29.03.2020 Views

ABRIL 2020 - nº 263

Edição Abril, nº 263 Excepcionalmente devido à Pandemia, é distribuída apenas em formato digital.

Edição Abril, nº 263
Excepcionalmente devido à Pandemia, é distribuída apenas em formato digital.

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

32

ÓBITO

UM GÉNIO QUE PARTIU

LUÍS BEJA

A cultura portuguesa ficou muito mais pobre, com

a partida de Pedro Barroso, cantautor e músico que

nunca baixou os braços na luta pela liberdade. Vítima

de doença prolongada e com apenas 69 anos,

deixou-nos no passado dia 16 de Março.

Em Dezembro de 1969, aos 19 anos, estreia-se no saudoso programa

televisivo “Zip Zip”, apresentado por Raul Solnado, Fialho

Gouveia e Carlos Cruz.

Grava o seu primeiro EP, “Trova-dor”, com a mesma etiqueta (Zip

Zip), editado no ano seguinte.

Com uma longa carreira, o músico viu letras serem cortadas,

canções proibidas, discos apreendidos pela censura, mas fazia

ouvir a sua mensagem de liberdade através da intensidade e da

beleza da sua música. Percorreu Portugal de lés-a-lés e actuou

nos mais diversos palcos no estrangeiro.

Particularmente a partir de 2014, na sequência de graves problemas

de saúde, retira-se temporariamente: por diversas vezes

hospitalizado, esteve sem andar, em coma, foi operado, fez tratamentos

de quimioterapia - sem nunca se dar por vencido.

Quando chegou a bonança, Pedro Barroso voltou à sua música

e aos discos. O seu novo trabalho ficou concluído em Novembro

– mês do seu nascimento – altura em que se previa ser lançado,

mas viria a ser adiado com a morte de Patxi Andión, artista espanhol

com quem o músico português tinha gravado um dueto.

Exactamente 50 anos após a sua estreia, como forma de celebrar

cinco décadas de música e em jeito de despedida do público,

apesar de já fisicamente debilitado, deu o seu último concerto em

Dezembro de 2019 no Teatro Virgínia em Torres Novas, terra natal

do seu pai e que adoptou como sua.

Concerto emocionante e memorável para todos aqueles que se

despedem através da música, todos unidos pela liberdade e amizade,

foi o adeus aos palcos deste “monstro” da música e da

cultura portuguesa.

Conheci o Pedro Barroso pessoalmente numa festa na Volkshaus

em Zurique, por ocasião das comemorações do 25 de Abril, organizada

pela APZ (Associação Portuguesa de Zurique) já lá vão

muitos anos. Trocámos galhardetes de amizade, admiro a sua

obra de rara beleza, que acompanhei sempre à distância.

Pedro Barroso: um génio - como compositor, trovador, músico

popular, de intervenção, intérprete de canções com recital dos

poemas que escreveu, pintor e artista plástico amador, sob o

nome de Pedro Chora.

Pedro Barroso, um “alfacinha de gema”, lutador, frontal, poeta da

palavra. Lisboa o viu nascer, Lisboa o viu partir, mas não morrerá

– ele continuará a viver através do legado da sua obra.

“Viva quem canta/Que quem canta é quem diz/

Quem diz o que vai no peito/No peito vai-me um país”!

Paz à sua alma.

Abril 2020 | Lusitano de Zurique | WWW.CLDZ.EU

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!