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ABRIL 2020 - nº 263

Edição Abril, nº 263 Excepcionalmente devido à Pandemia, é distribuída apenas em formato digital.

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OPINIÃO

29

Europa: a enorme vantagem

do Sul sobre o Norte

MIGUEL SZYMANSKI

O sul da Europa cultiva o respeito pelos mais velhos de uma forma muito mais intensa do que a Mitteleuropa e o norte da Europa. Vivo

metade da minha vida na Alemanha, conheço bem a Holanda, a Dinamarca e a Áustria, e vejo isso em todos os aspectos das vidas

pública e privada.

Num país como Portugal os laços familiares - com todas as falhas e excepções - têm um peso muito maior do que na Europa mais

próspera e 'desenvolvida'. No Sul, na falta de uma rede de apoio social eficaz - mas fria e burocrática -, a mãe e o pai, os avós e os

tios, com quem convivemos muito de perto, são a verdadeira rede de apoio social.

No resto da Europa, marcada por uma visão focada no crescimento económico, na eficiência e produtividade os mais velhos são

dispensáveis na vida do dia-a-dia sem grande envolvimento emocional. Se a opção for entre a 'indústria automóvel' ou os condutores

acima dos 65, qual será dentro de três semanas a decisão da maior empresa europeia, a 'Alemanha S.A.'?

Mas não é só na Alemanha que o sistema económico e os dogmas financeiros dominam a estrutura mental e acentuam o relativismo

ético. O mesmo acontece nos círculos do poder em Portugal.

A questão não é saber onde é que já morreu mais gente, ou quem é que saiu da última crise sem ter de sacrificar o seu sistema de

saúde pública (mas impôs aos outros que desmantelassem os seus) como a Alemanha, a Áustria ou a Holanda. A questão é se estamos

dispostos a pagar o preço para impedir mais mortes. Porque é só um preço, não é um valor.

Só espero que em Portugal as pessoas se mantenham firmes. Sofreremos menos com menos viagens, menos turistas e menos centros

comerciais, menos roupas e menos carros, do que sem pais e sem avós.

O escravo forro

CARLOS MATOS GOMES

O escravo forro. A propósito das “repugnantes” declarações do ministro

das finanças holandês e do seu equivalente local, o Chega, que afinal é

holandês, como o Pingo Doce, a Galp, a Sonae e as grandes empresas

cotadas na bolsa de Lisboa.

O partido racista Chega defende a mesma política dos ministros da Holanda

e há quem apoie patrioticamente o Chega português e desanque patrioticamente

o Chega holandês!

É que, para o governo holandês, os latinos, no caso portugueses, espanhóis

e italianos são os ciganos e os imigrantes do Chega português.

Em 2017, o ministro das finanças holandês, Jeroen Dijsselbloem disse,

dirigindo-se aos países do sul, que “não se pode gastar todo o dinheiro

em mulheres e álcool e depois, pedir ajuda”. Há dias, o atual ministro das

finanças da Holanda, Wopke Hoekstra, disse, a propósito das dificuldades

de Espanha que esta “devia ser investigada por ter dito que não tinha margem

orçamental para responder à crise.”

Para os holandeses, os portugueses, os espanhóis e os italianos são como

os ciganos e os imigrantes para o partido Chega. Chupistas, malta que

gasta o que tem em mulheres e álcool, já agora música e raspadinhas, e

depois pede ajuda ao Estado.

Há uns ditos patriotas portugueses que se sentem bem com quem os trata

como subespécie humana e que, por isso, aplaudem o Chega português

e se reveem nas suas propostas de acabar com o Serviço Nacional de Saúde, a escola pública e afirmam terem orgulho em serem

portugueses, mesmo que tratados como parasitas pelos nórdicos!

É uma moral do escravo forro, que se sente superior por chicotear os seus semelhantes. São masoquistas, mas segundo as sondagens

estão a crescer como o coronavirus.

Abril 2020 | Lusitano de Zurique | WWW.CLDZ.EU

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