>de</strong> fora”. Há profissionais<br />

bons “importados” do Brasil, mas não agências<br />

tupiniquins.<br />

O país, principalmente sua capital Lisboa,<br />

vive um boom econômico, <strong>de</strong>corrente das<br />

suas atrações turísticas, a preços mais módicos<br />

que seus vizinhos, principalmente os <strong>de</strong><br />

fora da península ibérica, atraídos também<br />

pelo seu clima e ambiente <strong>de</strong> segurança. O<br />

turismo já respon<strong>de</strong> por mais <strong>de</strong> 10% do PIB<br />

do país (no Brasil, é menos <strong>de</strong> 5%). Mas é o<br />

mercado imobiliário que se apresenta mais<br />

exuberante. Num dos passeios <strong>de</strong> barco pelo<br />

Rio Tejo, com uma vista privilegiada, tentei<br />

contar os guindastes instalados pela cida<strong>de</strong>.<br />

O piloto do barco se adianta: são mais <strong>de</strong> 50.<br />

São obras <strong>de</strong> retrofit <strong>de</strong> belíssimos prédios<br />

históricos da cida<strong>de</strong>, que recebem ambientes<br />

contemporâneos no seu interior, sem alterar<br />

suas lindas fachadas históricas. Fiquei<br />

no apartamento <strong>de</strong> um amigo brasileiro num<br />

<strong>de</strong>sses prédios retrofitados, no charmoso<br />

bairro do Chiado. O resultado é fantástico:<br />

todos os benefícios <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s largas e pé-<br />

-direito alto aliados agora a ambientes mo<strong>de</strong>rnos.<br />

Ainda faltam alguns recursos mo<strong>de</strong>rnos<br />

- garagens, por exemplo -, mas o resultado<br />

<strong>de</strong>ssa combinação do velho mundo<br />

com o novo mundo é muito bacana.<br />

Como efeito colateral, o preço <strong>de</strong> se viver<br />

nesses bairros mais nobres, em prédios<br />

remo<strong>de</strong>lados, cresceu muito, expulsando<br />

moradores antigos para bairros mais distantes.<br />

Mas os contrastes entre o velho e o novo<br />

estão presentes por todos os lados. Um dos<br />

eventos mais importantes <strong>de</strong> tecnologia, por<br />

exemplo, é realizado em terras lusitanas: o<br />

Web Summit. Mas ao caminhar pelo comércio<br />

mais tradicional, pelas ruas dos bairros<br />

históricos da cida<strong>de</strong>, nota-se quase sempre<br />

um vitrinismo simplório e merchandising<br />

ainda muito amador, sem sofisticação mercadológica.<br />

Se meus amigos que moram aqui<br />

não me contassem eu jamais saberia que a<br />

livraria Bertrand, no Chiado, é a mais antiga<br />

do mundo. Há apenas uma pequena e escondida<br />

placa ressaltando isso. Seu ambiente<br />

interno é incrivelmente simples, sem <strong>de</strong>ixar<br />

os visitantes com a sensação <strong>de</strong> estar numa<br />

livraria histórica.<br />

Não dá para enten<strong>de</strong>r. Qualquer marqueteiro<br />

tentaria reproduzir um ambiente que<br />

remetesse aos tempos antigos da livraria,<br />

mas o que vemos lá é uma livraria comum,<br />

como as <strong>de</strong>mais. Por outro lado, empreen<strong>de</strong>dores<br />

mais ativos se sobressaem e se<br />

dão bem nesse mercado em ascensão. É o<br />

caso do Midas da gastronomia José Avillez.<br />

Chef jovem e empreen<strong>de</strong>dor, Avillez,<br />

que teve como mestre o incensado Ferran<br />

Adrià, nada <strong>de</strong> braçada na gastronomia lisboeta<br />

mais refinada. Des<strong>de</strong> o seu maravilhoso<br />

Belcanto, <strong>de</strong>tentor <strong>de</strong> duas estrelas<br />

Michelin (não <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> experimentar na<br />

sua vinda a Portugal - é caro, mas vale cada<br />

centavo) até o Cantinho do Avillez, passando<br />

por propostas menos pretensiosas, mas<br />

todas muito criativas, como o seu Bairro<br />

do Avillez, que reúne num mesmo espaço<br />

uma mercearia, uma taberna, um páteo e<br />

um beco, cada ambiente oferecendo uma<br />

experiência gastronômica única.<br />

Foi esse contraste entre iniciativas empreen<strong>de</strong>doras<br />

e mo<strong>de</strong>rnas com outras datadas<br />

<strong>de</strong> décadas atrás, como a maioria do<br />

comércio <strong>de</strong> rua, que me fez escrever esse<br />

texto. Será que nós, que fomos educados na<br />

cartilha do marketing mais agressivo, <strong>de</strong><br />

origem americana, estamos certos? Ou os<br />

mais tradicionalistas e comedidos portugueses<br />

é que estão? De qualquer maneira,<br />

é bom viver esses contrastes. Não é agradável<br />

ver só um monte <strong>de</strong> McDonad’s e Starbucks<br />

em cida<strong>de</strong>s que antes tinham seus<br />

cafés e restaurantes tradicionais. Assim como<br />

os prédios remo<strong>de</strong>lados <strong>de</strong> Lisboa, não<br />

é nada mau ter um marketing retrofitado,<br />

fazendo conviver o velho (e belo) com o novo<br />

(e mo<strong>de</strong>rno). Concorda?<br />

Alexis Thuller Pagliarini é superinten<strong>de</strong>nte<br />

da Fenapro (Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Agências<br />

<strong>de</strong> Propaganda)<br />

alexis@fenapro.org.br<br />

26 <strong>14</strong> <strong>de</strong> <strong>janeiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark

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