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edição de 5 de agosto de 2019

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mArketing & negócios<br />

Trifonenko/iStock<br />

A lógica da<br />

vitrola e do vinil<br />

O mercado <strong>de</strong>ve ter em mente a lógica<br />

da vitrola e do vinil, criadores <strong>de</strong> duas<br />

indústrias que mudaram a história,<br />

assim como os veículos e as agências<br />

RAFAEL SAMPAIO<br />

Para quem nunca teve contato com a vitrola<br />

ou já se esqueceu <strong>de</strong> sua existência,<br />

vale lembrar que a combinação <strong>de</strong>la<br />

com o vinil criou duas indústrias <strong>de</strong> amplo<br />

espectro e, literalmente, mudou o mundo,<br />

<strong>de</strong>mocratizando e multiplicando o consumo<br />

da música.<br />

A partir da invenção do disco <strong>de</strong> vinil<br />

por Emile Berliner, em 1896, a victrola foi<br />

a evolução do fonógrafo <strong>de</strong> Thomas Edison<br />

e do seu sucessor, o gramofone <strong>de</strong> Alexan<strong>de</strong>r<br />

Graham Bell, tendo sido registrada<br />

em 1905 pela Victor Talking Machine Co,<br />

empresa que mais tar<strong>de</strong> foi adquirida pela<br />

RCA (Radio Corporation of America) e uniu<br />

os esforços <strong>de</strong> fabricação do aparelho e da<br />

edição <strong>de</strong> discos.<br />

Criava-se assim a dupla que iria gerar lógica<br />

mútua para alterar para sempre a história<br />

da música e compor uma verda<strong>de</strong>ira<br />

simbiose entre suporte tecnológico e conteúdo,<br />

na qual a existência e a evolução <strong>de</strong><br />

um gera as condições para o incremento<br />

do outro, inaugurando uma “fórmula” que<br />

seria repetida em diversos setores, com expressivos<br />

resultados.<br />

A “dupla” vitrola e vinil per<strong>de</strong>u seu vigor<br />

apenas quando o mundo digital revolucionou<br />

processos <strong>de</strong> gravação, reprodução e<br />

distribuição da música, tornando-a obsoleta.<br />

Mesmo assim, vitrola e vinil passam<br />

hoje por um revival e retêm algum espaço<br />

no mercado, maior até do que seu sucessor<br />

imediato, o CD, na prática apenas um estágio<br />

em direção ao digital contemporâneo.<br />

Essa lógica também foi aplicada no<br />

mercado publicitário, no qual os veículos<br />

entraram com conteúdo editorial e <strong>de</strong> entretenimento<br />

que atraía a audiência dos<br />

consumidores e as agências contribuíram<br />

com mensagens publicitárias superiores,<br />

que incrementava os resultados dos anunciantes<br />

e os motivavam a manter e aumentar<br />

seus investimentos, gerando recursos<br />

para os veículos melhorarem sua qualida<strong>de</strong><br />

e atrativida<strong>de</strong>, dando sequência a um<br />

ciclo virtuoso que marcou o século 20 com<br />

a vigorosa expansão do mercado <strong>de</strong> consumo.<br />

As dificulda<strong>de</strong>s que se abateram sobre<br />

os veículos e a publicida<strong>de</strong> com o advento<br />

da mídia digital, porém, levou à pior das<br />

reações <strong>de</strong> ambos, que com raras exceções,<br />

particularmente em relação à TV e à propaganda<br />

televisiva, enfrentaram as dificulda<strong>de</strong>s<br />

quebrando o suporte mútuo e tentando<br />

gerar suas receitas publicitárias <strong>de</strong> forma<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, sem a produtiva contribuição<br />

da outra parte.<br />

O <strong>de</strong>coupling entre veículo e agência,<br />

que existia, mas era marginal, cresceu com<br />

a evolução da mídia digital, que acreditava,<br />

no fundo sem muita razão, que a plataforma<br />

era mais importante que o conteúdo,<br />

fosse ele editorial e <strong>de</strong> entretenimento, fosse<br />

ele publicitário.<br />

Um imenso véu caiu sobre esses dois<br />

mundos, com a contribuição da falta <strong>de</strong><br />

reflexão dos anunciantes, que têm nessas<br />

últimas duas décadas sacado do “fundo <strong>de</strong><br />

investimento” <strong>de</strong> suas marcas e tornando-<br />

-se mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes das ofertas <strong>de</strong> facilida<strong>de</strong>s<br />

e preço no curto prazo. Um caminho<br />

<strong>de</strong> volta <strong>de</strong>ssa receita digital equivocada<br />

vem sendo percorrida tanto por veículos<br />

digitais que enten<strong>de</strong>ram que seu lado “veículo<br />

<strong>de</strong> comunicação” é tão relevante como<br />

seu lado digital, como por veículos tradicionais<br />

que se <strong>de</strong>ram conta que sua digitalização<br />

é inevitável.<br />

Ilusões como a comunicação por conteúdo<br />

têm sido empregadas <strong>de</strong> forma equivocada<br />

e ina<strong>de</strong>quada, na tentativa <strong>de</strong> substituir<br />

a publicida<strong>de</strong> por uma alternativa mais<br />

fácil e mais barata. As agências, por seu<br />

lado, não têm valorizado como <strong>de</strong>veriam a<br />

parceria com os veículos, em parte embarcando<br />

em fórmulas menos eficazes como<br />

o conteúdo <strong>de</strong> marca, as mídias sociais, o<br />

viral e os influenciadores - minimizando a<br />

associação virtuosa que não apenas gerou<br />

riquezas e prestígio para elas como, mais<br />

importante, resultados superiores para as<br />

marcas que aten<strong>de</strong>m.<br />

Rafael Sampaio é consultor em propaganda<br />

rafaelsampaio103@gmail.com<br />

30 5 <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark

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