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opinião<br />
Jon Tyson/Unsplash<br />
o que você faria se<br />
soubesse que viveria<br />
até os 100 anos?<br />
CandiCe Pomi<br />
Você tem se preparado para manter-se<br />
autônomo, saudável e ativo para uma<br />
vida após os 80? Afinal, até quantos anos<br />
você acha que vai viver? E <strong>de</strong> que forma você<br />
gostaria <strong>de</strong> viver todos esses anos? Essas<br />
são perguntas urgentes que <strong>de</strong>vemos nos<br />
fazer, já que a população brasileira envelhece<br />
em ritmo acelerado. Segundo o IBGE,<br />
a expectativa <strong>de</strong> vida do brasileiro hoje é <strong>de</strong><br />
76,3 anos. Em comparação com 1940, são<br />
30,8 anos a mais que se espera que a socieda<strong>de</strong><br />
do nosso país viva.<br />
O que me intriga é que não tenho visto esse<br />
tema ser abordado com a frequência e importância<br />
que <strong>de</strong>veria. Sou especialista em<br />
gerontologia e percebo que envelhecer ainda<br />
é tabu para muita gente. Muitos evitam o<br />
assunto como se fosse possível brecar a ação<br />
do tempo. O cientista e escritor<br />
Benjamin Franklin (1706-1790)<br />
tem uma frase que explica muito<br />
bem essa postura: “Todos<br />
querem viver por muito tempo,<br />
mas ninguém quer envelhecer”.<br />
Nossa cultura oci<strong>de</strong>ntal, que<br />
tem a juventu<strong>de</strong> como um valor,<br />
segue reforçando a imagem do jovem como<br />
sinônimo <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>, potência, beleza<br />
e felicida<strong>de</strong>. E se envelhecer implica em per<strong>de</strong>r<br />
todos esses adjetivos, parece compreensível<br />
que o tema esteja fora da pauta.<br />
“Há uma<br />
revolução<br />
silenciosa<br />
acontecendo”<br />
Há uma revolução silenciosa acontecendo:<br />
nossa pirâmi<strong>de</strong> etária se inverteu <strong>de</strong><br />
forma brusca, diferentemente <strong>de</strong> países,<br />
como Japão, Estados Unidos e França, que<br />
envelheceram (e enriqueceram) <strong>de</strong> forma<br />
gradual e planejada, antes <strong>de</strong> nós. No Brasil<br />
<strong>de</strong> 1950, apenas 3 milhões da população<br />
tinham 65 anos. Em 2030, um quarto dos<br />
brasileiros terá 60 anos ou mais e enquanto<br />
o envelhecer for retratado <strong>de</strong> maneira estereotipada,<br />
como um simples processo <strong>de</strong><br />
perdas, estaremos adiando esta conversa<br />
tão necessária. A invisibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste tema<br />
traz como consequência a falta <strong>de</strong> informação<br />
e preparo para a jornada do amadurecimento,<br />
que inclui planejamento financeiro,<br />
fortalecimento físico e mental, além <strong>de</strong> nutrir<br />
uma vida social que faça bem à alma.<br />
Neste contexto, a publicida<strong>de</strong> tem muito<br />
a percorrer até compreen<strong>de</strong>r os diferentes<br />
tons do envelhecimento, para então enxergar<br />
<strong>de</strong> forma empática os vários segmentos<br />
que compõe os 60+.<br />
Sim, viver até a chamada quarta ida<strong>de</strong><br />
– entre 80 e 100 anos – tem sido cada vez<br />
mais comum. Porém, aqui vai um alerta: é<br />
preciso enxergar-se no processo <strong>de</strong> envelhecimento<br />
para protagonizar sua jornada<br />
<strong>de</strong> forma ativa e consciente. Quem tem<br />
consciência <strong>de</strong> que aos 50 anos po<strong>de</strong> estar<br />
apenas na meta<strong>de</strong> da sua vida, po<strong>de</strong>rá se<br />
planejar para manter sua autonomia e a in<strong>de</strong>pendência,<br />
ou seja, garantir o seu direito<br />
<strong>de</strong> escolha, assim como a capacida<strong>de</strong> física<br />
e cognitiva <strong>de</strong> executá-lo. In<strong>de</strong>pendência<br />
é po<strong>de</strong>r, por exemplo,<br />
morar sozinho sem precisar<br />
<strong>de</strong> ninguém para cuidar <strong>de</strong><br />
você. Eu já fiz a minha escolha:<br />
no que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mim, serei<br />
consciente do meu processo e te<br />
aconselho a fazer o mesmo. Para<br />
isso, há um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio: o preconceito.<br />
Muitos não aceitam envelhecer quando, na<br />
realida<strong>de</strong>, a atitu<strong>de</strong> perante a vida é mais<br />
<strong>de</strong>terminante do que a ida<strong>de</strong> cronológica<br />
que se tem.<br />
Se já te convenci a refletir sobre longevida<strong>de</strong>,<br />
posso agora dar algumas dicas para<br />
cuidar <strong>de</strong> si <strong>de</strong> maneira saudável: comece<br />
por sentir-se orgulhoso <strong>de</strong> sua ida<strong>de</strong> e<br />
da biografia que tem construído ao longo<br />
dos anos, mantenha seu corpo em movimento<br />
e seu cérebro ativo (aprenda novas<br />
línguas, se encante por novos hobbies, explore<br />
temas <strong>de</strong>sconhecidos); cultive suas<br />
relações sociais e afetivas; encontre maneiras<br />
<strong>de</strong> conectar-se consigo mesmo. Mas,<br />
acima <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong>cida hoje mesmo como<br />
você preten<strong>de</strong> viver a sua segunda meta<strong>de</strong><br />
da vida.<br />
Candice Pomi é presi<strong>de</strong>nte do Comitê <strong>de</strong> Insights<br />
da ABA e diretora <strong>de</strong> Pesquisa <strong>de</strong> Mercado para<br />
América Latina da Kimberly-Clark<br />
candice.marques@kcc.com<br />
22 3 <strong>de</strong> <strong>fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2020</strong> - jornal propmark