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Revista Dr Plinio 263

Fevereiro de 2020

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Divulgação (CC3.0)<br />

— Mas eu não sei tomar uma atitude<br />

viva.<br />

— Olhe, fique bem perto deste<br />

sofá, ponha seu pé aqui, sua mão no<br />

queixo...<br />

Eu executei o que ele quis, mas<br />

pensando em outras coisas. Ele me<br />

fotografou nessa situação.<br />

No que eu pensava? Era um meio-<br />

-pensar e meio-sentir. Nessa minha<br />

idade, não podia ser uma especulação<br />

filosófica, abstrata, nem eu tinha<br />

talento para fazer isso. Era algo quase<br />

prosaico, mas assim: sempre gostei<br />

enormemente de toda espécie e grau<br />

de vento: brisa, ventinho, ventania,<br />

tufão... Lembro-me de que naquele<br />

dia soprava sobre mim uma brisa ligeiramente<br />

tendente para fresca, e<br />

eu estava vestindo uma roupa muito<br />

arejada. Sentia-me, assim, inundado<br />

pela brisa, leve, refrigerado, e a<br />

claridade do dia parecia ter uma reversibilidade<br />

com o frescor discreto<br />

da brisa. Parecia-me haver um nexo,<br />

mas não sabia qual, entre todos aqueles<br />

prazeres e um lado invisível onde<br />

havia brisas e cores absolutas, como<br />

esta Terra não tem.<br />

Naturalmente, nesta comparação<br />

entram as características minhas.<br />

Portanto, sendo eminentemente colorista,<br />

as cores, brisas e temperaturas<br />

falam-me muito.<br />

Então, por exemplo, um nácar,<br />

num dia como aquele, mais do que<br />

em outros, levava-me a ideia para<br />

um nácar perfeito, mas que me parecia<br />

ter um parentesco com uma porção<br />

de outras cores perfeitas simbolizadas<br />

pelas cores contingentes que<br />

eu via em torno de mim. Isso eu percebia<br />

vagamente, não tinha inteligência<br />

para formular, mas a minha<br />

sensibilidade era como se esse nácar<br />

perfeito fosse meio vivo, ou habitasse<br />

numa terra, fosse de uma zona<br />

onde as cores eram bem vivas. De<br />

fato, não era assim, mas uma sensação<br />

do absoluto e de Deus, e de que,<br />

com a ajuda de Nossa Senhora, eu<br />

chegaria até lá.<br />

Eu mantinha o olhar voltado para<br />

essa zona de modo permanente, mas<br />

com graus de intensidade muito desiguais.<br />

No dia dessa fotografia, não sei<br />

por que, era muito maior. Entretanto,<br />

quer nos dias maiores, quer nos menores,<br />

mais ou menos eu percebia o<br />

nexo disso com milhares de outras coisas<br />

que formavam uma transesfera 1 .<br />

A parte mais rica, produtiva<br />

e fina da inteligência<br />

de um homem<br />

Parece-me que isso tem<br />

certa relação com o discernimento<br />

dos espíritos. Quando<br />

se tem isso muito fino, percebe-se<br />

melhor nos outros qual<br />

é o estado de alma. Sobretudo,<br />

a primeira nota que se toma a respeito<br />

de alguém, e que dá a clave<br />

em função da qual essa pessoa<br />

deve ser interpretada, é ver como<br />

ela está em relação a essas<br />

riquezas de alma. Sem isso as<br />

correlações não se fazem.<br />

A meu ver, essa é a parte mais rica,<br />

mais produtiva e fina da inteligência<br />

de um homem. Não é inteligência universitária.<br />

É um pensar, sentir, querer,<br />

onde a reversibilidade entre essas três<br />

potências da alma se nota melhor.<br />

O amor a essa transesfera é o início,<br />

a orla do amor de Deus. Para esse<br />

amor, o homem se volta por interesse<br />

ou desinteresse? Esta é uma pergunta<br />

fundamentalmente mal feita, porque<br />

aí o interesse e o desinteresse se<br />

fundem num píncaro mais alto. Aí está<br />

o verdadeiro amor de Deus. Exatamente,<br />

a dissociação entre interesse e<br />

desinteresse põe-se num nível menor.<br />

Se eu tiver que renunciar a um interesse<br />

para conservar isso, eu o farei.<br />

Mas nisso há uma coisa que supera o<br />

interesse e o desinteresse. É o movimento<br />

inteiro de minha alma; por todas<br />

as razões de meu desinteresse e<br />

de meu interesse eu pendo para lá.<br />

Não sei quantos problemas há na<br />

vida espiritual em que nós passamos<br />

dez, quinze, vinte anos remexendo<br />

inutilmente; e quanto mais remexe,<br />

mais desgasta o terreno e mais o cobre<br />

com a poeira das decepções, porque<br />

a solução não está ali, mas sim<br />

no que estou dizendo. Como também<br />

problemas de desequilíbrio nervoso.<br />

Então, toma um remédio para<br />

se equilibrar. Eu até sou favorável ao<br />

remédio quando o desequilíbrio chegou<br />

a tal ponto que não tem outro jeito.<br />

Mas esta é uma contemporização<br />

necessária, não a solução. A solução<br />

é isto de que estamos tratando. Seria<br />

até a nossa resposta à Psiquiatria contemporânea.<br />

O absoluto é melhor do<br />

que a Psiquiatria. Viver para um ideal<br />

resolve problemas de nervos. v<br />

(Extraído de conferência de<br />

9/5/1984)<br />

1) Termo criado por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> para significar<br />

que, acima das realidades visíveis,<br />

existem as invisíveis. As primeiras constituem<br />

a esfera, ou seja, o universo material;<br />

e as invisíveis, a transesfera.<br />

Fotógrafo exercendo seu ofício<br />

no início do século XX<br />

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