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Linha Direta<br />

Não à house oficial<br />

Por Armando Ferrentini<br />

O novo governo federal, preocupado<br />

com erros do passado praticados<br />

por um número reduzidíssimo<br />

de agências de propaganda que<br />

atendiam contas oficiais – e que<br />

já pagaram devidamente por isso<br />

–, lançou um balão de ensaio na<br />

imprensa em geral revelando sua<br />

preocupação com esses desvios de<br />

conduta (já devidamente reparados)<br />

e anunciou sua intenção de criar<br />

uma house agency.<br />

Para quem não sabe, pois o termo até caiu em desuso entre<br />

nós, embora algumas (poucas) grandes corporações ainda<br />

mantenham as suas agências da casa, o termo em tradução<br />

livre quer dizer exatamente isso: empresas de comunicação<br />

prestadoras de serviços, pertencentes a determinados grupos<br />

empresariais, criadas quase que exclusivamente para<br />

atender os interesses publicitários das demais empresas de<br />

cada grupo.<br />

Dos anos 60 aos anos 80 do século passado, as houses, se<br />

não eram comuns, existiam em maior número do que hoje.<br />

O passar do tempo, porém, foi demonstrando que uma<br />

house, se apresenta a vantagem do seu lucro ficar literalmente<br />

“em casa”, tem mais desvantagens do que essa hoje<br />

pequena vantagem, tendo em vista a derrogação da Lei<br />

4680/65.<br />

A principal delas reside a nosso ver em manter suas diversas<br />

equipes (criação, mídia, atendimento, planejamento, administração<br />

etc.), atendendo a um único cliente, mesmo que<br />

seja um conglomerado de empresas ou instituições, como<br />

no caso do governo federal.<br />

Essa condição estreita os olhares dos seus profissionais,<br />

sempre mais atilados quando a concorrência provoca<br />

questionamentos junto ao mercado, uma das principais características<br />

de valorização da livre iniciativa.<br />

O leitor poderá arguir que há empresas estatais que disputam<br />

o mercado, como a Petrobras, o Banco do Brasil e outras<br />

delas em outros segmentos. Em contrapartida, porém,<br />

eram atendidas por uma house que não “briga” no mercado<br />

para se manter e manter os seus clientes em alto nível de<br />

atendimento.<br />

Sempre haverá, no caso, a prevalência de uma tranquilidade<br />

que não faz bem ao produto final criativo e concorrencial<br />

de uma agência da iniciativa privada.<br />

Chegou a ser noticiado que uma das preocupações do<br />

novo governo com a sua publicidade seria a malversação<br />

das verbas e uma possível corrupção agindo. Lembramos<br />

à equipe de governo que cuidaria dessa house, que essa<br />

característica de agência da casa poderá até facilitar aplicações<br />

escusas de verbas publicitárias.<br />

Assim não fosse e não teríamos presenciado recentemente<br />

aos territórios mensalões instituídos não se sabe bem desde<br />

quando, mas que vieram com força à tona no governo<br />

passado, revelando um índice de corrupção em empresas<br />

estatais de arrepiar.<br />

Outra grande desvantagem apresentada pelas houses ao<br />

longo da sua história reside na condição salarial dos seus<br />

principais profissionais. Como se sabe, os melhores publicitários,<br />

principalmente aqueles que comandam o setor de<br />

criação das agências, têm salários elevados, que não encontrariam<br />

paralelo na administração pública, com os seus<br />

tetos legalmente estabelecidos.<br />

Em um mercado onde o talento é supervalorizado – e nem<br />

poderia ser diferente – o embate salarial seria inevitável,<br />

ainda que em um regime autárquico como seria essa house<br />

oficial.<br />

Como observadores do mercado publicitário brasileiro desde<br />

há muito, desaconselhamos nossas autoridades a aquecer<br />

essa ideia da house. Se ela fosse boa, todos os grandes<br />

e até médios anunciantes manteriam uma agência da casa...<br />

dentro da casa. Aliás, como já dissemos acima, essa era uma<br />

prática mais comum até a primeira metade, ou um pouco<br />

mais que isso, do século passado. E antes das houses, havia<br />

os departamentos próprios de publicidade, que faziam toda<br />

a publicidade da empresa-anunciante, desde a criação até<br />

a entrega final das campanhas e anúncios isolados à mídia.<br />

O avanço dessa etapa redundou nas houses e o avanço<br />

do mercado, cada vez mais concorrencial, com muitas empresas<br />

disputando o mesmo segmento praticamente em<br />

todos os países e ainda mais com a economia globalizada,<br />

acabou resultando no apoio irrestrito das agências independentes,<br />

hoje inclusive pertencentes a grandes conglomerados...<br />

de agências.<br />

Voltar ao passado, como se sabe, não é um bom caminho<br />

empresarial. Ele deve ser olhado apenas como referência,<br />

com seus exemplos que deram certo dentro da realidade<br />

do mundo empresarial da época.<br />

Hoje, com raras exceções, a house é apenas uma história<br />

a ser contada aos mais jovens, que não assistiram à sua derrocada.<br />

Armando Ferrentini<br />

é diretor-presidente da Editora Referência<br />

aferrentini@editorareferencia.com.br<br />

30<br />

fevereiro de 2019

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