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edição de 3 de fevereiro de 2020

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opinião<br />

Jon Tyson/Unsplash<br />

o que você faria se<br />

soubesse que viveria<br />

até os 100 anos?<br />

CandiCe Pomi<br />

Você tem se preparado para manter-se<br />

autônomo, saudável e ativo para uma<br />

vida após os 80? Afinal, até quantos anos<br />

você acha que vai viver? E <strong>de</strong> que forma você<br />

gostaria <strong>de</strong> viver todos esses anos? Essas<br />

são perguntas urgentes que <strong>de</strong>vemos nos<br />

fazer, já que a população brasileira envelhece<br />

em ritmo acelerado. Segundo o IBGE,<br />

a expectativa <strong>de</strong> vida do brasileiro hoje é <strong>de</strong><br />

76,3 anos. Em comparação com 1940, são<br />

30,8 anos a mais que se espera que a socieda<strong>de</strong><br />

do nosso país viva.<br />

O que me intriga é que não tenho visto esse<br />

tema ser abordado com a frequência e importância<br />

que <strong>de</strong>veria. Sou especialista em<br />

gerontologia e percebo que envelhecer ainda<br />

é tabu para muita gente. Muitos evitam o<br />

assunto como se fosse possível brecar a ação<br />

do tempo. O cientista e escritor<br />

Benjamin Franklin (1706-1790)<br />

tem uma frase que explica muito<br />

bem essa postura: “Todos<br />

querem viver por muito tempo,<br />

mas ninguém quer envelhecer”.<br />

Nossa cultura oci<strong>de</strong>ntal, que<br />

tem a juventu<strong>de</strong> como um valor,<br />

segue reforçando a imagem do jovem como<br />

sinônimo <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>, potência, beleza<br />

e felicida<strong>de</strong>. E se envelhecer implica em per<strong>de</strong>r<br />

todos esses adjetivos, parece compreensível<br />

que o tema esteja fora da pauta.<br />

“Há uma<br />

revolução<br />

silenciosa<br />

acontecendo”<br />

Há uma revolução silenciosa acontecendo:<br />

nossa pirâmi<strong>de</strong> etária se inverteu <strong>de</strong><br />

forma brusca, diferentemente <strong>de</strong> países,<br />

como Japão, Estados Unidos e França, que<br />

envelheceram (e enriqueceram) <strong>de</strong> forma<br />

gradual e planejada, antes <strong>de</strong> nós. No Brasil<br />

<strong>de</strong> 1950, apenas 3 milhões da população<br />

tinham 65 anos. Em 2030, um quarto dos<br />

brasileiros terá 60 anos ou mais e enquanto<br />

o envelhecer for retratado <strong>de</strong> maneira estereotipada,<br />

como um simples processo <strong>de</strong><br />

perdas, estaremos adiando esta conversa<br />

tão necessária. A invisibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste tema<br />

traz como consequência a falta <strong>de</strong> informação<br />

e preparo para a jornada do amadurecimento,<br />

que inclui planejamento financeiro,<br />

fortalecimento físico e mental, além <strong>de</strong> nutrir<br />

uma vida social que faça bem à alma.<br />

Neste contexto, a publicida<strong>de</strong> tem muito<br />

a percorrer até compreen<strong>de</strong>r os diferentes<br />

tons do envelhecimento, para então enxergar<br />

<strong>de</strong> forma empática os vários segmentos<br />

que compõe os 60+.<br />

Sim, viver até a chamada quarta ida<strong>de</strong><br />

– entre 80 e 100 anos – tem sido cada vez<br />

mais comum. Porém, aqui vai um alerta: é<br />

preciso enxergar-se no processo <strong>de</strong> envelhecimento<br />

para protagonizar sua jornada<br />

<strong>de</strong> forma ativa e consciente. Quem tem<br />

consciência <strong>de</strong> que aos 50 anos po<strong>de</strong> estar<br />

apenas na meta<strong>de</strong> da sua vida, po<strong>de</strong>rá se<br />

planejar para manter sua autonomia e a in<strong>de</strong>pendência,<br />

ou seja, garantir o seu direito<br />

<strong>de</strong> escolha, assim como a capacida<strong>de</strong> física<br />

e cognitiva <strong>de</strong> executá-lo. In<strong>de</strong>pendência<br />

é po<strong>de</strong>r, por exemplo,<br />

morar sozinho sem precisar<br />

<strong>de</strong> ninguém para cuidar <strong>de</strong><br />

você. Eu já fiz a minha escolha:<br />

no que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mim, serei<br />

consciente do meu processo e te<br />

aconselho a fazer o mesmo. Para<br />

isso, há um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio: o preconceito.<br />

Muitos não aceitam envelhecer quando, na<br />

realida<strong>de</strong>, a atitu<strong>de</strong> perante a vida é mais<br />

<strong>de</strong>terminante do que a ida<strong>de</strong> cronológica<br />

que se tem.<br />

Se já te convenci a refletir sobre longevida<strong>de</strong>,<br />

posso agora dar algumas dicas para<br />

cuidar <strong>de</strong> si <strong>de</strong> maneira saudável: comece<br />

por sentir-se orgulhoso <strong>de</strong> sua ida<strong>de</strong> e<br />

da biografia que tem construído ao longo<br />

dos anos, mantenha seu corpo em movimento<br />

e seu cérebro ativo (aprenda novas<br />

línguas, se encante por novos hobbies, explore<br />

temas <strong>de</strong>sconhecidos); cultive suas<br />

relações sociais e afetivas; encontre maneiras<br />

<strong>de</strong> conectar-se consigo mesmo. Mas,<br />

acima <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong>cida hoje mesmo como<br />

você preten<strong>de</strong> viver a sua segunda meta<strong>de</strong><br />

da vida.<br />

Candice Pomi é presi<strong>de</strong>nte do Comitê <strong>de</strong> Insights<br />

da ABA e diretora <strong>de</strong> Pesquisa <strong>de</strong> Mercado para<br />

América Latina da Kimberly-Clark<br />

candice.marques@kcc.com<br />

22 3 <strong>de</strong> <strong>fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2020</strong> - jornal propmark

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