ABRIL 2020 - nº 263
Edição Abril, nº 263 Excepcionalmente devido à Pandemia, é distribuída apenas em formato digital.
Edição Abril, nº 263
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ÓBITO
UM GÉNIO QUE PARTIU
LUÍS BEJA
A cultura portuguesa ficou muito mais pobre, com
a partida de Pedro Barroso, cantautor e músico que
nunca baixou os braços na luta pela liberdade. Vítima
de doença prolongada e com apenas 69 anos,
deixou-nos no passado dia 16 de Março.
Em Dezembro de 1969, aos 19 anos, estreia-se no saudoso programa
televisivo “Zip Zip”, apresentado por Raul Solnado, Fialho
Gouveia e Carlos Cruz.
Grava o seu primeiro EP, “Trova-dor”, com a mesma etiqueta (Zip
Zip), editado no ano seguinte.
Com uma longa carreira, o músico viu letras serem cortadas,
canções proibidas, discos apreendidos pela censura, mas fazia
ouvir a sua mensagem de liberdade através da intensidade e da
beleza da sua música. Percorreu Portugal de lés-a-lés e actuou
nos mais diversos palcos no estrangeiro.
Particularmente a partir de 2014, na sequência de graves problemas
de saúde, retira-se temporariamente: por diversas vezes
hospitalizado, esteve sem andar, em coma, foi operado, fez tratamentos
de quimioterapia - sem nunca se dar por vencido.
Quando chegou a bonança, Pedro Barroso voltou à sua música
e aos discos. O seu novo trabalho ficou concluído em Novembro
– mês do seu nascimento – altura em que se previa ser lançado,
mas viria a ser adiado com a morte de Patxi Andión, artista espanhol
com quem o músico português tinha gravado um dueto.
Exactamente 50 anos após a sua estreia, como forma de celebrar
cinco décadas de música e em jeito de despedida do público,
apesar de já fisicamente debilitado, deu o seu último concerto em
Dezembro de 2019 no Teatro Virgínia em Torres Novas, terra natal
do seu pai e que adoptou como sua.
Concerto emocionante e memorável para todos aqueles que se
despedem através da música, todos unidos pela liberdade e amizade,
foi o adeus aos palcos deste “monstro” da música e da
cultura portuguesa.
Conheci o Pedro Barroso pessoalmente numa festa na Volkshaus
em Zurique, por ocasião das comemorações do 25 de Abril, organizada
pela APZ (Associação Portuguesa de Zurique) já lá vão
muitos anos. Trocámos galhardetes de amizade, admiro a sua
obra de rara beleza, que acompanhei sempre à distância.
Pedro Barroso: um génio - como compositor, trovador, músico
popular, de intervenção, intérprete de canções com recital dos
poemas que escreveu, pintor e artista plástico amador, sob o
nome de Pedro Chora.
Pedro Barroso, um “alfacinha de gema”, lutador, frontal, poeta da
palavra. Lisboa o viu nascer, Lisboa o viu partir, mas não morrerá
– ele continuará a viver através do legado da sua obra.
“Viva quem canta/Que quem canta é quem diz/
Quem diz o que vai no peito/No peito vai-me um país”!
Paz à sua alma.
Abril 2020 | Lusitano de Zurique | WWW.CLDZ.EU