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Truculência e confiança<br />
na misericórdia<br />
Quantos de nós, embora tendo às<br />
vezes a alma pugnaz, decidida, combativa,<br />
possuímos algum recanto que<br />
a preguiça nos retém no chão! Para<br />
sanar esse lado de alma que é ruim,<br />
diga um Memorare: “...gemendo sob<br />
o peso de meus pecados, me prostro<br />
aos vossos pés…” Portanto, o pecador,<br />
gemendo sob o peso da sua própria<br />
preguiça, pode ajoelhar-se diante<br />
de Nossa Senhora e dizer: “Minha<br />
Mãe, eu não conseguirei nada enquanto<br />
não me ajudardes. Ajudai-<br />
-me!”<br />
O demônio gostaria de sugerir este<br />
pensamento: “Se <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> conhecesse<br />
meu estado de alma, ele<br />
me excluiria com horror. Portanto,<br />
não posso dizer isso a ele. De outro<br />
lado, não posso me corrigir porque<br />
sou mole mesmo...” Então, vergonha,<br />
má consciência, tapeação.<br />
Nada disso! Quantas vezes, ao ver<br />
alguém nessas condições, eu gostaria<br />
de dizer o contrário: “Meu filho, ânimo!<br />
Nossa Senhora é Mãe de misericórdia,<br />
Ela tem pena dos pecadores.<br />
Peça mais, porque está dito no Evangelho:<br />
para quem bater, abrir-se-á.”<br />
Logo, a quem pedir dar-se-á. Isso<br />
que diz respeito, na aplicação mais<br />
direta, às graças materiais, Nosso<br />
Senhor afirmou, sobretudo, para os<br />
dons espirituais, para situações, por<br />
exemplo, como esta.<br />
Assim, esta reunião que passeou<br />
pelos píncaros da truculência, termina<br />
num ato de confiança na misericórdia.<br />
Alguém dirá: as duas coisas não<br />
são contraditórias? Eu afirmo que<br />
não. Uma prepara a outra. Porque<br />
só pede mesmo misericórdia quem<br />
está convencido de que é devedor.<br />
Quem não reconhece o próprio estado<br />
não pede misericórdia. Procura<br />
tapear.<br />
São duas posturas diferentes:<br />
uma é a do devedor que tem uma<br />
escrituração limpa, sabe quanto deve,<br />
procura o credor e diz: “Tenha<br />
pena de mim, não tenho dinheiro<br />
para lhe pagar. Não achincalhe<br />
o meu nome e não confisque meus<br />
bens. Vou trabalhar e pretendo pagá-lo<br />
no momento oportuno. Agora,<br />
lembre-se de que hoje o necessitado<br />
sou eu, amanhã poderá ser o<br />
senhor. E o senhor quererá que tenham<br />
consigo uma misericórdia que<br />
o senhor terá se tiver comigo. Faz<br />
favor.” Outra situação é a do tapeador<br />
que falsifica contas, nega que<br />
está devendo, pede testemunhas,<br />
etc. Esse é um ladrão.<br />
A qual dos dois o credor tem mais<br />
vontade de perdoar: ao ladrão ou ao<br />
devedor probo? Evidentemente ao<br />
segundo. Assim é Nossa Senhora conosco.<br />
Ela tem mais facilidade em<br />
obter para nós o perdão quando nossa<br />
alma está limpa.<br />
— Mas, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> – objetará alguém<br />
–, além de ser mole, minha alma<br />
não é limpa.<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> em 1982<br />
— Meu filho, comece por pedir<br />
a Nossa Senhora a limpeza de alma,<br />
por onde você tenha ideia clara<br />
de seus pecados. Qualquer ponto<br />
é bom para começar desde que na<br />
outra ponta do caminho esteja Nossa<br />
Senhora.<br />
Estas são reflexões feitas à margem<br />
da minha operação. Apresento-<br />
-as com o desejo de que façam bem<br />
às suas almas.<br />
v<br />
(Extraído de conferência de<br />
6/2/1982)<br />
1) Em 3 de fevereiro de 1975, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
sofreu grave acidente de automóvel,<br />
que o obrigou a usar muletas e depois<br />
cadeira de rodas até o fim de sua<br />
vida.<br />
2) <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> se refere a seu secretário<br />
pessoal e fiel discípulo, João Scognamiglio<br />
Clá Dias, hoje Monsenhor.<br />
3) Do francês: o cavaleiro sem medo e<br />
sem reproche.<br />
4) Do latim: luz da razão.<br />
Arquivo <strong>Revista</strong><br />
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