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Revista Dr Plinio 263

Fevereiro de 2020

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Gesta marial de um varão católico<br />

François Gérard (CC3.0)<br />

sas magníficas e nossa alma tende para<br />

o magnífico, para o grande, com todas<br />

as forças. Isso nos dá uma certeza e um<br />

contato com algo de paradisíaco, maravilhoso,<br />

verdadeiramente arrebatador.<br />

Isto está provado não apenas pela<br />

voz dos católicos, mas até dos ímpios.<br />

Poucos homens experimentaram triunfos<br />

maiores do que Napoleão. Para não<br />

falar de outra coisa, a coroação dele,<br />

quando trouxe um Papa acorrentado<br />

de Roma a Paris para coroá-lo na presença<br />

de toda a Cristandade, naquela<br />

Catedral de Notre-Dame para cuja<br />

magnificência a humanidade sacudida<br />

pela Revolução Francesa começava de<br />

novo a abrir os olhos, na presença de<br />

representantes de reis da Europa inteira,<br />

de todas as sumidades que a França<br />

tinha naquele tempo. Pois bem, ele se<br />

fez coroar naquela ocasião. Que gáudio<br />

para aquele homem vaidoso, orgulhoso<br />

Napoleão nos trajes de sua coroação<br />

Palácio de Versailles, França<br />

e vitorioso! Perguntaram uma vez para<br />

ele: “Qual foi o dia mais alegre de tua<br />

vida?” Pensavam que ele falasse do dia<br />

de Austerlitz, ou de Marengo, ou da coroação<br />

dele. Sua resposta, sem nenhuma<br />

dúvida, foi: “O dia da minha Primeira<br />

Comunhão.”<br />

O que esse homem teve no dia de<br />

sua Primeira Comunhão que deixou<br />

de lado tudo o que veio depois? Tudo<br />

aquilo que para obter ele remexeu<br />

céus e terras não era comparável à alegria<br />

que tivera por ocasião da Primeira<br />

Comunhão. Como se explica isso?<br />

Cada um de nós pode dar esse<br />

depoimento. Se não foi matematicamente<br />

no dia da Primeira Comunhão,<br />

houve, entretanto, momentos<br />

de uma alegria, de um enlevo, de um<br />

estado de alma que não se pode repetir.<br />

Na infância, quantas vezes isso<br />

se dá!<br />

Uma velha<br />

harmonia<br />

enriquecida<br />

com tonalidades<br />

marciais<br />

Para dar outro<br />

exemplo, aqui no Brasil,<br />

o nosso Casimiro<br />

de Abreu escreveu:<br />

“Oh, que saudades eu<br />

tenho da aurora de minha<br />

vida, da minha infância<br />

querida…” Era<br />

a inocência que ele tinha<br />

perdido e que cantava<br />

gemendo. Ele fugiu<br />

de dentro dela, saltou<br />

para as coisas do<br />

mundo, onde o ambiente<br />

brasileiro o glorificou,<br />

é bem verdade.<br />

Mas o que ele vendeu<br />

por isto! Que coisa<br />

horrorosa!<br />

Nós, mais ou menos,<br />

desviamos os olhos<br />

desse senso do ser que<br />

nos apresenta as verdades primevas, e<br />

com elas algo que seria como que a matriz<br />

de todas as verdades iluminadas pela<br />

Fé. Muitos de nós chegamos a pecar,<br />

às vezes até reiterada e gravemente.<br />

Entretanto, em certo momento,<br />

tivemos a impressão de que todas as<br />

alegrias da “Primeira Comunhão” se<br />

renovaram para nós, ainda mais intensas,<br />

com mais definição, com tonalidades<br />

mais ricas, porque eram<br />

elas mesmas, analisadas com as maturidades<br />

adquiridas ao longo do<br />

tempo, mas, sobretudo, porque vinham<br />

com graças muito insignes.<br />

Aparece-nos de repente e nem percebemos.<br />

Antes, porém, passamos por<br />

um processo: começamos a nos desagradar<br />

de tudo quanto o mundo oferece.<br />

O fútil, o vazio, o sórdido de tudo<br />

começa a nos saltar aos olhos. Observamos<br />

em torno de nós os amigos que parecem<br />

alegres e julgávamos que eram<br />

felizes, e damo-nos conta de que a alegria<br />

deles é nada. Eles riem, saltam,<br />

brincam, gastam, fazem-se bajular, mas<br />

não estão felizes, não há paz neles. E<br />

concluímos que isso tudo está errado<br />

e precisa ser mudado. Mais ou menos<br />

quando a alma chega a este ponto, toca<br />

no fundo do horizonte dela uma velha<br />

harmonia enriquecida com tonalidades<br />

marciais: “Como se explica que eu tenha<br />

me deixado levar por isso? Se este<br />

mundo pagão deve vir abaixo, qual é o<br />

mundo que eu quero?”<br />

Então, uma luz brilha aos nossos<br />

olhos e nos atrai. É a vocação, e com<br />

ela tudo renasce. Às vezes com embates<br />

duros. Que belas batalhas as da<br />

emenda da vida! Como elas são diferentes<br />

daquela escorregadela horrível<br />

por onde uma alma cai na impureza!<br />

Batalhas acirradas, difíceis, mas, afinal<br />

de contas, as graças vêm e a alma<br />

recupera a virtude. São novos horizontes,<br />

a pessoa se põe a combater<br />

e pensa: “Agora compreendo! Os que<br />

se entregam ao mundo pensam que<br />

a felicidade consiste em não ter desventuras<br />

nem lutas. Tontos! Nesta vida<br />

sempre as teremos. Mas há um re-<br />

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