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mArketing & negócios<br />
Trifonenko/iStock<br />
A lógica da<br />
vitrola e do vinil<br />
O mercado <strong>de</strong>ve ter em mente a lógica<br />
da vitrola e do vinil, criadores <strong>de</strong> duas<br />
indústrias que mudaram a história,<br />
assim como os veículos e as agências<br />
RAFAEL SAMPAIO<br />
Para quem nunca teve contato com a vitrola<br />
ou já se esqueceu <strong>de</strong> sua existência,<br />
vale lembrar que a combinação <strong>de</strong>la<br />
com o vinil criou duas indústrias <strong>de</strong> amplo<br />
espectro e, literalmente, mudou o mundo,<br />
<strong>de</strong>mocratizando e multiplicando o consumo<br />
da música.<br />
A partir da invenção do disco <strong>de</strong> vinil<br />
por Emile Berliner, em 1896, a victrola foi<br />
a evolução do fonógrafo <strong>de</strong> Thomas Edison<br />
e do seu sucessor, o gramofone <strong>de</strong> Alexan<strong>de</strong>r<br />
Graham Bell, tendo sido registrada<br />
em 1905 pela Victor Talking Machine Co,<br />
empresa que mais tar<strong>de</strong> foi adquirida pela<br />
RCA (Radio Corporation of America) e uniu<br />
os esforços <strong>de</strong> fabricação do aparelho e da<br />
edição <strong>de</strong> discos.<br />
Criava-se assim a dupla que iria gerar lógica<br />
mútua para alterar para sempre a história<br />
da música e compor uma verda<strong>de</strong>ira<br />
simbiose entre suporte tecnológico e conteúdo,<br />
na qual a existência e a evolução <strong>de</strong><br />
um gera as condições para o incremento<br />
do outro, inaugurando uma “fórmula” que<br />
seria repetida em diversos setores, com expressivos<br />
resultados.<br />
A “dupla” vitrola e vinil per<strong>de</strong>u seu vigor<br />
apenas quando o mundo digital revolucionou<br />
processos <strong>de</strong> gravação, reprodução e<br />
distribuição da música, tornando-a obsoleta.<br />
Mesmo assim, vitrola e vinil passam<br />
hoje por um revival e retêm algum espaço<br />
no mercado, maior até do que seu sucessor<br />
imediato, o CD, na prática apenas um estágio<br />
em direção ao digital contemporâneo.<br />
Essa lógica também foi aplicada no<br />
mercado publicitário, no qual os veículos<br />
entraram com conteúdo editorial e <strong>de</strong> entretenimento<br />
que atraía a audiência dos<br />
consumidores e as agências contribuíram<br />
com mensagens publicitárias superiores,<br />
que incrementava os resultados dos anunciantes<br />
e os motivavam a manter e aumentar<br />
seus investimentos, gerando recursos<br />
para os veículos melhorarem sua qualida<strong>de</strong><br />
e atrativida<strong>de</strong>, dando sequência a um<br />
ciclo virtuoso que marcou o século 20 com<br />
a vigorosa expansão do mercado <strong>de</strong> consumo.<br />
As dificulda<strong>de</strong>s que se abateram sobre<br />
os veículos e a publicida<strong>de</strong> com o advento<br />
da mídia digital, porém, levou à pior das<br />
reações <strong>de</strong> ambos, que com raras exceções,<br />
particularmente em relação à TV e à propaganda<br />
televisiva, enfrentaram as dificulda<strong>de</strong>s<br />
quebrando o suporte mútuo e tentando<br />
gerar suas receitas publicitárias <strong>de</strong> forma<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, sem a produtiva contribuição<br />
da outra parte.<br />
O <strong>de</strong>coupling entre veículo e agência,<br />
que existia, mas era marginal, cresceu com<br />
a evolução da mídia digital, que acreditava,<br />
no fundo sem muita razão, que a plataforma<br />
era mais importante que o conteúdo,<br />
fosse ele editorial e <strong>de</strong> entretenimento, fosse<br />
ele publicitário.<br />
Um imenso véu caiu sobre esses dois<br />
mundos, com a contribuição da falta <strong>de</strong><br />
reflexão dos anunciantes, que têm nessas<br />
últimas duas décadas sacado do “fundo <strong>de</strong><br />
investimento” <strong>de</strong> suas marcas e tornando-<br />
-se mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes das ofertas <strong>de</strong> facilida<strong>de</strong>s<br />
e preço no curto prazo. Um caminho<br />
<strong>de</strong> volta <strong>de</strong>ssa receita digital equivocada<br />
vem sendo percorrida tanto por veículos<br />
digitais que enten<strong>de</strong>ram que seu lado “veículo<br />
<strong>de</strong> comunicação” é tão relevante como<br />
seu lado digital, como por veículos tradicionais<br />
que se <strong>de</strong>ram conta que sua digitalização<br />
é inevitável.<br />
Ilusões como a comunicação por conteúdo<br />
têm sido empregadas <strong>de</strong> forma equivocada<br />
e ina<strong>de</strong>quada, na tentativa <strong>de</strong> substituir<br />
a publicida<strong>de</strong> por uma alternativa mais<br />
fácil e mais barata. As agências, por seu<br />
lado, não têm valorizado como <strong>de</strong>veriam a<br />
parceria com os veículos, em parte embarcando<br />
em fórmulas menos eficazes como<br />
o conteúdo <strong>de</strong> marca, as mídias sociais, o<br />
viral e os influenciadores - minimizando a<br />
associação virtuosa que não apenas gerou<br />
riquezas e prestígio para elas como, mais<br />
importante, resultados superiores para as<br />
marcas que aten<strong>de</strong>m.<br />
Rafael Sampaio é consultor em propaganda<br />
rafaelsampaio103@gmail.com<br />
30 5 <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark