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Jan van Eyck (CC3.0)<br />
Juízo Final - Museu Metropolitano de Arte, Nova Iorque, EUA<br />
canto da alma onde paira uma felicidade,<br />
uma convicção, uma segurança,<br />
uma certeza, uma saúde que vale<br />
muito mais do que a saúde do corpo,<br />
do que o dinheiro e tudo mais. Esta<br />
eu tenho, e vou para a frente!”<br />
Composição típica<br />
de um medíocre<br />
Contudo, se no primeiro momento<br />
o homem não se enlevou como devia,<br />
mas conservou um pouco de concessão<br />
ao estado de espírito que ele<br />
tinha abandonado, aquilo vai minando-o<br />
lentamente. Em pouco tempo<br />
ele inventa uma composição: “Em linhas<br />
gerais eu cumpro meu dever,<br />
mas em tais pontos vou fazer mais<br />
ou menos. Minha consciência não fica<br />
chocada, não rompo com esse arcabouço<br />
sagrado onde me sinto realizando<br />
a vontade de Deus, mas não<br />
renuncio a umas vontadinhas que não<br />
extirpei e às quais estou apegado. Faço<br />
uma composição.”<br />
Eu tenho vontade de dizer: “É<br />
verdade. Um copo d’água com três<br />
gotas de veneno, essa é a tua composição.<br />
Medíocre! Se eu fosse comparar<br />
a tua alma a um copo que só tem<br />
veneno, mentiria. Mas mentiria ainda<br />
mais se dissesse que sua água é<br />
cristalina. Entretanto, são só três gotas<br />
que tu consentiste que se pingassem<br />
ali dentro. Ainda que fosse uma<br />
gota, aquilo já não é mais a água que<br />
imaginas. Medíocre, o veneno está<br />
em ti.”<br />
Se há venenos que fulminam,<br />
existem outros que matam aos poucos.<br />
Por exemplo, se alguém nos<br />
servisse, todos os dias, água um<br />
pouco envenenada não nos mataria<br />
imediatamente, mas vergaria a<br />
nossa saúde. Depois viria a morte.<br />
Assim também na nossa alma, as<br />
águas da mediocridade vão nos envenenando,<br />
intoxicando aos poucos.<br />
Há pessoas que perderam a memória<br />
de tudo quanto a verdadeira<br />
saúde de alma lhes dava e se julgam<br />
saudáveis, até o momento em que o<br />
Médico Divino apareça e faça seu<br />
diagnóstico...<br />
Fomos suscitados<br />
contra o relativismo<br />
Isto posto, volto à pergunta: o que<br />
é o relativismo? É a atitude de alma<br />
por onde diante daquilo de belo,<br />
bom e verdadeiro que nos falou pela<br />
Fé, pela razão, pelos sentidos da alma<br />
e, às vezes, até pelos sentidos físicos,<br />
e que pedia de nós um brado<br />
de adesão, de devotamento e dedicação,<br />
nós nos movemos um pouco,<br />
dizendo: “Talvez, é possível. Daqui<br />
a pouco eu vou. No momento, quero<br />
saber sobre esse automóvel, como<br />
deu trombada no outro, ou tal coisinha<br />
como aconteceu; desejo uma<br />
bagatela, porque quero permanecer<br />
no mundo das bagatelas, reservando<br />
para elas pelo menos uma parte de<br />
minha alma.”<br />
Esse é um pacto ilusório, uma esperança<br />
de que a graça presente em<br />
nós consinta em ficar íntegra quando<br />
deixamos entrar na alma o demônio.<br />
Seria mais ou menos como<br />
imaginar que uma casa onde more<br />
uma mãe de família pudesse ser ha-<br />
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