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Gesta marial de um varão católico<br />
François Gérard (CC3.0)<br />
sas magníficas e nossa alma tende para<br />
o magnífico, para o grande, com todas<br />
as forças. Isso nos dá uma certeza e um<br />
contato com algo de paradisíaco, maravilhoso,<br />
verdadeiramente arrebatador.<br />
Isto está provado não apenas pela<br />
voz dos católicos, mas até dos ímpios.<br />
Poucos homens experimentaram triunfos<br />
maiores do que Napoleão. Para não<br />
falar de outra coisa, a coroação dele,<br />
quando trouxe um Papa acorrentado<br />
de Roma a Paris para coroá-lo na presença<br />
de toda a Cristandade, naquela<br />
Catedral de Notre-Dame para cuja<br />
magnificência a humanidade sacudida<br />
pela Revolução Francesa começava de<br />
novo a abrir os olhos, na presença de<br />
representantes de reis da Europa inteira,<br />
de todas as sumidades que a França<br />
tinha naquele tempo. Pois bem, ele se<br />
fez coroar naquela ocasião. Que gáudio<br />
para aquele homem vaidoso, orgulhoso<br />
Napoleão nos trajes de sua coroação<br />
Palácio de Versailles, França<br />
e vitorioso! Perguntaram uma vez para<br />
ele: “Qual foi o dia mais alegre de tua<br />
vida?” Pensavam que ele falasse do dia<br />
de Austerlitz, ou de Marengo, ou da coroação<br />
dele. Sua resposta, sem nenhuma<br />
dúvida, foi: “O dia da minha Primeira<br />
Comunhão.”<br />
O que esse homem teve no dia de<br />
sua Primeira Comunhão que deixou<br />
de lado tudo o que veio depois? Tudo<br />
aquilo que para obter ele remexeu<br />
céus e terras não era comparável à alegria<br />
que tivera por ocasião da Primeira<br />
Comunhão. Como se explica isso?<br />
Cada um de nós pode dar esse<br />
depoimento. Se não foi matematicamente<br />
no dia da Primeira Comunhão,<br />
houve, entretanto, momentos<br />
de uma alegria, de um enlevo, de um<br />
estado de alma que não se pode repetir.<br />
Na infância, quantas vezes isso<br />
se dá!<br />
Uma velha<br />
harmonia<br />
enriquecida<br />
com tonalidades<br />
marciais<br />
Para dar outro<br />
exemplo, aqui no Brasil,<br />
o nosso Casimiro<br />
de Abreu escreveu:<br />
“Oh, que saudades eu<br />
tenho da aurora de minha<br />
vida, da minha infância<br />
querida…” Era<br />
a inocência que ele tinha<br />
perdido e que cantava<br />
gemendo. Ele fugiu<br />
de dentro dela, saltou<br />
para as coisas do<br />
mundo, onde o ambiente<br />
brasileiro o glorificou,<br />
é bem verdade.<br />
Mas o que ele vendeu<br />
por isto! Que coisa<br />
horrorosa!<br />
Nós, mais ou menos,<br />
desviamos os olhos<br />
desse senso do ser que<br />
nos apresenta as verdades primevas, e<br />
com elas algo que seria como que a matriz<br />
de todas as verdades iluminadas pela<br />
Fé. Muitos de nós chegamos a pecar,<br />
às vezes até reiterada e gravemente.<br />
Entretanto, em certo momento,<br />
tivemos a impressão de que todas as<br />
alegrias da “Primeira Comunhão” se<br />
renovaram para nós, ainda mais intensas,<br />
com mais definição, com tonalidades<br />
mais ricas, porque eram<br />
elas mesmas, analisadas com as maturidades<br />
adquiridas ao longo do<br />
tempo, mas, sobretudo, porque vinham<br />
com graças muito insignes.<br />
Aparece-nos de repente e nem percebemos.<br />
Antes, porém, passamos por<br />
um processo: começamos a nos desagradar<br />
de tudo quanto o mundo oferece.<br />
O fútil, o vazio, o sórdido de tudo<br />
começa a nos saltar aos olhos. Observamos<br />
em torno de nós os amigos que parecem<br />
alegres e julgávamos que eram<br />
felizes, e damo-nos conta de que a alegria<br />
deles é nada. Eles riem, saltam,<br />
brincam, gastam, fazem-se bajular, mas<br />
não estão felizes, não há paz neles. E<br />
concluímos que isso tudo está errado<br />
e precisa ser mudado. Mais ou menos<br />
quando a alma chega a este ponto, toca<br />
no fundo do horizonte dela uma velha<br />
harmonia enriquecida com tonalidades<br />
marciais: “Como se explica que eu tenha<br />
me deixado levar por isso? Se este<br />
mundo pagão deve vir abaixo, qual é o<br />
mundo que eu quero?”<br />
Então, uma luz brilha aos nossos<br />
olhos e nos atrai. É a vocação, e com<br />
ela tudo renasce. Às vezes com embates<br />
duros. Que belas batalhas as da<br />
emenda da vida! Como elas são diferentes<br />
daquela escorregadela horrível<br />
por onde uma alma cai na impureza!<br />
Batalhas acirradas, difíceis, mas, afinal<br />
de contas, as graças vêm e a alma<br />
recupera a virtude. São novos horizontes,<br />
a pessoa se põe a combater<br />
e pensa: “Agora compreendo! Os que<br />
se entregam ao mundo pensam que<br />
a felicidade consiste em não ter desventuras<br />
nem lutas. Tontos! Nesta vida<br />
sempre as teremos. Mas há um re-<br />
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