ABRIL 2020 - nº 263
Edição Abril, nº 263 Excepcionalmente devido à Pandemia, é distribuída apenas em formato digital.
Edição Abril, nº 263
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ENTREVISTA
37
Nuno: Sim, fui um jovem rebelde, mas criativo, gostava de estar
com os amigos, de andar pela rua, de brincar, de dar voltas
de bicicleta, era louco por jogar futebol, sempre fui traquinas,
parti várias vezes a cabeça nas minhas brincadeiras, fazia trinta
por uma linha (rs).
F: Sentes saudades desses tempos, que sentimentos de
nostalgia te trazem à memória ?
Nuno: Sinto muita nostalgia desses tempos, de ser jovem, de
não ter as responsabilidades que tenho hoje. Foi nessa altura
que a música começou a mexer comigo, o facto de estar rodeado
de instrumentos musicais, como podes ver aqui na sala,
foi o catalisador que precisei para seguir os meus sonhos.
F: Quando decidiste que os querias realizar ?
Nuno: Foi na secundária em Carcavelos, que surgiu o meu
primeiro projecto musical, chamou-se Anubis, tinha 14 anos,
antes disso já fazia alguns espectáculos nas escolas da linha
de Cascais, e desde aí nunca mais parei, recordo um concerto
para crianças de escola, em que imitei o Michael Jackson
(rs)
F: Que importância teve a tua mãe na tua evolução como
pessoa e se também te apoiou no teu percurso profissional
?
Nuno: A minha mãe foi das pessoas que mais me ajudou e
impulsionou a seguir a carreira artística, curiosamente eu entro
no mundo da música através da minha mãe. Quando eu estava
no 9º ano, ela percebeu que eu estava interessado e ligado
a área musical, eu até tinha escolhido a área de saúde, tive
também uma breve passagem por economia, mas ela colocou-me
numa escola profissional de artes no Estoril. Na altura
os professores dessa escola tinham pertencido a orquestra de
Moscovo, tinham ido tocar a Gulbenkian e acabaram por pedir
asilo politico e ficaram em Portugal. A partir daqui deu-se a
transformação total da minha vida em termos académicos e
profissionais.
F: Como surgiu esse teu amor incondicional pelo Belenenses
?
Nuno: Eu morei no bairro de Caselas, estudei na Voz do Operário,
na Ajuda, o meu avô e o meu pai, levavam-me a assistir
aos jogos no Restelo, comecei a frequentar as piscinas do
clube, com cerca de cinco anos, mas como não era do meu
agrado, mais tarde inscrevi-me no futebol.
Entrei num torneio inter-escolas pela Voz do Operário que vencemos,
o Belenenses convocou-me para os treinos de captação
e por lá fiquei a jogar futebol, dos sete aos dezassete anos
e depois ainda joguei no Estoril-Praia.
O meu amor incondicional ao Belenenses vem desde muito
cedo, onde passei toda a minha juventude ligado ao clube
desportivamente falando, acompanho a sua vida, embora a
maioria das vezes à distância, compus a marcha do ‘Belém’, o
meu pai compôs o hino, que foi gravado em Riachos no nosso
estúdio chamado ‘Quinta da voz’. É assim, sempre que posso
ajudo naquilo que me pedem.
Curiosamente eu e o meu pai cantámos no CCB no Centenário
do Clube, no grande auditório, foi dos últimos espectáculos
em que cantamos juntos e mesmo estando muito debilitado,
ele não quis deixar de estar presente. Foram momentos que
nunca irei esquecer.
F: Fotografei o teu pai no Restelo aquando da festa de subida
de divisão em 2013, em que também estiveste presente,
e novamente em 2019 na gala do Centenário. Mesmo
debilitado o teu pai fez questão de estar no CCB. Diz-me o
que representava para ele o Clube e ser Belenenses, costumavam
falar acerca disso ?
Nuno: O meu pai, levado pelo meu avô começou a frequentar
o Restelo, naqueles gloriosos anos, em que o Belenenses
lutava por títulos nacionais e enchia o estádio. Mas para além
disso havia outros factores que faziam com que o meu pai levasse
o Belenenses no coração.
O Belenenses está ligado a portugalidade, ao expansionismo,
a Cruz de Cristo representa a fé e era a Cruz que ondulava nas
velas dos navegadores, ver o Tejo das bancadas, era um simbolismo
muito forte.
O Belenenses representa desportivamente toda a glória de um
país nas suas formas de arte, de cultura e dos descobrimentos,
como o meu pai foi muito ligado às questões do mar e do
rio Tejo, compôs muito sobre isso, viu talvez no Belenenses
uma fonte de inspiração musical paralelamente ao aspecto
desportivo.
É um amor que tem passado gerações.
F: Como foi crescer ao lado de um pai que era uma figura
pública muito querida, um homem da arte e da cultura.
Sentias-te orgulhoso ? Ele era muito exigente contigo ?
Que conselhos te dava ?
Nuno: Crescer ao lado de uma figura pública é realmente diferente
do normal, tive que ter mais cuidado no que dizia e fazia
para que isso não me pudesse prejudicar a mim e beliscar a
carreira do meu pai.
Ele nem sempre estava presente, por vezes ausentava-se em
tourné, mas quando comecei a poder ir com ele, muita coisa
mudou, ajudou-me a conhecer o mundo do espectáculo, os
bastidores, os camarins e comecei logo a ver como as coisas
se processavam. Toda aquela paixão do meu pai pelo palco,
a envolvência com o público marcou-me profundamente. Ser
filho de uma figura conhecida da arte e da cultura, é como tudo
na vida, tem coisas boas e más mas no geral ajudou-me muito
a crescer como pessoa e músico, o que foi positivo.
F: Orgulhoso do teu pai…
Nuno: Sempre tive orgulho no meu pai pelo seu trajecto, embora
por vezes tivéssemos discordado em algumas ocasiões,
pois éramos diferentes na nossa maneira de pensar e de agir,
mas sempre me aconselhou de forma a que eu tivesse os pés
bem assentes na terra em relação à minha carreira, para não
pensar que era um mar-de-rosas, que no mundo da música
era muito dificil singrar, mas eu estava decidido e quis segui-lo.
F: Estavas decidido, era o mundo que querias abraçar. De
que forma o teu pai te ajudou ?
Nuno: Ajudou-me muito na minha carreira antes, depois e durante,
era jovem e levou-me em tourné com ele durante 3 anos,
aí pude aprender e experimentar vários instrumentos musicais,
aliás foi o lançamento para largos anos de parceria. Foi quando
comecei a tocar percursões, cavaquinhos, pianos, guitarra,
fiz vozes, tudo sob orientação do meu maestro, mentor e ídolo.
F: Quando começaste a compor as tuas próprias músicas
?
Nuno: Desde muito novo que comecei a compor e a tocar piano
nos seus temas, fizemos algumas canções em parceria,
umas vezes fazia a música e ele o poema e vice versa, partilhamos
sempre a paixão por criar, eramos ambos cantautores.
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