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obra aos olhos de Deus, dos Anjos e<br />
dos homens, uma risota da Revolução<br />
e um vexame a mais a pesar nas costas<br />
cansadas da Contra-Revolução.<br />
Eu me levantaria do desastre com<br />
a impressão de ter cumprido o meu<br />
dever, e ele sairia edificado, porque<br />
não tomaria consciência do que faltou<br />
e do que deixei entrever. Mas na<br />
hora do julgamento – e é por isso que<br />
falo da justiça de Deus e da grandeza<br />
da morte – eu seria interrogado:<br />
— Presta as tuas contas!<br />
Eu olharia para Nossa Senhora e<br />
A veria gélida. Só não me desintegraria<br />
porque o poder de Deus não<br />
me daria meios para isso. Se Nossa<br />
Senhora está fria comigo, acabou.<br />
— Por exemplo, em tal hospital…<br />
– continuaria o Divino Juiz.<br />
— Senhor, eu estava inconsciente!<br />
— Agora Eu vou te explicar. Em tal<br />
ocasião Eu te dei tal graça, depois tal<br />
outra, porque te queria de tal maneira.<br />
Queria que fosses isto. Tu respondeste<br />
e passaste por essa ocasião de modo insuficiente.<br />
Não manifestaste a tua alma<br />
como ela deveria estar. Não tinhas culpa<br />
naquela hora, tinhas culpa na causalidade.<br />
O efeito era tua culpa porque a<br />
causa era tua culpa. Estava em ti aquela<br />
graça mal correspondida. Agora presta<br />
contas! Aconteceu isto e aquilo, deixou<br />
de acontecer isto e aquilo. A culpa<br />
é tua. Em última análise, teu espírito<br />
deveria ter sido mais absoluto, mais<br />
categórico, ter sabido chegar com mais<br />
ímpeto às últimas consequências e vê-<br />
-las mais claramente. Ficaste a oitenta,<br />
a noventa por cento do caminho, a cem<br />
não chegaste, e era nos cem que Eu te<br />
esperava. Terás a minha misericórdia,<br />
mas experimentarás antes o meu desagrado.<br />
O que teria faltado? Superficialidade<br />
foi a causa. O espírito não foi a<br />
fundo, não aderiu, não se persuadiu<br />
como devia porque não prestou atenção<br />
e não se enlevou como devia.<br />
Até que ponto devemos<br />
lutar contra o relativismo?<br />
Deus continuaria:<br />
— Houve um momento primeiro<br />
em que o lumen rationis 4 acendeu em<br />
teu espírito tal conclusão que o discernimento<br />
interno dado por Mim te<br />
fez ver. Aquilo tu deverias ter amado.<br />
Porém, por causa de tal bagatela,<br />
de tal egoísmo, de tal outra tolice fizeste<br />
exatamente o contrário. Resultado:<br />
todo o ritmo ficou prejudicado.<br />
Dei-te depois outras graças, tu as recusaste<br />
de tal maneira. Aqui está a<br />
tua história. Olha para os teus passos;<br />
pode ser que ao longo do caminho<br />
até tenham saído estrelas, mas<br />
uma sombra também se projetou.<br />
Eu estou aqui para te pedir contas<br />
dessa sombra.<br />
Por que digo isto com esta ênfase?<br />
Pela saturação de ver, desde nem sei<br />
quando, espíritos superficiais pensarem<br />
que cumprindo o dever mais ou menos,<br />
às pressas, sem aprofundamento, sem<br />
adesão inteira da alma, por trivialidade,<br />
cumprem-no completamente, e julgam<br />
bastar a ação externa para que a obra<br />
esteja inteiramente boa. Pensam eles:<br />
“Se não fiz externamente tais atos, se<br />
não consenti internamente em tais coisas,<br />
estou perfeito.” Para manter o estado<br />
de graça, eu creio bem que sim. Mas<br />
basta manter o estado de graça quando<br />
se é chamado para uma vocação como<br />
a nossa? Até que ponto está firme<br />
no estado de graça uma alma que acha<br />
bastar-lhe estar em estado de graça?<br />
Eis a pergunta. Até que ponto devemos<br />
lutar contra essa fraude a nós mesmos,<br />
que é o relativismo?<br />
O que é o relativismo propriamente?<br />
Quando as graças do Batismo vão<br />
se tornando a nós conscientes e vamos<br />
vendo no ímpeto de nosso senso do ser,<br />
vamos imaginando desde logo as coisas<br />
com toda a perfeição possível – intuitivamente,<br />
mas tão verazmente – e nossa<br />
alma voa para aquilo; nós vemos coi-<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> tomando refeição em seu apartamento, em 9 de abril de 1975<br />
Arquivo <strong>Revista</strong><br />
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