Waries Diriehttp://warisdirie.wordpress.com/
Uma FlorDesabrochano DesertoARTIGOpor Sandra MachadoDoutora em História pela Universidadede Brasília (UnB), Mestra em Cinema eVídeo pela School of Communication,The American University, e Bacharel emComunicação Social, com habilitação emJornalismo, pela Universidade de Brasília.É também professora, repórter e editoraem veículos da mídia nacional. Sua tesede doutorado está sendo editada pelaFrancis & Verbena Editora, com o lançamentoda publicação em livro intituladoCâmera Clara - Tela Obscura: EstereótiposFemininos e Questões de Gênero nos Cinemas,previsto para o 1ª semestre de2012. O livro analisa características marcantesnas produções audiovisuais eurocêntricas,hegemônicas e dominantes nopanorama mundial, que instigam e perpetuama anulação e a negação do femininoe a formação dos estereótipos degênero que permeiam as diversas culturase sociedades globais.O filme Desert Flower (Flor do Deserto– 2009), que estreou na Alemanha,Reino Unido e Áustria em 2009, e noBrasil em 2010, poderia muito bemser um desses muitos contos de fadasmodernos, fantasiados nas produçõesaudiovisuais feitas para as grandes bilheteriasinternacionais, e que visamtambém a distribuição para as redes detelevisão. O enredo narra a saga inacreditável,e improvável, de uma menina“sobrevivente”, filha de uma famílianômade do deserto da Somália, queaos 13 anos decide dar um basta efoge da vida miserável.A criança atravessa o deserto sozinha,chega à capital Mogadíscio e delá parte para Londres, no Reino Unido,de onde o destino a transportará paraas principais passarelas do mundo. Denômade do deserto de um país pobre –e entre os 10 mais corruptos –, transforma-seem top model – uma supermodeloexótica para os padrões internacionaisda moda nos anos 1980. Ahistória é bem real e os laços com oscontos infantis são tão superficiaisquanto o são a fragilidade e a efemeridadedas passarelas. E param por aí.Na verdade, o filme é sobre a decisãoda modelo em interromper sua carreira,no auge da fama e dos convites pelasmelhores casas de alta costura, e anunciarao mundo ter sido vítima de umadas maiores atrocidades que se podecometer contra as mulheres – no caso,meninas entre os três e até os oito oudez anos de idade – entre tantas outrasmais debatidas nas sociedades contemporâneas:a Mutilação Genital Feminina(FGM, na sigla em inglês). O filme épermeado pela necessidade visceral damulher em denunciar o que consideraum crime.O roteiro é baseado no livro homônimo,escrito em 1998, pela própriamodelo Waris Dirie (em somali, o nomesignifica flor do deserto), hoje com 47anos, também autora de Desert Dawn(2002), Desert Children (2005), eLetter to My Mother (2007). A topmodel etíope Liya Kebede interpreta opapel de Dirie no filme, que é dirigidopela norte-americana residente na Alemanha,Sherry Hormann, e coescritopor ela e pela argumentista angloindianaSmita Bhide.Ao considerarmos os interlaços comoutras violências impingidas às mulheres(e/ou às crianças), essas que estão inscritassob a égide de “tradições culturaise religiosas”, mas igualmente ou atéRevista Elas por Elas - março 2012 59