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Revista Dr Plinio 263

Fevereiro de 2020

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Gesta marial de um varão católico<br />

Arquivo <strong>Revista</strong><br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> durante<br />

o período de sua<br />

convalescença<br />

contrarrevolucionária os dois enormes<br />

olhos escuros e sevilhanos que me<br />

acompanhavam a todo o momento 2 .<br />

Porque eu vejo pelas repercussões<br />

posteriores que ele, com piedade filial,<br />

prestou atenção em tudo, analisou<br />

e tirou conclusões de tudo. Nossa<br />

Senhora foi servida em que ele ficasse<br />

edificado com o que viu. Até<br />

que ponto essa edificação poderia<br />

ter concorrido para depois ele ter realizado<br />

o que fez? Em medida talvez<br />

não pequena. E se assim foi, fica inteiramente<br />

de pé que nesse momento<br />

eu estava sofrendo e ajudando a ele<br />

para trazer tantos e tantos outros.<br />

Há certas coisas de que eu tenho<br />

certeza que só se ensinam ou se sancionam<br />

pelo exemplo no momento<br />

em que a morte está próxima. É<br />

a mais augusta tabeliã que há sobre<br />

a Terra. O que se passa em presença<br />

dela raramente é a fraude, porque<br />

ela avança e desmascara tudo! É o<br />

juízo que está atrás dela; ela não faz<br />

senão servir de arauto ao juízo. E ao<br />

ouvir os passos do grande Juiz que<br />

vem, é preciso ser quase satânico para<br />

não ter medo e não pedir perdão!<br />

Tenho assistido a muitos enterros<br />

em minha vida. Como é natural, está<br />

na ordem das coisas, um bom número<br />

deles de pessoas perfeitamente<br />

insignificantes. O primeiro homem<br />

que eu vi morrer em minha vida era<br />

um coitado. Lembro-me de tê-lo visto<br />

esticado num jardim, com os braços<br />

para trás, lívido, com os olhos vidrados.<br />

Podia ser a imagem, a personificação<br />

do homem insignificante.<br />

Mas ao olhá-lo às voltas com a morte,<br />

a tragédia da vida humana aparecia<br />

e a grandeza da morte também;<br />

e por detrás disso, a grandeza<br />

d’Aquele a quem a morte prenuncia.<br />

Naquele momento pude compreender<br />

a forma de grandeza de que<br />

aquele pobre coitado era capaz, embora<br />

não a tivesse realizado. Veio-me,<br />

então, uma reflexão que nunca mais<br />

abandonei em minha vida: Se esse coitado<br />

é capaz de tanta grandeza, todo<br />

homem é grande, desde que seja fiel!<br />

A verdade é que na presença da<br />

morte as coisas tomam essas dimensões.<br />

Se houvesse em minha alma<br />

alguma superficialidade...<br />

Se ver a morte por detrás de mim<br />

pode vos ter ajudado, como dou por<br />

bem empregado, como isso me contenta,<br />

como fico alegre! Como considerar<br />

o que naquele momento se me<br />

apresentou? Imaginem que eu tivesse<br />

uma certa superficialidade de alma<br />

e nessa hora ela aparecesse. Que<br />

efeito isso causaria?<br />

O desastre ocorreu em 1975,<br />

quando eu tinha sessenta e seis anos.<br />

Com essa idade já foi para trás uma<br />

vida. Todos conhecem bem o meu<br />

passado. Posso dizer que aos olhos<br />

dos homens – não ouso dizer aos<br />

olhos de Deus – é um passado solidamente<br />

estruturado, coerente, lógico,<br />

limpo, rumando contínua e abnegadamente<br />

para um mesmo fim.<br />

Senti um frêmito quando, em mocinho,<br />

li numa das conferências da<br />

Université des Annales que Bayard, o<br />

cavaleiro do tempo de Francisco I e<br />

de Carlos V, era chamado “le chevalier<br />

sans peur et sans reproche” 3 . Volto<br />

a dizer: eu não ousaria afirmar isto<br />

de mim aos olhos de Nossa Senhora,<br />

mas aos olhos dos homens, sim. Os<br />

nossos adversários não têm coragem<br />

de negá-lo! A respeito do meu passado,<br />

os lábios deles que só destilam<br />

a calúnia ficam em silêncio. Porque<br />

se me inculpassem, eu lhes perguntaria:<br />

“Quando me viram ter peur e<br />

quando me puderam fazer um reproche?<br />

Apontem!” E por saberem que<br />

esta seria a resposta, ficam quietos.<br />

Na realidade, se houvesse em minha<br />

alma alguma superficialidade, apesar<br />

da continuidade dessa obra, ela apareceria<br />

aos olhos do filho, do amigo, do<br />

discípulo. E se aparecesse, poderia causar<br />

uma insegurança – não creio que<br />

fosse a dúvida – quiçá um empenho<br />

menor, em algo o impulso diminuiria.<br />

E decrescendo na alma dele, diminuiria<br />

em todos aqueles que deveriam estar<br />

sob sua orientação. O menor impulso<br />

equivaleria a um minguamento quantitativo<br />

e qualitativo, o que por sua vez<br />

significaria um minguamento de minha<br />

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